Após dois anos de debate e dois meses de consulta pública, o Ministério da Saúde (MS) publicou as novas diretrizes para a organização da atenção básica no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). Apesar de amplamente discutido, segundo o Ministério, a norma não traz segurança aos médicos nem à população brasileira.
A atualização das diretrizes da Política Nacional de Atenção Básica (PNAB) foi aprovada em agosto pela Comissão Intergestores Tripartite (CIT), integrada por gestores do SUS das três esferas de governo – União, estados e municípios.
Uma das mudanças adotadas pelo novo texto da PNAB é o reconhecimento de outros formatos de equipe além da Estratégia Saúde da Família. A gestão municipal poderá compor equipes de atenção básica de acordo com características e necessidades locais, devendo ser minimamente compostas por médicos, enfermeiros, auxiliares de enfermagem e/ou técnicos de enfermagem.
A alteração representa um dos principais receios dos profissionais, na avaliação do coordenador da Câmara Técnica de Medicina de Família e Comunidade do Conselho Federal de Medicina (CFM), Leonardo Sérvio Luz. “Os municípios ganharam mais autonomia de gestão, o que por um lado é bom. Mas autonomia sem o efetivo repasse de recursos poderá acarretar prejuízos significativos para a atenção básica”, avalia o representante.
Flexibilização – Segundo o MS, a novidade trazida na legislação deverá facilitar a contratação de profissionais na atenção básica. Em vez de o mesmo profissional cumprir 40h semanais, as prefeituras vão poder contratar até três profissionais da mesma categoria para cumprir as 40h em sua área de atuação. Cada profissional deverá cumprir no mínimo 10h.
Para o coordenador da Comissão Nacional Pró-SUS do CFM, Donizetti Giamberardino Filho, essa alteração poderá enfraquecer a Estratégia. “O médico de família tinha uma carga horária de 8 horas, e agora poderá fracioná-la em blocos de duas, quatro, seis, oito. Em alguns momentos, isso pode ser interessante, mas horários muito curtos dificultam o trabalho da equipe e o vínculo com a saúde comunitária”, alerta o conselheiro.
Incertezas quanto ao financiamento e fragilidade dos vínculos empregatícios afligem médicos e demais profissionais da saúde.
Essa preocupação cresce com o advento da nova norma e do seu impacto sobre a organização do modelo de atenção na rede básica do País.