O Conselho Federal de Medicina (CFM) participou nessa terça-feira (23) de audiência pública promovida pela Comissão de Saúde da Câmara dos Deputados sobre a formulação de políticas públicas para pessoas com Hipertensão Pulmonar Tromboembólica Crônica (HPTEC), classificada como uma doença rara – menos de 65 casos por cada 100 mil habitantes. Nessa condição, os vasos pulmonares são obstruídos por trombos organizados, geralmente após episódios de tromboembolismo pulmonar. Entre os principais sintomas estão falta de ar progressiva ao esforço, cansaço fácil, sensação de aperto ou dor no peito ao esforço, palpitações, tontura ou desmaio, especialmente ao subir ladeira ou escadas.
O conselheiro federal do CFM Alcindo Cerci alertou para os desafios relacionados ao diagnóstico precoce e ao acesso ao tratamento da HPTEC no Sistema Único de Saúde (SUS), destacando que a enfermidade, associada inclusive à síndrome pós-Covid, é subnotificada no País e permanece sem cobertura adequada no SUS. Cerci afirmou que a ausência de linhas de cuidado estruturadas resulta em graves impactos sociais, econômicos e de saúde pública para os pacientes e suas famílias.
“Vivemos uma epidemia de subdiagnóstico de embolia pulmonar, consequentemente uma epidemia de subdiagnóstico de hipertensão arterial tromboembólica crônica. O SUS não segue a última recomendação de tratamento internacional para a doença. O que as sociedades mundiais recomendam de tratamento? Cirurgia complexa no sistema público, com equipamento cirúrgico muito especializado; angioplastia por balão para dilatação; ou medicamento no caso de cirurgias inoperáveis. Mas não temos nada disso no SUS. Então, isso gera uma complexidade para os médicos que conseguem fazer o diagnóstico, porque não conseguem implementar uma terapêutica adequada”, resumiu.
O conselheiro defendeu, entre as propostas apresentadas, que as doenças pulmonares raras, incluindo a HPTEC e a hipertensão arterial pulmonar, sejam priorizadas no âmbito do SUS; que o tratamento completo da HPTEC (endarterectomia pulmonar, angioplastia pulmonar com balão, terapias medicamentosas e anticoagulação de longo prazo) seja integralmente disponibilizado na rede pública; e que sejam criadas linhas de cuidado em centros de referência, capazes de concentrar pacientes e garantir o melhor acompanhamento.
Além disso, propôs aos parlamentares e demais representantes de entidades médicas presentes ao debate que haja capacitação imediata da atenção primária em saúde, com foco na busca ativa de pacientes para diagnóstico precoce. “A HPTEC é tratável e, em muitos casos, curável. O desafio é garantir que os pacientes cheguem a tempo aos serviços especializados. Por isso, o CFM se coloca à disposição para colaborar com o Congresso Nacional e com as autoridades de saúde na construção dessas soluções”, concluiu.