
Entidades: diferentes levantamentos delineiam problemas no Brasil
A preocupação com a queda no número de consultas, exames de rastreamento e outros procedimentos tem sido recorrente entre as entidades médicas. Em abril deste ano, representantes de 42 sociedades de especialidades defenderam junto ao Conselho Federal de Medicina (CFM) a necessidade urgente de planejar ações para retomada desses atendimentos.
Em atenção ao grupo, a autarquia prepara uma estratégia nacional para estimular a população a buscar atendimento médico para a prevenção, diagnóstico e tratamento de doenças, observando as normas de segurança. A maior preocupação é com pacientes com problemas crônicos, para que não abandonem seus tratamentos.
Para chamar a atenção da população, por meio das redes sociais e imprensa, entidades médicas já têm apontado algumas das dificuldades que surgiram na esteira da pandemia. Confira a seguir alguns desses alertas.
Cardiologia – Segundo levantamento da Sociedade Brasileira de Cirurgia Cardiovascular (SBCCV), mais de 60 mil brasileiros estão na fila de espera por atendimento cardiológico devido à falta de insumos. A pesquisa, realizada a partir de relatos de 27 hospitais de nove estados brasileiros, constatou que 52% dos serviços de cirurgia cardiovascular já apresentam problemas graves de desabastecimento.
De acordo com a SBCCV, a falta de insumos fez com que, em 2020, menos de 40 mil pacientes fossem operados. Em um ano sem pandemia, aproximadamente 100 mil operações são realizadas no País.
Oncologia – Preocupada com o panorama do câncer em tempos de pandemia, a Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica lançou em setembro do ano passado o resultado de pesquisa entre seus associados para entender os impactos da covid-19 no Brasil. Segundo o levantamento, mais de 74% dos entrevistados informaram que tiveram um ou mais pacientes que interromperam ou adiaram o tratamento por mais de um mês durante a pandemia.
Em campanha, a Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva (Sobed) também levantou durante o “Março Azul” que, em 2020, só no Sistema Único de Saúde (SUS) o número de exames de sangue oculto nas fezes caiu 23% em relação ao ano anterior – 350 mil exames a menos. Apesar de ser um procedimento simples, este exame pode ser decisivo para salvar a vida de paciente com suspeita de câncer colorretal.
Oftalmologia – Dados levantados pelo Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO) também refletem o afastamento dos pacientes em relação aos cuidados com a saúde ocular. Em maio de 2020, mês de prevenção e combate ao glaucoma, a especialidade mostrou que quase 1,6 milhão de exames para detecção precoce da doença deixaram de ser realizados no SUS. A queda prejudicou a investigação de possíveis casos novos desta doença, considerada a principal causa de cegueira evitável no mundo, contribuindo para o atraso no tratamento e o acompanhamento de situações confirmadas.
Os oftalmologistas indicaram que pelo menos 6,5 mil cirurgias indicadas para tratar ou reverter o glaucoma também deixaram de ser realizadas no SUS no ano passado. A queda, segundo números analisados pelo CBO, foi de 22%.