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Rodolpho Telarolli Jr.

 

No dia 26 de abril foi comemorado o Dia Nacional de Prevenção e Combate à Hipertensão, data que chama a atenção para um dos problemas de saúde pública mais sérios do século XXI. A hipertensão arterial – ou simplesmente pressão alta – é uma epidemia que ocorre em todo o mundo, em consequência de mudanças no estilo de vida e na alimentação.

Entre 20 e 25% da população brasileira adulta é hipertensa, resultado do consumo excessivo de sal, da obesidade e do sedentarismo, que elevam os níveis da pressão sanguínea. Um indivíduo obeso tem uma chance até seis vezes maior sofrer de pressão alta.

Mais de um terço dos brasileiros morrem de doenças do sistema circulatório, principalmente de infartos do miocárdio e acidentes vasculares cerebrais ou derrames, problemas decorrentes, entre outros fatores, da hipertensão, que provoca uma série de outras injúrias. O sangue circula com mais força, sobrecarregando o coração e a parede das artérias, danificadas com o passar dos anos.

Essa situação favorece a deposição de placas de gordura nas artérias, que se tornam mais estreitas, até ocorrer um infarto ou derrame. Outros órgãos dependentes da circulação de muito sangue também são prejudicados e sofrem danos, como olhos, rins e pênis. As consequências são perdas de visão, mau funcionamento renal – inclusive com a necessidade de hemodiálise – e a impotência sexual.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda o consumo diário de até cinco gramas de sal ou 2,4 gramas diárias de sódio, componente do sal cujo excesso provoca a pressão alta. O brasileiro consome, em média, 12 gramas diárias de sal, o que corresponde a aproximadamente 5,8 gramas de sódio – elemento presente em quase todos os alimentos, inclusive em bolos, doces e chocolates.

O combate à hipertensão esbarra no fato de se tratar de uma doença silenciosa, assintomática, a não ser quando ocorrem os picos de pressão, que provocam mal estar geral, tonturas e dor de cabeça. A grande dificuldade encontra-se na seguinte situação: como convencer alguém a modificar hábitos pessoais por causa de uma doença quase invisível, que não provoca sintomas? Padrões de alimentação fazem parte da cultura de cada povo, sendo hábitos herdados dos antepassados, e mudanças nessa área são sempre penosas. E o sal, ao lado do açúcar, é um dos componentes alimentares mais prazerosos para pessoas.

Modificações nos hábitos pessoais e alimentares são indispensáveis para melhorar o padrão de saúde da população. Se o Brasil seguisse as recomendações da OMS para o consumo de sal, haveria uma queda de 15% nas mortes por derrames e de 10% por infartos. Mudanças simples, como retirar o saleiro da mesa de refeição, ajudam a reduzir o consumo de sal. Cozinhar em casa, utilizando menos ingredientes industrializados, também ajuda. Conferir o teor de sódio nas embalagens dos alimentos industrializados é medida poderosa no combate à pressão alta: alguns alimentos industrializados muito consumidos são campeões nos teores de sódio e devem ser evitados, como macarrões instantâneos, salgadinhos de saquinho e sanduíches das redes de fast-food.

O governo federal tem centrado o combate à hipertensão arterial na distribuição gratuita de medicamentos contra a doença pelo programa Farmácia Popular. Porém, mesmo dispondo do medicamento, muitos o utilizam da maneira errada, tomando os comprimidos apenas quando acreditam que a pressão está alta; na verdade, o produto deve ser ingerido todos os dias, e somente o médico pode receitar ou alterar a dose de um medicamento para pressão alta.

No entanto, muito mais é necessário. Campanhas na mídia estimulando mudanças no estilo de vida, através da prática regular de exercícios físicos e da redução no consumo de sal, são exemplos de medidas possíveis. Pelo seu papel multiplicador nas famílias, destaca-se também o trabalho educativo permanente com as crianças e adolescentes do ensino fundamental.

 

Rodolpho Telarolli Jr. é médico, doutor em Saúde Coletiva e professor da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Unesp em Araraquara.

 

 

    

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