A experiência de Taiwan no controle da miopia em crianças foi apresentada pelo oftalmologista Celso Cunha no painel “Compromissos e implementação”, que encerrou o II Fórum da Câmara Técnica de Oftalmologia do CFM. Lançado em 2010, o projeto previa duas horas de atividades ao ar livre nas escolas públicas primárias, o que resultou em uma redução de 46% nos casos de miopia nas crianças de até 12 anos. “Isso mostra que o tempo de tela está diretamente associado ao aumento da miopia entre crianças, mas para que a política funcione, deve haver obrigatoriedade de atividades externas, não pode ser recomendação”, defendeu o oftalmologista, que faz parte da comissão científica da Academia Brasileira de Controle da Miopia e Ortoceratologia (Abracmo).
Experiência internacional – Responsável por falar no painel “Casos Internacionais: modelos de sucesso”, Cunha também falou sobre a experiência na China. Lá, o governo orientou que as crianças realizassem mais atividades externas e desligava automaticamente os aparelhos usados pelos estudantes nas atividades on-line realizadas em casa. “Os resultados positivos foram menores do que em Taiwan, mas foi possível detectar alguma melhora no nível de miopia entre as crianças”, afirmou.
Cunha acredita que no Brasil medida semelhante deveria ser estabelecida por lei específica. “Se na China a orientação não funcionou, aqui ela também não funcionaria”, argumentou. O painel foi coordenado pelo membro da Câmara Técnica de Oftalmologia do CFM, Rochelle Pagani, que defendeu uma maior participação dos oftalmologistas nas instâncias de defesa da medicina. “Temos de doar nosso tempo, participante do CFM e dos CRMs, das sociedades de especialidade, de eventos como este”, argumentou.
O painel foi seguido pela Roda de Conversa “Implementação Nacional”, que contou com a participação da presidente da Abracmo, Tania Schaefer; da presidente da Sociedade Brasileira de Oftalmologia Pediátrica (SBOP), Christiane Rolim e da presidente do Conselho Brasileiro do Oftalmologia (CBO), Wilma Lellis.
Acesso a consultas e exames – Para Wilma Lellis, o grande problema é a dificuldade para melhorar o acesso às consultas e exames oftalmológicos no Sistema Único de Saúde (SUS). “Existe uma questão estrutural, pois o que é planejado pelo Ministério da Saúde não chega às pessoas”, constatou. Para Christiane Rolim, a miopia, apesar de cada vez mais prevalente entre crianças, não é uma epidemia, “mas devemos nos manter atentos, orientando pela redução do tempo de tela e lutando por um maior acesso a consultas e exames”, afirmou. A universalização do acesso também foi defendida por Tania Schaerfer. “Este Fórum foi necessário para que reafirmarmos nossa posição de acesso universal a consultas médicas para todos, crianças e adultos”, reforçou.
A roda de conversa foi coordenada pelo oftalmologista e membro da Câmara Técnica de Oftalmologia Mauro Goldbaun, que fez um resumo das discussões realizadas no II Fórum da Câmara Técnica de Oftalmologia do CFM. “As nossas discussões podem ser resumidas em das vertentes: como melhorar o acesso e o atendimento no Sistema Único de Saúde (SUS) e como controlar a miopia. Sobre este ponto, ainda há dissenso sobre quais seriam as melhores estratégias para combater o aumento crescente de míopes na nossa sociedade”, resumiu.
Ao final do Fórum, o coordenador da Câmara Técnica, Cleiton Bachi elogiou a qualidade das palestras e colocou o CFM à disposição de ações que visem melhorar a saúde ocular da população brasileira. “É uma alegria coordenar um evento onde aprendemos muito e onde pudemos debater soluções no campo da oftalmologia. O CFM existe não apenas para punir os médicos que ferem a ética médica, mas também para apresentar soluções técnicas”, afirmou.
