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Conselho Federal de Medicina

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Nunca na história, o País contou com tantos médicos como atualmente. A Demografia Médica CFM – 2024, divulgada pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), na segunda feira (8), mostra que o Brasil tem 575.930 médicos ativos, uma das maiores quantidade do mundo, numa evolução acelerada. O número resulta em uma proporção de 2,81 médicos por mil habitantes, também a maior já registrada e que coloca a Nação a frente dos Estados Unidos, Japão e China. Contudo, apesar do avanço significativo, vê com preocupação esse crescimento acelerado pelas suas implicações na formação dos profissionais e até da assistência oferecida à população.

“Os dados indicam que o Brasil conta hoje com mais médicos. Mas a que custo? Observamos a criação indiscriminada de escolas médicas no País sem critérios técnicos mínimos, o que afeta a qualidade do preparo dos futuros profissionais da medicina. Outra questão a ser observada é que o aumento do número de médicos deve implicar também em melhores condições de trabalho e de estímulo para que a assistência ocorra da forma adequada. A equação do atendimento, em especial na rede pública, não é uma questão apenas matemática, mas de planejamento e boa gestão”, afirma o presidente do CFM, José Hiran Gallo.

Expansão – Desde o início da década de 1990, no Brasil, a quantidade de médicos mais que quadruplicou, passando de 131.278 profissionais para o número atual, registrado em janeiro de 2024. Este crescimento, impulsionado por fatores como a expansão do ensino médico e a crescente demanda por serviços de saúde, representa um aumento absoluto de 444.652 médicos no período, ou seja, 339%, em termos percentuais.

Por outro lado, a população brasileira cresceu 42% no mesmo período: passou de 144 milhões para 205 milhões, conforme dados do IBGE. Com isso, é possível ver que o número de médicos aumentou oito vezes mais do que o da população em geral. Calcula-se que o crescimento da população médica, entre 1990 e 2024, foi, em média, de 5% ao ano. Esse índice é cinco vez maior do que o praticado pela população brasileira (média anual de 1%). Notadamente, a maior progressão percentual no volume de médicos aconteceu entre 2022 e 2023, quando o contingente saltou de 538.095 para 572.960: aumento de 6,5%.

Densidade – O fenômeno repercute ainda em termos proporcionais. Em 1990, havia 0,91 médico para cada grupo de mil habitantes no País. Três anos depois (1993), o Brasil alcançou a razão de 1 médico por mil habitantes. Foram necessárias quase duas décadas para que esse índice chegasse a 1,2 médicos por mil habitantes, em 2011. Coincidentemente, nesse período, assiste-se o início do processo de abertura de novas escolas médicas, o que fez que já em 2016 essa proporção atingisse a marca de 2,03.

Mantendo-se o ritmo de crescimento da população e de escolas médicas, dentro de cinco anos, em 2028, o País contará com 3,63 médicos por mil habitantes, índice que supera a densidade médica registrada, por exemplo, na média dos 38 países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento (OCDE). Atualmente, cerca de 35 mil estudantes concluem o curso de medicina e entram no mercado de trabalho.

Nos próximos anos, esse número deve ultrapassar os 40 mil egressos, com as primeiras turmas das escolas abertas ultimamente sendo graduadas. “Um dos problemas é que não há previsão de se estancar esse volume. Apesar de ser contraditório, há chances de que a assistência enfrente graves problemas, como a falta de resolubilidade dos profissionais, que terão uma formação deficitária, e o próprio encarecimento dos custos assistências, pelo aumento na demanda por exames de diagnóstico e outros procedimentos”, explica José Hiran Gallo.

OCDE – A evolução do Brasil em relação ao número de médicos por mil habitantes pode ser analisada em função das tendências observadas nos países da OCDE. Em 2021, relatório publicado pela entidade colocava o Brasil na 43ª no ranking que avaliava esse quesito dentro de um grupo de países selecionados, que incluem nações da Europa e destaques de diferentes continentes.

Na época, com uma razão de 2,2 médicos por mil habitantes, o Brasil ficava à frente apenas de Peru, Índia, África do Sul, Indonésia. Em 2024, com um índice de 2,8, o Brasil teria uma performance muito melhor nesse levantamento. Mesmo considerando que o trabalho da OCDE não passou por atualização desde então, a medicina brasileira passaria a ocupar o 35º lugar nesse ranking. A taxa atual coloca a nação em igualdade ao Canadá e ultrapassa EUA, Japão, Coréia do Sul e México.

Para o presidente do CFM, José Hiran Gallo, o significativo aumento no número de médicos no Brasil é resultado da interação de diversos fatores, entre eles as crescentes necessidades de saúde da população, as mudanças no perfil de morbidade e mortalidade, a garantia de direitos sociais, a incorporação contínua de novas tecnologias médicas e o envelhecimento progressivo da população. Além disso, segundo ele, esse crescimento é influenciado pelas novas políticas de educação médica implementadas, especialmente nas últimas duas décadas.

Ensino – “O aumento no número de faculdades de medicina e a expansão das vagas nos cursos existentes contribuíram significativamente para o aumento do contingente de médicos disponíveis no mercado. Contudo, este cenário também suscitou questionamentos sobre a qualidade da formação médica oferecida. Sabemos que quantidade significativa de cursos estão em municípios que não atendem critérios mínimos para a boa formação de futuros médicos. De forma complementar, há ainda a carência de médicos capacitados ao ensino, ou seja, estamos tornando a medicina brasileira precária. Se antes nosso País era reconhecido mundialmente pela competência de seus médicos, agora essa convicção está sob ameaça”, ponderou o presidente do CFM.

Atualmente, há 389 escolas médicas espalhadas pelo País, a segunda maior quantidade do mundo – só fica atrás da Índia, nação que tem uma população mais de seis vezes maior.  Desde 1990, a quantidade de faculdades de medicina no Brasil quase quintuplicou, passando de 78 para o cenário do momento. Somente nos últimos dez anos, foram colocadas em funcionamento 190 estabelecimentos de ensino médico, número igual ao de escolas abertas ao longo de dois séculos.

Concentração – Outro problema que o aumento de médicos não resolve, conforme evidencia a Demografia Médica CFM – 2024, é a concentração dos profissionais em determinadas áreas, aprofundando um cenário de desigualdade na distribuição, fixação e acesso ao atendimento. Apesar do CFM considerar que já há número suficiente para atender às demandas da população, sem a necessidade de qualquer medida extraordinária, ele alerta para a ausência de políticas públicas que estimulem a ida de médicos para as áreas mais distantes e menos desenvolvidas e para o Sistema Único de Saúde (SUS). José Hiran Gallo alerta que se o Governo não fizer seu dever, essa concentração se manterá, com cada vez mais médicos no Sudeste, Sul, litoral e centros com melhor Indice de Desenvolvimento Humano (IDH).

Além disso, acrescenta, os egressos preferirão atuar no segmento privado e nos planos de saúde, que oferecem melhores honorários e condições de trabalho, do que na rede pública, que responde pelo atendimento direto de 75% dos brasileiros. Segundo o presidente do CFM, os médicos que permanecem no Norte e Nordeste e nos municípios mais pobres do interior se ressentem da falta de investimentos em saúde, dos vínculos precários de emprego e da ausência de perspectivas.

“Ao contrário do que o Governo alega, a abertura de uma escola médica não garante a permanência de todos os formados na região. O que se assiste e uma migração dos jovens rumos aos grandes centros em busca de qualidade de vida e de trabalho. No entanto, importante ressaltar, isso não é exclusivo da medicina. Profissionais de várias da saúde e de outras também fazem o mesmo movimento”, disse.

Desigual – Como dito pelo presidente, o estudo do CFM mostra que o aumento no número de médicos não resultou em uma distribuição igualitária pelo País. O Sudeste tem uma proporção de médicos superior à média de 2,81 médicos por mil habitantes do Brasil. A região se destaca por ter a maior densidade e proporção, com 3,76 médicos por mil habitantes e 51% do total de médicos, enquanto abriga 41% da população brasileira. Em contraste, o Norte exibe a menor razão e proporção de médicos (1,73), ficando significativamente abaixo da média nacional.

Já o Nordeste, com 19,3% dos médicos e 26,8% da população, apresenta uma razão de 2,22 médicos por mil habitantes, também abaixo da média nacional. O Sul, por sua vez, com 15,8% dos médicos e 14,8% da população, exibe uma razão de 3,27 médicos por mil habitantes, enquanto o Centro-Oeste, com 9% dos médicos e 8,1% da população, tem 3,39 médicos por mil habitantes, ambos acima da média nacional.

Nas capitais, a média de médicos por mil habitantes alcança o patamar de 7,03, contra 1,89 observada no conjunto das cidades do interior. Ao analisar os extremos dessa distribuição, Vitória (ES) registra a maior densidade: 18,68 médicos por mil habitantes. Em contrapartida, no interior do Amazonas, a densidade é drasticamente menor, somente 0,20, ilustrando os severos desafios de acesso a cuidados médicos em localidades remotas.

Idade e sexo – A Demografia Médica CFM 2024 traz ainda informações que ajudam a delinear características do perfil dos profissionais brasileiros. Um dos aspectos avaliados é a idade média dos médicos em atividade no Brasil, que hoje está em 44,6 anos. Entre os médicos homens, a idade média é de 47,4 anos. Já para as médicas, é de 42 anos. Observa-se também uma diferença no tempo de formação entre os gêneros: em média, os médicos têm 21 anos de formados, enquanto as médicas têm, em média, 16 anos,

O trabalho do CFM revela ainda que o número de médicas no Brasil vem aumentando ano após ano. Em 2024, os homens ainda representam, ligeiramente, a maioria entre os médicos com até 80 anos, correspondendo a 50,08% do total, enquanto as mulheres compunham 49,92%. Porém, estima-se que, em breve, o número de médicas ultrapasse o de médicos. Atualmente, entre os médicos com 39 anos ou menos, as mulheres já constituem a maioria, representando 58% em comparação a 42% dos homens. O ponto de virada, ocorreu em 2009.

Desde aquele ano, os números revelam a crescente feminização da medicina, com a sustentação dessa tendência ao longo dos anos subsequentes, com o número de mulheres continuando a exceder o de homens ingressando na medicina. Os dados indicam também o aumento crescente na proporção de mulheres entrando no mercado de trabalho brasileiro. Em 1990, as mulheres representavam 44% dos médicos que começavam a atuar, enquanto os homens representavam 56%. No início de 2024, essa proporção se inverteu: 60% de mulheres e 40% de homens.

 

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