A condução do paciente no ambiente hospitalar foi o foco de mesa-redonda realizada nesta sexta-feira (10) durante o VII Fórum de Cirurgia Geral do Conselho Federal de Medicina (CFM), em Brasília. Com o tema central “O trauma em foco”, o debate foi presidido por Nailton Jorge Ferreira Lyra e teve como moderadora Jacqueline Jessica de Marchi, ambos membros da Câmara Técnica de Cirurgia Geral da entidade. O debate reuniu especialistas para discutir estratégias de organização dos serviços, avanços tecnológicos e desafios na formação profissional, com o objetivo de aprimorar a qualidade do atendimento aos pacientes vítimas de trauma.

Abrindo as apresentações, o cirurgião de trauma Rodrigo Caselli ressaltou a importância de se fortalecer os centros de trauma no país. Segundo o palestrante, o Brasil registra cerca de 400 mortes por trauma por dia e, apesar de existir legislação e financiamento para organizar a linha de cuidado, os resultados ainda são limitados. “O problema está dentro do hospital: não conseguimos mudar o destino final desses pacientes”, afirmou. Caselli destacou que hospitais com equipes especializadas apresentam menores taxas de mortalidade e tempo de internação, e defendeu a atuação de cirurgiões qualificados em todas as etapas do cuidado, com papel de liderança dentro dos serviços para garantir melhores resultados clínicos.

Em seguida, o professor Gustavo Pereira Fraga, chefe da disciplina de cirurgia do trauma da Unicamp, citou avanços tecnológicos que vêm impactando os serviços de saúde na atualidade, como a inteligência artificial aplicada a diagnósticos e tratamentos, cirurgia robótica, dispositivos vestíveis para monitoramento contínuo e impressão 3D para órgãos e tecidos. Ele alertou, no entanto, para a necessidade de contextualizar essas inovações com base científica e de investir na formação das novas gerações. “O que vai salvar mais vidas não é o robô, é a organização de um sistema de trauma eficiente, feito por pessoas capacitadas”, enfatizou.

Encerrando a mesa-redonda, Thadeu Silva de Moura, médico da Fundação Hospital Estadual do Acre, destacou os desafios da capacitação profissional para o atendimento ao trauma. Ele destacou que, com frequência, médicos jovens e com pouca experiência são os primeiros a atender pacientes traumatizados, o que evidencia a importância de se aprimorar a formação nesta área. O palestrante defendeu o fortalecimento da residência em cirurgia geral, com maior ênfase no trauma, além da criação de incentivos que estimulem a adesão à especialidade. Segundo destacou, atualmente o Brasil apresenta 591 médicos certificados na área, e apenas 13 das 69 vagas de residência estão ocupadas. “A graduação não é suficiente para preparar o médico para esse tipo de atendimento. Precisamos aprimorar currículos, ampliar campos de prática e valorizar a formação especializada”, concluiu.