No fim do primeiro dia do I Fórum do Conselho Federal de Medicina (CFM) sobre escolas médicas, nessa terça-feira (18), lideranças estudantis e representantes de residentes evidenciaram preocupações diante do crescimento acelerado de cursos, da pressão por certificações e da necessidade de fortalecer a residência médica como padrão-ouro de formação. Abordaram os temas o presidente da Associação Nacional dos Médicos Residentes (ANMR), Lucas Henrique Rinaldi; a vice-presidente da Associação Nacional dos Estudantes de Medicina do Brasil (AEMED-BR), Arina Nobre; e os estudantes Julio Veras e Isabella Godoi, representantes da Federação Internacional das Associações de Estudantes de Medicina do Brasil (IFMSA).
O 1º vice-presidente do CFM, Emmanuel Fortes, já havia ressaltado que a interlocução com os estudantes é fundamental para garantir que os futuros profissionais compreendam, desde cedo, a extensão de suas responsabilidades e os limites técnicos do exercício profissional, assegurando uma prática segura, íntegra e alinhada às necessidades da sociedade brasileira.
Em sua apresentação, Arina, da AEMED-BR, falou a respeito do contexto atual da graduação em medicina no Brasil, que já conta com quase 500 escolas médicas, sendo 80% privadas. Ela alertou para dificuldades enfrentadas pelos estudantes, como internatos com déficit de estrutura e desigualdade na qualidade do ensino, e observoy que o crescimento acelerado dos cursos exige atuação firme dos Conselhos de Medicina na fiscalização das condições de formação e na promoção de parâmetros mínimos de qualidade. “A dignidade da prática médica nasce da dignidade da formação. A padronização e a ética no ensino são indispensáveis para a segurança do paciente”, afirmou.
Já os estudantes Julio Veras e Isabella Godoi, por sua vez, abordaram a pós-graduação médica e os riscos associados à proliferação de cursos lato sensu que utilizam indevidamente o termo “especialização”. Eles apresentaram dados sobre o crescimento de mais de 210% no número de cursos de pós-graduação lato sensu entre 2010 e 2023 e enfatizaram que muitos títulos comercializados no mercado não correspondem a especialidades reconhecidas pelo CFM.
Os representantes da IFMSA Brazil explicaram a diferença entre pós-graduação acadêmica e formação especializada, reforçando o papel do RQE como o único documento que autoriza um médico a se apresentar como especialista. Também destacaram os riscos da publicidade médica irregular e a importância da regulação para evitar abusos, proteger pacientes e garantir critérios claros para titulação profissional.
Por sua vez, Faidiga, da ANMR, traçou um panorama da residência médica no Brasil, sublinhando que o país conta atualmente com 54 mil residentes, mais de 7.800 programas ativos e 75 mil vagas previstas para 2025. Ele explicou o papel regulador dos Conselhos de Medicina na fiscalização ética, na supervisão das instituições formadoras e no reconhecimento das especialidades, enfatizando também a importância do Registro de Qualificação de Especialista (RQE) como instrumento oficial para certificar médicos especialistas, proteger a população e assegurar credibilidade profissional. Segundo ele, a participação do CFM na Comissão Nacional de Residência Médica (CNRM) fortalece a qualidade dos programas e contribui diretamente para a segurança do paciente.