Henrique Ajudarte Pinheiro dos Santos Nassif*

Muito se tem veiculado acerca da “violência obstétrica”, com relatos contundentes sobre a ocorrência de fatos gravosos contra mulheres indefesas em um período delicado e belo de suas vidas. Existem até cartilhas definindo o que seria violência “obstétrica”. Juro que não costumo diferenciar a violência em sua origem; em geral, define-se apenas o destinatário ou o local da ação danosa ou prejudicial: violência contra a mulher, violência contra a criança, entre outras.

Porém, o que é violência? Seria apenas a do obstetra? Ou de toda a equipe? Quando? Como? Essa estigmatização pode criar uma barreira entre o médico e a mulher que recebe os cuidados para o parto. Já existiria um rótulo sendo criado de que a assistência ao parto por médicos e/ou enfermeiros em um ambiente hospitalar seria danosa à mãe e ao filho. Nada mais enganoso e até, de certa forma, pernicioso.

Apesar do crescente número de cesáreas em todo o mundo, a mortalidade materna despencou nas últimas décadas. Será que não há uma contradição quando questionamos os altos índices de cesarianas por país? Se tivéssemos apenas partos normais, teríamos altos índices de mortalidade materna ou eles seriam ainda mais baixos que os atuais? Essas são perguntas para os membros da Academia.

A obstetrícia evoluiu a passos largos – como toda ciência –, e a mortalidade perinatal e materna só tem decaído. Nesse aspecto, podemos fazer um paralelo com a instituição da lavagem das mãos nos procedimentos médicos.

Até o século XIX, era lugar-comum um obstetra sair de um procedimento e adentrar outro(s) sem a mínima antissepsia – a lavagem das mãos –, o que ocasionava a morte de muitas pessoas por infecção (sepse, entre outras).

Ocorre que um ousado médico obstetra – Ignaz Philipp Semmelweis – observou que as mortes maternas eram muito maiores na clínica obstétrica onde atuava do que entre as parteiras. Percebeu, então, que os médicos não realizavam a lavagem das mãos antes dos procedimentos: necropsiavam as pacientes mortas e, logo em seguida, atendiam outras, sem assepsia alguma.

Por que discorro acerca de assepsia em obstetrícia num texto crítico à violência supostamente obstétrica? Porque o que Semmelweis fez foi ciência de fato. Ora, não importou a ele se eram as parteiras que obtinham índices de mortalidade muito inferiores aos da clínica obstétrica, ou se eram os médicos os campeões da mortalidade. A maneira com que tratou os dados que chegaram a ele é que foi meritório, sendo Semmelweis reconhecido apenas depois de sua morte.

A ciência deve ser apartidária, acategórica e multidisciplinar – e multiprofissional. Quando criamos premissas baseadas em rótulos preconceituosos e pejorativos, não chegamos a conclusões verdadeiras e coerentes, nem tampouco temos uma visão ampla de um todo que poderia nos fornecer pistas sobre algo que poderia nos enriquecer e nos enobrecer.

Portanto, ciência se faz é com métodos, com dados, com pesquisa e com muito esforço, não com bravatas e chavões de cunho emocional, que apenas estigmatizam uma classe e/ou uma categoria de indivíduos.

 

* É médico perito da Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão de Minas Gerais (Seplag/MG), perito médico previdenciário do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), pediatra e jornalista. CRM 56.277 MG.


 
    

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