

A programação do segundo dia do I Fórum do CFM e Escolas Médicas aprofundou o debate sobre a formação médica e trouxe momentos de interação com o público presente no plenário do Conselho Federal de Medicina (CFM), em Brasília, nesta quarta-feira (19), com transmissão ao vivo pelo YouTube. Sob o tema “O Futuro da Medicina Começa no Ensino: Qualidade e Segurança como Missão do CFM. Um Momento de Construção e Diálogo”, refletiu-se sobre a avaliação na residência médica e sobre as responsabilidades éticas do professor de medicina.
Na exposição “A avaliação de desempenho clínico na Residência Médica e a interface com CFM e AMB”, o conselheiro federal Eduardo Jorge da Fonseca Lima destacou que avaliar o residente não é apenas atribuir notas, mas garantir que ele, ao final do programa, esteja realmente apto a atuar como especialista com segurança para o paciente.
Fonseca lembrou que a Residência Médica deve assegurar a aquisição progressiva de responsabilidades e competências, alinhadas às diretrizes do Ministério da Educação (MEC) e das entidades médicas. Ele ressaltou que a avaliação precisa ser formativa, diversificada e frequente, contemplando cognição e comportamento, com múltiplos avaliadores, diferentes cenários (ambulatório, enfermaria, UTI, centro cirúrgico) e feedback estruturado.
Entre os pontos de reflexão apresentados, Fonseca Lima destacou a urgência de capacitar preceptores para avaliação; o risco de se priorizar apenas métodos em vez de conceitos e competências; a importância de concentrar esforços nas EPAs (atividades profissionais confiáveis); e a necessidade de garantir que a avaliação seja autêntica, prática e vinculada à realidade do cuidado ao paciente.
Ética médica – Na sequência, a programação trouxe a palestra interativa “Interfaces éticas e regulatórias entre o professor de medicina e o ato médico. O Ato Médico do professor tem peculiaridades?”, conduzida pelo médico Hélio Angotti Neto, membro da Comissão de Ensino Médico do CFM, sob a presidência de mesa do conselheiro federal Alceu José Peixoto Pimentel.
Logo no início, Angotti contextualizou o desafio atual: expansão de escolas médicas, massificação do ensino, carência de docentes e preceptores qualificados e risco de perda da identidade profissional do médico. Nesse cenário, afirmou, “ser médico é ser exemplo; ser professor é ser exemplo exposto”, com responsabilidade ampliada perante alunos, pacientes e a sociedade.
O conferencista defendeu que dar aula de medicina é, em si, um ato médico, com fundamentos éticos e históricos que remontam ao juramento de Hipócrates, no qual o compromisso de ensinar está ligado à observância da lei. A partir de referenciais internacionais, apresentou um conjunto de competências docentes que vão desde planejar atividades de ensino, aplicar métodos de aprendizagem ativa e avaliar estudantes, até exercer liderança educacional, produzir pesquisa em educação médica e disseminar boas práticas pedagógicas.
Angotti também analisou o que o Código de Ética Médica estabelece para o médico que atua como professor ou preceptor. Reforçou que o paciente é o ator principal em qualquer cenário de ensino, devendo ter sua dignidade, privacidade e autonomia respeitadas, inclusive no contexto de estágios e atividades práticas com estudantes. “Se for preciso escolher entre o conforto do professor, a prática do aluno e o bem do paciente, o bem do paciente deve sempre vir em primeiro lugar”, pontuou.
Entre outros pontos, foi enfatizada a necessidade de não anonimato na formação médica: campos de estágio, professores e preceptores precisam ser conhecidos, cadastrados e responsabilizados, já que a educação médica é questão de segurança pública e estratégica para o país.
Como parte da proposta interativa, o conferencista apresentou um QR Code para que os participantes enviassem contribuições sobre competências, atribuições e responsabilidades de professores e preceptores. As sugestões serão encaminhadas à Comissão de Ensino Médico do CFM, com a perspectiva de subsidiar futuras ações da autarquia, reforçando sua autoridade, deveres e responsabilidades no âmbito da formação.