Por que os pediatras não fazem parte das equipes de Estratégia de Saúde da Família (ESF)? A resposta deve ser dada pelos governos, mas as consequências dessa ausência são sentidas pelas crianças brasileiras, como foi mostrado na mesa redonda “Integração do pediatra na atenção primária à saúde”, última atividade do V Fórum Virtual de Pediatria do CFM, realizado no dia 15 de agosto.
O V Fórum Virtual de Pediatria do CFM foi transmitido pelo canal do CFM no YouTube e a mesa redonda pode ser assistido AQUI.
Em sua apresentação, o pediatra intensivista e conselheiro do Conselho Regional de Medicina de Minas Gerais (CRM-MG), Fábio Guerra, argumentou que, não por acaso, o afastamento do pediatra da atenção primária coincidiu com uma queda na cobertura vacinal, com um aumento de obesidade na adolescência e a diagnósticos tardios de algumas doenças.
“Quando defendemos que o pediatra faça parte das equipes de Saúde da Família é para somarmos com as outras especialidades. Não é para substituir. Mas é preciso que as autoridades governamentais entendam que as crianças e adolescentes precisam de cuidados especializados. Fazemos três anos de residência em pediatria justamente para atendermos bem esta faixa etária”, argumentou Fábio Guerra.
O diretor de ensino do Hospital Pediátrico Pequeno Príncipe, em Curitiba, Donizetti Dimer Giamberardino, contou como, em 2000, ele, como dirigente da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), denunciou a falta de pediatras nos projetos que dariam origem ao programa de Estratégia de Saúde da Família (ESF). “Infelizmente, não conseguimos mudar a situação”, lamentou.
Ele observou que o governo argumenta que o pediatra não faz parte das equipes de ESF porque é uma especialidade, “mas agora, fomos excluídos do Mais Especialistas”, argumentou. Outra questão apontada por ele é que os municípios não recebem ajuda do governo federal para contratarem pediatras. “Mas financia a contratação de outros profissionais para trabalharem na atenção primária”, constatou.
Durante a realização do debate, os participantes foram unânimes em afirmar que é inequívoca a necessidade de que o pediatra faça parte da equipe de ESF e de que sejam oferecidos contratos com vínculo empregatício, não-precarizado. “Temos pediatras, mas é preciso que sejam dadas condições de trabalho para que eles façam o seu melhor para as crianças brasileiras”, argumentou Donizetti Giamberardino.
Ao final da mesa redonda, o coordenador da Câmara Técnica de Pediatria do CFM, conselheiro federal Eduardo Jorge, elogiou a qualidade das palestras e adiantou que deverá ser realizado outro Fórum em maio do próximo ano. “Debatemos aqui questões muito complexas, mas sempre numa perspectiva propositiva. Tenho certeza que todos saímos renovados e dispostos a lutar por uma pediatria de qualidade”, afirmou.
A mesa redonda foi presidida pelo membro da Câmara Técnica de Pediatria do CFM Fernando de Velasco Lino e secretariada pela também membro da Câmara Técnica de Pediatria do CFM Marise Pereira da Silva.