Escrito por Marcial Carlos Ribeiro
Estamos passando por crise profunda na saúde brasileira. Uma crise que não afeta apenas a população que por sua localização está afastada dos centros mais desenvolvidos. Na periferia das grandes cidades, a deficiência, também, é testemunhada diariamente. Criaram-se siglas, entre elas as UPAS, com a intenção de diminuir as procuras hospitalares, mas elas não obedecem às próprias regras de qualidade, como as necessárias e determinadas pela vigilância sanitária, para evitar contaminações.
Sem condições para funcionar corretamente, essas unidades transformaram-se em mini-hospitais despreparados. Nelas, não são encontrados medicamentos apropriados para debelar infecções mais sérias, e então, nos casos graves, os pacientes são encaminhados, na maioria das vezes, já contaminados para os hospitais. Isso acaba induzindo às contaminações nos ambientes hospitalares, principalmente nas UTIs.
A falta de planejamento adequado sempre existiu no Brasil. Não se trata de culpar este ou aquele governo. É inadmissível escutar que pacientes contaminados já constituem uma endemia e pouco ou nada há que se fazer. Será que estes pacientes seriam admitidos pelas organizações cuja preocupação é a segurança do paciente, instituições detentoras de acreditação no mais alto nível? Se isso existe em hospitais de grandes cidades, imaginem o que acontece em locais onde não existe estrutura sequer para verificar esse estado, cujo diagnóstico não tem confirmação e a conduta será dúbia.
Estes hospitais vão funcionar como as UPAS. Terão que fazer o encaminhamento para hospitais qualificados, e os pacientes contaminados não irão iniciar um processo de inviabilidade para pessoas até então não estavam contaminadas? É inacreditável a situação deste país em matéria de saúde pública. Uma vergonha diante da afirmação constitucional de que saúde é direito de todos.
Falar sobre o programa mais médico causa tristeza, o que existe são intenções políticas de manutenção do poder. Para isso, tentam resolver problemas sérios utilizando meios irreais. Porque não se pensou em estrutura para a saúde antes do investimento para as arenas da Copa do Mundo? O princípio de uma conduta adequada chama-se diagnóstico e o complemento para bons resultados é a terapêutica adequada somente possível a partir do diagnóstico correto.
Por outro lado é imperativo que toda a população tenha assistência médica. Evidentemente que sim. Está com o governo, mais especificamente no Senado, o projeto de carreira de estado para os médicos. Não é hora de o gigante adormecido acordar, começando pela saúde? Cabe aos médicos brasileiros exigir o encaminhamento do projeto. Entendo que no início da carreira não haverá dificuldades de ter os profissionais não importa aonde, desde que temporário e com possibilidades de evolução na carreira, mas é preciso entender, da mesma forma, a necessidade da estrutura para permitir uma assistência qualificada.
* É instituidor da Fundação de Estudos das Doenças do Fígado, comendador da Ordem do Mérito Médico Nacional pela Presidência da República e diretor superintendente dos Hospitais São Vicente – FUNEF (Curitiba).
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