No Dia de Conscientização contra a Obesidade Mórbida Infantil, data instituída pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para alertar sobre os riscos do excesso de peso entre crianças e adolescentes, o Conselho Federal de Medicina (CFM) chama a atenção de pais e jovens sobre a importância da prevenção. O conselheiro federal Bruno Leandro de Souza, que é pediatra e coordenador da Câmara Técnica de Endocrinologia e Metabologia do CFM, indica os melhores caminhos para a família lidar com a questão em casa e com os profissionais de saúde.
Em abril, o CFM publicou resolução atualizando regras para a realização de cirurgia bariátrica e metabólica em que passou a reconhecer a realização do procedimento em pacientes a partir dos 14 anos de idade – nos casos de obesidade grave (IMC maior que 40) associada a complicações clínicas – desde que com a devida avaliação da equipe multidisciplinar e consentimento dos responsáveis. A resolução anterior, revogada, definia que pacientes menores de 16 anos só poderiam fazer a cirurgia em caráter experimental e de acordo com as normas do Sistema CEP/Conep.
A obesidade infantil é uma condição multifatorial e, entre as principais, destacam-se a má alimentação (consumo excessivo de alimentos ultraprocessados, ricos em açúcar, gordura e sódio); o sedentarismo (tempo prolongado em frente a telas e falta de atividade física regular); fatores genéticos e hormonais (crianças com pais obesos têm maior risco, além de possíveis alterações endócrinas); aspectos emocionais (ansiedade, depressão e compulsão alimentar podem influenciar negativamente os hábitos alimentares); e ambiente familiar e social (rotina desorganizada, falta de acesso a alimentos saudáveis e ausência de exemplo dos cuidadores).
Para Bruno Leandro, o combate à obesidade infantil exige uma abordagem multidisciplinar e contínua com pediatra, nutricionista, educador físico, psicólogo e endocrinologista pediátrico (em casos mais graves).
Ele ressalta que o tratamento deve ser individualizado e progressivo, priorizando intervenções não medicamentosas. Segundo o conselheiro do CFM, os principais pilares incluem reeducação alimentar, com foco em escolhas saudáveis, sem restrições radicais; atividade física regular (pelo menos 60 minutos diários de exercícios moderados a intensos); mudanças comportamentais, incluindo sono adequado, redução de tempo de tela e participação da família; acompanhamento psicológico (essencial para crianças com compulsão, baixa autoestima ou ansiedade); e uso de medicamentos (raro e reservado para casos graves, sempre sob orientação médica e quando outras medidas não surtiram efeito).
Importância dos pais – Para o pediatra, os pais podem contribuir para a prevenção da obesidade infantil em casa, com atitudes simples e consistentes, como dar o exemplo mantendo uma alimentação saudável e praticando atividade física, oferecendo refeições equilibradas, com frutas, verduras, grãos integrais e menos alimentos industrializados, e estabelecendo rotina alimentar com horários fixos para refeições e lanches.
“É necessário evitar o uso de comida como recompensa ou punição, reduzir o tempo de tela, incentivar brincadeiras ativas e garantir boa qualidade de sono. Crianças privadas de sono têm maior risco de obesidade. A chave é educar sem impor, estimulando a autonomia da criança, inserindo-a na escolha e preparo dos alimentos, apresentando os alimentos saudáveis de forma atrativa e lúdica, evitar proibições rígidas e permitir escolhas conscientes, elogiar as boas escolhas e avanços, por menores que sejam, promover mudanças em família, evitando que a criança se sinta isolada no processo, e transformar as mudanças em algo positivo: mostrando os benefícios para a saúde, energia, bem-estar e autoestima”, conclui o pediatra.