O uso da tecnologia em saúde e seu impacto no exercício da medicina marcaram a abertura do 1º Fórum de Saúde Digital do Conselho Federal de Medicina (CFM), realizado nesta quarta-feira (26), na sede da autarquia, em Brasília. A cerimônia contou com a participação do 1º vice-presidente do CFM, Emmanuel Fortes, e do 1º secretário, Hideraldo Cabeça, responsável pela coordenação de informática do Conselho.

Emmanuel Fortes destacou o esforço institucional do CFM para se manter na vanguarda dos temas ligados à medicina, em especial no campo da saúde digital. Ele ressaltou que as novas ferramentas tecnológicas, incluindo a inteligência artificial (IA), já fazem parte da rotina médica e também deverão ser incorporadas à fiscalização do exercício profissional.
O 1º vice-presidente enfatizou ainda que princípios fundamentais como o sigilo das informações, a autonomia médica e a definição clara das responsabilidades ética, civil e criminal em atendimentos mediados por IA são inegociáveis. “A inteligência artificial é apenas um instrumento; essencial nesse processo é o médico, não a máquina”, afirmou, defendendo uma prática cada vez mais moderna, porém sempre pautada pela ética e pela humanização.

Na sequência, Hideraldo Cabeça falou sobre a percepção dos médicos a respeito do uso da Inteligência Artificial na prática clínica. De acordo com ele, dados de um inquérito junto a 4500 médicos, mostram que a maioria dessa população considera que a categoria não está adequadamente preparada para utilizar essa ferramenta no seu dia-a-dia. Essa mesma visão dos profissionais se estende para a sociedade, em geral.
Apesar desse sentimento, o 1º secretário do CFM ressalta que levantamentos indicam que os médicos já utilizam algum tipo de IA no seu cotidiano e não consideram que esse instrumento tecnológico substituirá o profissional na linha de frente de atendimento, embora reconheçam seu alto potencial para qualificar os indivíduos, a gestão e os processos clínicos. “Nesse sentido, as preocupações éticas com o uso da IA são centrais”, resumiu o conselheiro, colocando-se à disposição para contribuir com orientações e debates sobre o tema.
“O uso da tecnologia em saúde e seu impacto no exercício da medicina” – A primeira conferência do dia, presidida pelo conselheiro federal Bruno Leandro Souza (PB) e apresentada por Fábio Jatene, vice-presidente dos Conselhos dos Institutos de Radiologia e de Inovação do Hospital das Clínicas, aprofundou a discussão sobre os desafios e as oportunidades trazidos pela transformação digital.

Em sua exposição, Jatene chamou atenção para a velocidade com que a saúde 5.0 vem modificando a prática médica, e mencionou o aumento acentuado de ferramentas de inteligência artificial generativa, publicações científicas e soluções digitais voltadas à assistência. Ele citou, por exemplo, o crescimento de plataformas de apoio à decisão clínica baseadas em IA e lembrou que o volume de dados em saúde já responde por parcela significativa das informações geradas no mundo, com tendência de expansão nos próximos anos.
O conferencista também abordou os impactos econômicos da incorporação tecnológica nos sistemas de saúde, as diferenças geracionais no uso de dispositivos e aplicativos e a necessidade de adotar uma mentalidade disruptiva para acompanhar essas mudanças. Ao apresentar iniciativas do Hospital das Clínicas e do InCor – como o INOVAHC, o uso de modelos 3D para planejamento cirúrgico, dispositivos vestíveis para monitorização cardíaca e cirurgias telerientadas –, mostrou como projetos de inovação vêm alterando o cuidado com o paciente e a organização dos serviços.
Para Jatene, o grande desafio é incorporar tecnologias de forma inteligente e custo-efetiva, sem inviabilizar o sistema e sem perder de vista o papel central do médico. Ao encerrar, sua fala, reforçou que “mudança é um processo, não um evento”, destacando que a saúde digital deve ser construída com responsabilidade ética e segurança.