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A falta de cenários de prática em psiquiatria, hebiatria e nas unidades básicas de saúde é um desafio a ser superado na implementação dos três anos do Programa de Residência Médica em Pediatria. Essa foi uma das conclusões do Fórum de Pediatria CNRM/CFM/SBP, realizado na sede do Conselho Federal de Medicina (CFM), em Brasília (CF), nos dias 14 e 15 de junho de 2018. No evento, que tinha como tema “O programa de Residência Médica com duração de três anos: uma realidade a ser construída por todos”, representantes da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) apresentaram o nível de adesão dos programas de residência nas cinco regiões brasileiras.
Ao final do encontro, a presidente da SBP, Luciana Rodrigues Silva, se comprometeu a realizar novo fórum em pouco tempo para a continuidade das discussões acerca dos três anos. “Reconhecemos que as dificuldades são muitas, mas estamos caminhando para superá-las. O bom é que estamos nos unindo para encontrarmos as melhores soluções”, afirmou. Ela considerou a reunião realizada em Brasília importante para consolidação desse processo e convidou todos os pediatras, professores e preceptores com interesse no tema a darem suas contribuições num esforço conjunto para a qualificação dos especialistas.
O 2º secretário do CFM e secretário-geral da SBP, Sidnei Ferreira, elogiou a qualidade dos debates e colocou a autarquia à disposição para ajudar na implementação da residência em três anos. “Estamos prontos para auxiliar a SBP com relação aos interesses dos pediatras e da população brasileira”, afirmou.
Relatos regionais – Para estimular a troca de experiências, representantes de todas as regiões e de várias instituições apresentaram suas visões sobre o tema. Por exemplo, diretores do Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (IMIP), em Recife (PE), e do Hospital Pequeno Príncipe, em Curitiba (PR), primeiras instituições a implementarem o programa de três anos, explicaram como foi feita a efetivação do novo currículo.
No segundo dia do encontro, houve a apresentação do tema “A implantação dos três anos nas diferentes regiões do país”. O levantamento sobre a região Norte foi apresentado por Aurimery Gomes Chermont. “Se em outros estados a situação é difícil, na nossa região é mais complicado ainda”, argumentou. Após apresentar os números sobre a quantidade de residências, ela relatou que há falta de locais de prática e de preceptores. “As dificuldades para a implementação dos três anos são as mesmas para fazer funcionar os dois anos”, ponderou.
A responsável por relatar como está a situação no Nordeste, Helita Regina Cardoso de Azevedo, disse que conversou com mais de 90% dos coordenadores das residências da região e que a conclusão é que todos estavam se preparando para a implementação dos três anos. “Há dificuldade para o treinamento em genética, saúde mental, serviço de imagem e pré-operatório”, relatou.
A apresentação sobre o Centro-Oeste foi realizada pela Alessandra Naghettini. Na região, a Universidade de Brasília (UnB), a Universidade Federal de Goiás (UFG) e o Hospital das Clínicas de Goiânia aderiram aos três anos. “Segundo os coordenadores, as dificuldades são a inserção do aluno na rede básica, a falta de preceptores, acesso à urgência e emergência e aos serviços de imagem”, enumerou.
A situação da região Sudeste ficou sob a responsabilidade de Sílvio da Rocha Carvalho, que apresentou o resultado regionalizado de uma pesquisa feita entre os pediatras. “Para 82%, haverá dificuldade na implantação dos três anos. Os principais gargalos estão na genética médica, na medicina do adolescente e na saúde mental. Ao contrário das demais regiões do país, os pediatras do Sudeste não sentem falta de cenários de prática no trauma”, pontuou.
O responsável pela região Sul, Paulo Nader, mostrou como está sendo a adequação dos três anos em alguns programas de Residência Médica no Rio Grande do Sul e Paraná. “Temos dificuldades para estágios nas áreas de hebiatria e psiquiatria, mas o resultado tem sido positivo. Nossos residentes sentem que estão aprendendo mais”, enfatizou.
Experiências – O coordenador da residência em Pediatria do Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Filgueira (IMIP), Eduardo Jorge da Fonseca Lima, apresentou o resultado de uma pesquisa realizada com os residentes que concluíram o treinamento recentemente. Também o chefe da pediatria do Hospital Pequeno Príncipe, Victor Horácio de Souza Costa Jr, relatou que inicialmente a direção da instituição não era favorável que ela funcionasse como um dos pilotos para a implementação dos três anos.
A bonificação municipal acabou, mas o Pequeno Príncipe encontrou outra forma de incentivar o estágio nessas unidades. Também foram encontradas soluções para que os residentes tivessem mais situações de prática para, por exemplo, realizar entubações. “O resultado de todo esse esforço é que pesquisa realizada entre os residentes demonstrou que eles estão se sentindo mais seguros ao terminar o curso”, contou.
Importância – Representado pelo seu 1º vice-presidente, Mauro Luiz de Britto Ribeiro, o CFM tem acompanhado esse debate. Para o diretor da entidade, a pediatria, além de uma especialidade considerada básica, ou seja, de grande abrangência dos cuidados que presta à população, é atualmente a segunda maior especialidade do País, com 39.234 titulados, segundo o estudo Demografia Médica Brasileira. “Por isso o debate sobre a formação desses profissionais é de suma importância”, destacou.
Por sua vez, a secretária-executiva da Comissão Nacional de Residência Médica (CNMR), Rosana Leite de Melo, destacou a norma basilar da medicina, a Lei nº 12.842/13, e aquela que define a restruturação integral do Programa de Residência Médica em Pediatria, a Resolução Nº 1/2016 da CNMR, para defender que “os títulos devem ser dados àqueles que estejam realmente capacitados para atender o povo brasileiro”.
Luciana Rodrigues Silva, reforçou que o compromisso dos presentes com a formação do futuro pediatra e disse que “todos devem apresentar suas aspirações para encontrarmos juntos as soluções”. Na oportunidade, ocorreram discussões sobre aspectos como quantidade e concentração de médicos no País; princípios do Código de Ética Médica (CEM) e preparação ética dos futuros titulados; novo Pedido de Credenciamento de Programa (PCP) para adaptação dos programas de residência médica; conhecimentos e competências; contextos adversos para a prática do especialista (como subfinanciamento, agressões, déficit de infraestrutura etc.); e a Resolução Nº 1/2016 da CNMR e a proposta de ajuste nesta diretriz por parte da SBP; entre outros tópicos.
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