A qualificação do médico emergencista foi o tema da terceira mesa do IV Fórum de Medicina de Emergência, realizado nesta quarta-feira (17), na sede do Conselho Federal de Medicina (CFM). A mesa debateu as habilidades do especialista, a educação continuada e novas ferramentas usadas nas salas de emergência, além de abordar a necessidade de instituição de um exame de proficiência para garantir a boa formação médica.
O IV Fórum de Medicina de Emergência já está disponível na página do CFM no YouTube e pode ser visto AQUI.

A primeira palestrante foi a presidente da Associação Brasileira de Medicina de Emergência do Rio Grande do Sul (Abramed-RS) e coordenadora da Residência Médica da especialidade do Hospital de Pronto Socorro (HPS) de Porto Alegre, Ana Paula da Rocha Freitas, que falou sobre o tema “Medicina de Emergência: entendendo as habilidades do emergencista”.
“O médico emergencista estuda todas as patologias que colocam em risco a vida do paciente que está em risco, seja físico ou mental. Ele faz a avaliação e o manejo rápido de pacientes indiferenciados, sob pressão de tempo, com foco na estabilização inicial e priorização de intervenções críticas” explicou Ana Paula, que listou as habilidades esperadas de um médico emergencista.
Ela explicou que a formação do especialista requer que ele aprenda uma semiologia específica sobre as necessidades dos pacientes, saiba priorizar, tenha liderança sobre a equipe, tenha uma comunicação efetiva, tome decisões rápidas com poucas informações, seja multitarefa e faça a gestão de recursos escassos. “Para ser emergencista, o médico precisa mudar o seu mindset, pois ele se predispõe a atender em um lugar onde não sabe qual paciente vai encontrar. É muito diferente do que acontece nas outras especialidades”, argumentou.

Na palestra seguinte, o professor da disciplina de Medicina de Emergência da Universidade Federal do Piauí (UFPI) Victor Paro da Cunha, falou sobre a educação continuada além da residência médica. “É bom deixar claro que o médico deve ser bem formado desde a graduação. A residência é o nosso padrão ouro para a formação do especialista e a educação continuada é complementar”, ressaltou.
O professor da UFPI enfatizou, que hoje “sabemos mais sobre os pacientes graves do que na década de 70” e que os especialistas devem procurar sempre se atualizar, principalmente nas áreas de atuação reconhecidas pela Abramed. Enfatizou, no entanto, que a medicina de emergência deve ser dada por especialistas. “Somos uma ciência própria e única, com objeto de estudo específico. Não precisamos estudar sobre infarto em livros de cardiologia, mas de medicina de emergência. As abordagens são diferentes”, enfatizou.

Exame proficiência – O coordenador da Câmara Técnica de Medicina de Emergência e 2º secretário do CFM, Estevam Rivello, falou sobre a importância do exame de proficiência (Profimed). “O ideal seria que todos os médicos atuantes nas urgências e emergências fossem especialistas, mas não é o que acontece. Por isso, precisamos garantir que os médicos recém-formados comprovem suas habilidades e competências”, argumentou.
Ele mostrou o quanto o número de faculdades de medicina cresceu nos últimos anos “hoje de manhã eram 436” e da falta de estrutura nessas escolas “73% dos municípios que sediam escolas médicas não têm infraestrutura adequada e 92% deles oferecem internato nas urgências e emergências, sem hospitais”. Disse, também, que o último Enamed mostrou que, naquela edição, 8.700 médicos foram formados em escolas com pontuação 1 e 2, considerada insuficiente.
“Por isso precisamos aprovar o Profimed, que tem a aprovação dos médicos e da população brasileiro, como mostram pesquisas realizada pelo CFM e pelo Instituto Datafolha”, defendeu. Ele explicou como está a tramitação dos projetos de criação do exame no Senado Federal e na Câmara dos Deputados e as ações do CFM para que ele seja aprovado. “Hoje o projeto de lei 2.294/24, de autoria do senador Astronauta Marcos Pontes (PL/SP), ia passar em segunda votação na Comissão de Assuntos Sociais (CAS) do Senado, mas o governo apresentou um parecer contrário ao do senador Hiran Gonçalves e a votação foi adiada para o próximo anos. Vamos começar 2026 trabalhando pela aprovação do projeto, pelo bem da população”, afirmou.

A última conferência da mesa foi do coordenador da Residência Médica de Medicina e Emergência da Faculdade de Medicina de Marília (FAMENA), Renato Augusto Tambelli, que falou sobre o uso de novas ferramentas no dia-a-dia do emergencista. “Temos de assumir o paciente em um momento crítico, em que precisamos tomar decisões rápidas e assertivas, muitas vezes sem conseguir ouvir a história clínica do paciente e com limitações para exames físicos”, contou.
Após falar de ferramentas amplamente usadas, como o eletrocardiograma, o gasômetro e o raio-x “clássico, mas lento”, Renato Tambelli enfatizou o uso do POCUS (Point-of-Care Ultrasound), que é a ultrassonografia realizada à beira do leito pelo próprio médico, dando três exemplos de como o uso da ferramenta ajudou a salvar vidas. “O nosso desafio é universalizar o POCUS”, defendeu.