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Fernando Weber Matos*

A população, sofrida e angustiada diante da desassistência de saúde que se agrava cada vez mais e da desinformação que impera no setor, muitas vezes vê na figura do médico um dos principais responsáveis pela crise. Poucos se dão conta de que todo o sistema de saúde depende de decisões oriundas dos gabinetes climatizados de Brasília.

Quem está mais próximo e é mais acessível acaba sendo responsabilizado, o que é compreensível. Afinal, é o médico quem está na linha de frente, olho no olho com o paciente, muitas vezes sem as mínimas condições de trabalho, a começar pela falta de material, equipamentos e estrutura física, além de algo que também é muito importante e pouco considerado pelos gestores: segurança ausente ou insuficiente.

O que a população não sabe, talvez nem suspeite, é que o médico, assim como os outros trabalhadores da saúde pública e o próprio paciente, também é vítima desse descaso permanente com a saúde, prioridade somente nas eleições.

Os governos não destinam recursos necessários para atender uma demanda crescente no Sistema Único de Saúde (SUS) – o aumento do desemprego fez com que milhares de pessoas abandonassem seus planos privados de saúde – e, para piorar, há sérios problemas de gestão.

Dessa forma, para desviar o foco da verdadeira causa da crise na saúde, os governos usam de artifícios e medidas paliativas, como a criação do programa Mais Médicos, que até o começo deste ano havia tragado mais de R$ 5,7 bilhões, segundo dados do Ministério da Saúde.

Dentro dessa mesma linha eleitoreira, o governo anterior criou as Unidades de Pronto Atendimento (UPA), verdadeiros elefantes brancos que os municípios receberam e não conseguem manter. Por isso, a maior parte das unidades permanece fechada ou sequer saiu do papel.

Já o governo atual, através do ministro Ricardo Barros, direcionou seus ataques aos médicos, diante da incapacidade de dar uma resposta aos anseios da sociedade, que há anos clama por um atendimento digno de saúde e só encontra como resposta discursos e promessas.

Em julho deste ano, o Ministro da Saúde pegou pesado ao afirmar que os médicos da saúde pública “fingem que trabalham”, uma acusação tão desprovida de realidade, que uma semana depois o político a retirou, também em função da reação forte dos Conselhos de Medicina.

O que o ministro não diz, ou não reconhece, é que se dependesse dos médicos não haveria pacientes amontados nos corredores das emergências ou até mesmo jogados no chão enquanto esperam por um leito. Ele, que tem plena consciência da realidade, ainda vem a público declarar que não faltam hospitais e leitos no Brasil. Mais uma declaração infeliz.

Afrontados e angustiados, os médicos se redobram para prestar atendimento que está longe de ser o ideal num quadro de dor e desespero como esse, infelizmente, cada vez mais comum. Contribui, e muito, para esse drama que parece não ter fim, o desvio das verbas que deveriam ser destinadas à saúde. Quantas vidas poderiam ser salvas se esse montante, que deve ser expressivo, chegasse ao seu verdadeiro e legítimo destinatário?

Assim, esse caos na saúde não passa pelos médicos. Se ainda existe assistência de saúde em postos, unidades básicas e hospitais públicos, deve-se muito aos esculápios. Sem condições adequadas de trabalho e com remuneração atrasada e contratos precários, os médicos brasileiros buscam fazer sua parte com ética e abnegação sempre.

Foi pensando nisso que o Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio Grande do Sul (Cremers) deflagrou campanha publicitária com o objetivo de neutralizar a imagem negativa do médico construída nos últimos tempos, buscando valorizar e destacar a relevância de sua atividade e sua importância para a sociedade.

* É presidente do Cremers

 

* As opiniões, comentários e abordagens incluidas nos artigos publicados nesta seção são de inteira responsabilidade de seus autores e não expressam, necessariamente, o entendimento do Conselho Federal de Medicina (CFM).

 

 * Os textos para esta seção devem ser enviados para o e-mail imprensa@portalmedico.org.br, acompanhados de uma foto em pose formal, breve currículo do autor com seus dados de contato. Os artigos devem conter de 3000 a 5000 caracteres com espaço e título com, no máximo, 60.

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