
Debate: CFM realiza V Encontro Luso-Brasileiro e II Encontro Ibero-Americano de Bioética, em Brasília
O Conselho Federal de Medicina (CFM) sediou, em junho, um debate sobre riscos, benefícios e desafios éticos e bioéticos frente ao avanço das ferramentas de inteligência artificial (IA). Foi durante o V Encontro Luso-Brasileiro de Bioética e o II Encontro Ibero-Americano de Bioética, realizados em Brasília (DF).
“Não há dúvida de que toda tecnologia pode trazer prosperidade e ganhos para a sociedade. Enquanto humanidade, devemos estar atentos para não impactar em mais desigualdade ou injustiça social”, afirmou José Hiran Gallo, presidente do CFM, na mesa de abertura dos encontros.
Professor catedrático da Universidade do Porto, o médico Rui Nunes chamou atenção para a black box da IA na exposição Desafios da bioética frente a inteligência artificial. Segundo ele, trata-se de uma “caixa-preta que faz conexões independentes trazendo, para a medicina, questões bioéticas importantes. A IA responde a praticamente todas as questões técnicas e científicas, exigindo, por exemplo, dos avaliadores adaptações na verificação de aprendizagem”.
Ética – Para Nunes, no futuro, toda informação convergirá em uma unidade acessível no mundo inteiro, e, em matéria de saúde pública e coletiva, esse cenário poderá trazer problemas éticos profundos, pois, caso essa tecnologia não seja devidamente implementada, aprofundará diferenças dentro de um mesmo povo e entre os povos. “A privacidade individual também ficará absolutamente vulnerável, e, nesse caminho, está o prontuário médico”, afirma Nunes, chamando atenção para a importância da regulação no setor.
O professor Jorge Artur Peçanha, de Alagoas, alertou que a estrutura matemática da IA é bem feita e que a ferramenta evolui através do reforço humano. “Por isso, lá também há machismo, sexismo, preconceitos e fake news. Para determinadas ferramentas, a medicina é uma profissão de homens, pois, nelas as mulheres não estão normatizadas em padrões reconhecidos como adequados”, alertou.
Pontuando que IA é um modelo de negócio, o professor destacou que “o algoritmo foi feito para gerar lucro e, para isso, precisa da ação humana. O que a ferramenta produz é resultado dos comportamentos e, se há algum demônio nisso, somos nós, que precisamos evoluir”.