Escrito por Rubens dos Santos Silva*

 

Caro Presidente, prezadas Conselheiras Cacilda Pedrosa e Maria das Graças Creão, estimados Conselheiros, queridos Funcionários do Conselho Federal de Medicina: cada um de vocês tem uma função ou um cargo ou um tipo específico de responsabilidade nesta casa; não há nenhuma importância maior ou menor nas atividades desenvolvidas por cada um nesta instituição,como também não se pode considerar alguém aqui mais importante do que outro, seja qual for o seu papel, pois importante mesmo é o organismo – o Conselho, que depende diretamente das ações desenvolvidas por cada um dos membros que o constituem; seguindo o que ensinou São Paulo, “ assim como o corpo é um só apesar de ter muitos membros, todos os membros, embora muitos, formam um só corpo; portanto, os membros são muitos, mas o corpo é um só”, a nenhum será permitido dizer que é apenas a sua pessoa, desvinculada do organismo que integra, do mesmo modo que à instituição não é lícito omitir a importância de cada um para o todo, pois quando dois fazem a mesma coisa, não é a mesma coisa, como nos ensina Terêncio, para enfatizar que as ações individuais, mesmo semelhantes e buscando o mesmo objetivo, diferem na sua essência por estarem vinculadas às características de quem as realizou. E quando acontece sintonia entre os componentes de um grupo e produz um resultado geral benéfico, isso é a constatação da maravilha de que as pessoas são capazes: de homogeneizar conhecimentos e trabalho para que o organismo que constituem funcione saudavelmente . E graças ao empenho de cada um, o Conselho Federal de Medicina é uma instituição que vem se enriquecendo legal, moral, técnica e intelectualmente, sem refluxos, por conta dos que o fazem; a sua importância no contexto dos organismos legais e representativos do Brasil é, incontestavelmente, das maiores na nossa sociedade. É natural, por isso, que inspire temor e confiança, que surjam êmulos e parceiros, tanto no meio médico como nos poderes constituídos e nas mais diversas organizações e em indivíduos, ao sabor de interesses vários ; daí que cada vez mais temos de mostrar e comprovar aos médicos, às instituições e à população brasileiras, o que verdadeiramente somos, pois dehá muito ultrapassamos os limites da simples representatividade profissional e do que se convencionou denominar de entidade. Os homens costumam julgar pelos olhos antes do que com as mãos, pois é mais fácil ver do que tocar e assim ocorrem avaliações superficiais do Conselho Federal de Medicina.

Socorro-me então da arguta observação de Joaquim Nabuco, entre aquilo que somos e o que outros acham que somos:

 “A borboleta nos acha pesados, o pavão nos vê mal vestidos, o rouxinol nos considera roucos, a águia nos vê rastejantes”. Nesta casa não temos apenas os valores individuais de cada funcionário e de cada conselheiro entulhados, depositados como obrigações a cumprir ao bater do ponto ou no comparecimento às sessões; temos, na verdade, principalmente o todo e o seu resultado, oriundos da contribuição das qualidades de cada um aqui trazidas e harmonicamente somadas para a consecução do que perseguimos e pelo que assumidamente somos responsáveis; e a responsabilidade, assim entendida como a sintonia dos membros com o organismo e deste com cada membro, tem conduzido o Conselho Federal de Medicina para o patamar onde se encontra. Os bons e os maus sucessos das ações produzidas nesta instituição são da responsabilidade de todos e de cada um. A consciência disso, que remete ao comprometimento institucional hoje existente em cada um de nós, deve permanecer viva e ser continuamente estimulada, por ser saudável e constituir fator de felicidade e de orgulho para todos nós. Cristo falou que se conhece a boa árvore pelos seus frutos, pois os bons frutos só podem sair de boas árvores. Aqui os frutos são as ações que produzimos e a árvore é o Conselho Federal de Medicina.

 Todos os que estão ou estiveram compondo este Conselho, têm o indelével registro histórico da sua contribuição pessoal para a evolução e para o aprimoramento deste órgão; a quantidade de intervenções e a qualidade do que foi oferecido por cada um dos funcionários ou conselheiros em termos de ideias ou de ações práticas para a sua execução, jamais poderão ser mensuradas, pois as quantidades são incontáveis e não temos capacidade de aquilatar a qualidade do que recebemos, pois a pretensão de julgar a nós mesmos não se cogita aqui, e a instituição de agora será avaliada pela história; os projetos pessoais trazidos na nossa bagagem quando aportamos nesta casa, felizmente são diluídos no plasma institucional, são metabolizados para produzirem a energia de que o todo – CFM -deve utilizar para as ações externas e para o seu próprio aprimoramento; nenhum membro pode almejar ter maior relevância entre seus pares, no caso dos conselheiros, e nem mais importância do que os seus colegas, quando funcionários. O todo nos baliza e integra a todos os que o constituem, de forma neutra, fraterna e justa, fortalecendo-se e nos engrandecendo. Para isso, a natureza nos deu a capacidade de estabelecer convivência com os nossos semelhantes, auxiliando as nossas virtudes a promover o bem, amparando-se nas virtudes de outrem, e isso tem norteado o comportamento e as atitudes dos que integram o Conselho Federal de Medicina.

 É comum e normal que as pessoas não tenham, rotineiramente, lembranças das instituições a que estejam ligadas, somente lhes prestando atenção quando há falhas por omissão ou por ações que não lhes agradem. É compreensível que assim ocorra, visto que a proteção institucional é sempre bem -vinda a qualquer pessoa, e quando as ações desenvolvidas contrariam interesses ou mesmo perspectivas individuais ou de grupos, os reclamos ocorrem. Os médicos não diferem disso; quando o Conselho Federal de Medicina se posiciona, apoiando ou combatendo situações que afetam os médicos e a medicina, não é raro que surjam críticas desfavoráveis às posições assumidas, e é lícito deduzir que decorram da incompreensão dos médicos sobre o papel do CFM ou de ruídos na comunicação de que padecemos cronicamente. O entendimento exposto por Antonio Vieira em meados do século XVII, de que o importante, o que realmente tem valor não é o semeador, mas o que é semeado e que o pregador tem menor importância do que aquilo que prega, ainda não se impregnou de todo entre nós. O entendimento dessa assertiva do genial padre é de que o semeador e o pregador são as palavras, enquanto que os produtos disso são as ações; e o nosso Conselho Federal de Medicina prega , semeia, desenvolve as ações e persegue seus resultados; as ações que patrocina são construídas a partir dos discursos ocorridos nas sessões plenárias e amparados pelos qualificados funcionários que fazem esta casa, onde o semeador também semeia e o pregador igualmente prega; das falas produzimos as ações que oferecemos aos médicos, à medicina e à sociedade brasileira.

 Esta instituição não tem a pretensão de ensinar medicina, mas tem o dever e, e o vem cumprindo, de normatiza-la para o seu exercício em nosso país. Entendemos de há muito que a diferença entre o saber médico e o saber ser médico é abissal. O aprendizado da medicina é conquistável por qualquer pessoa que tenha acesso ao conhecimento específico e que seja ao menos medianamente inteligente, o que a levará a ser aprovada nas provas das disciplinas e até nos testes de aptidão, garantindo-lhe o título de médico e até o de especialista em área que escolha; mas isso não é o bastante para cumprir, ao longo da sua trajetória profissional, a missão do médico – cuidar dos doentes sob os seus cuidados; e esse cuidar significa acolher, proteger, se interessar pelos seus pacientes como semelhantes, como pessoas caras a alguém, que irão a um desfecho de sucesso ou insucesso a depender da vários fatores, dentre os quais as ações do médico são, indubitavelmente, os mais importantes e mesmo decisivos mas nunca os únicos.

Nesta casa temos tido a tristeza de condenar colegas portadores de alentados currículos de formação, mas que ao prestarem assistência a alguém sob os seus cuidados pecaram contra a ética médica por não as consideraram uma pessoa, atuaram sobre um objeto, interessando-se pela cura , pelo sucesso dos seus atos, ou seja, por si mesmo, obedecendo a um narcisismo parente próximo da arrogância e da soberba, que são incompatíveis com a prática da medicina. Há quase cem anos, Lima Barreto comentou sobre um atendimento médico que recebeu: “ É bem curioso esse Roxo (Henrique, psiquiatra). Há quatro anos nos conhecemos; ele me parece inteligente, estudioso, honesto. Ele me parece desses médicos imbuídos de um ar de certeza de sua arte, desdenhando toda atividade intelectual que não a sua, e pouco capaz de examinar o fato por si. Acho-o muito livresco e pouco interessado em descobrir, em levantar o véu do mistério – que mistério! – que há na especialidade que professa. Lê os livros da Europa, dos Estados Unidos, mas não lê a natureza; não lhe tenho antipatia, mas nada me atrai nele. Os internos evitam conversar com os doentes.No tempo de meu pai não era assim e, desde que descobrissem um doente, se aproximavam e conversavam”.

O Conselho Federal de Medicina persegue, sistematicamente, a conscientização dos profissionais médicos brasileiros para valorizar o seu paciente mais que a doença de que ele padece, de que estudem as ciências que embasam a medicina e que treinem a forma de utilizá-las, mas sempre sobre a base do interesse pela pessoa que atende. Entende-se assim que a máxima que norteia este Conselho entendendo a medicina não como a arte de curar, mas como o dever de assistir, tem se mostrado adequada, benéfica e justa para os médicos e para quem deles necessita.

Nesta casa não se ensina medicina, pois não temos prerrogativas para tal, não somos academia, não constituímos escola, não organizamos treinamento profissional; os que a constituem têm as suas limitações intelectuais, técnicas e de conhecimento científico seguindo a média dos colegas brasileiros; não temos, portanto, qualificação nesse sentido, acima da dos médicos que nos escolhem, a cada cinco anos, para representá-los; mas estou certo de que quando aqui aportamos, somos imediatamente contaminados pelo senso do dever e da carga de responsabilidade inerentes à atividade conselheiral. Aqueles que repetem mandato e os que estreiam nessa obrigação, logo se igualam nas ações, dirigindo suas contribuições pessoais para constituir a amálgama do Corpo de Conselheiros do Conselho Federal de Medicina; as procedências de cada um aqui não são se diferenciam, elas se confundem para formar e enriquecer o todo; os sotaques se anulam, transmutando-se no tom monocórdio da ética profissional médica. As cores podem variar entre nós, mas se misturam para resultar no matiz que simboliza a nossa busca incessante e profunda por atingir uma medicina brasileira ética e, assim, respeitada. Aqui também se estuda o Brasil, aqui também se descobre o Brasil, a partir do que nos chega da natureza humana a cada processo ético que julgamos.

Sr. Presidente, Caríssimos Conselheiros, Queridos Funcionários: a minha trajetória nesta instituição, em um espaço temporal compreendendo mais de um terço da minha vida, trouxe-me importante contribuição para o meu enriquecimento pessoal; estou certo de que sou, agora, melhor cidadão, melhor médico e mais útil à sociedade que integro. A convivência com vocês, em situações de diversas naturezas, seja em momentos de sólida harmonia ou em ocasiões de radicais divergências, aprimoraram a minha pessoa. Aos Conselheiros com os quais convivi, o meu reconhecimento pelas lições e exemplos que me foram oferecidos nos mais diferentes tons; tanto as concordâncias como as divergências que partilhamos contribuíram para o meu desenvolvimento.

Tentei sempre no Conselho Federal de Medicina, corresponder às expectativas e à confiança dos colegas do Rio Grande do Norte que me escolheram para representá-los nesta casa normativa da ética médica; igualmente, ao assumir cargos diretivos na nossa organização, esforcei-me até o limite das minhas capacidades e aptidões para falhar pouco e produzir o melhor em benefício da instituição e das pessoas que dela dependem direta ou indiretamente. As minhas atividades como Conselheiro me acompanhavam diuturnamente, sempre procurei cumprir o que fosse da minha competência.Elaborei, nesta minha passagem de quatro mandatos, 24 Pareceres que foram aprovados pelo nosso Plenário e que têm contribuído para a formação do pensamento e decisões desta casa Ao participar de Comissões e de Câmaras Técnicas (muitas idealizadas por mim), esforcei-me para que fossem produtivas, que os objetivos para os quais foram criadas viessem a ser atingidos. Orgulho-me da contribuição que dei para a criação e a instalação do Programa de Educação Médica Continuada, incentivando os Conselhos Regionais a implantá-lo. Por ter um espírito institucional, mesmo não fazendo parte de nenhuma instância ou colegiado no mandato que agora encerro, afora, claro, os de natureza judicante, sempre me fiz presente, quando instado a colaborar e não considero a informalidade das minhas contribuições como de menor importância, sempre me sinto gratificado e até honrado ao ser solicitado a ajudar.

A tristeza que agora me assola é a constatação de que me faltou, para completar a minha atividade conselheiral, a habilidade, a competência e o prestígio político nesta casa para implantar, a partir do Conselho Federal de Medicina, um projeto que considero da mais alta relevância e de grande necessidade para os médicos brasileiros, que consistiria em uma grande rede de assistência ao médico doente; escrevi e detalhei o projeto, que sairia a um custo muito baixo, inferior ao gasto com a logística para o funcionamento de diversas atividades bancadas pelo CFM, que preferiu incinerar o aludido projeto, por razões que agora não vêm ao caso.

Não levando isso à conta de uma derrota pessoal, mas considerando um marcante equívoco cometido pelos dirigentes do Conselho, digo-lhes que a minha tristeza é sobradamente compensada pela felicidade que tive em conviver com pessoas tão especiais nesta casa. Os meus pares ,sempre me dedicando fraternal convivência, seja nas concordâncias, como também nas vezes em que discordávamos, conquistaram o meu afeto, o meu respeito e os carregarei comigo para sempre, aonde eu for; mercê da benevolência dos colegas que me honraram ofertando-me, acima do meu merecer, a sua atenção, sinto-me um privilegiado – tenho abrigo, abraços e sorrisos em qualquer pedaço do Brasil onde chegue. Aos que permanecem neste sinédrio e aos que já estão em outra dimensão, expresso a minha admiração e o meu agradecimento e aqui registro o meu reconhecimento da dívida que não se paga – a amizade; imensamente grato, tocado e até orgulhoso, a todos os Conselheiros, o meu respeito. Aos médicos que agora chegam para compor este colegiado, lembro que o cargo ocupado nesta casa é honorífico, não há lugar aqui para o aproveitamento pessoal por Conselheiro; a vaidade, a arrogância, o narcisismo e a prepotência são incompatíveis com a atividade de membro do Conselho Federal de Medicina; É imperioso o entendimento de que o importante é a ação, não o seu propositor; o orgulho de ser Conselheiro deve estar a serviço das causas a defender coletivamente e não para servir como estandarte pessoal. A lealdade aos seus pares e à instituição maior dos médicos deve ser dogmática para cada um componente desta casa. O aparelhamento do CFM a partir de Conselheiros ligados a facções políticas, ideológicas ou comerciais, tem se mostrado profundamente deletério aos interesses dos médicos e da medicina, devendo ser combatido e repelido.Sem nenhuma exceção,em todas as ocasiões em que um membro deste Conselho agiu em obediência aos seus mentores ideológicos ou políticos ou de grupos comerciais, minando as ações do CFM e de Conselhos Regionais,o prejuízo foi patente, muito mais moral do que político. E não podemos correr riscos de abalos ou de derrotas morais. A responsabilidade de quem dirige este organismo, que não pode ser confundido com mera entidade representativa de grupelhos, não pode ser atrelada a amizades e a compadrios; já temos exemplos práticos de quanto nos custou esses afagos a pessoas ou grupos que, mesmo conseguindo eleger seus prepostos, não traduzem os verdadeiros anseios dos médicos. Ao dizer que a sua amizade sincera e devotada a Platão estava abaixo da verdade, Aristóteles interpretava Sócrates, para quem o respeito à verdade deveria sempre ser maior do que a ele próprio, pelos seus alunos

Por uma imposição da honestidade que visceralmente carrego e por dever de justiça para quem tanto fez por mim, não poderia me omitir, nesta ocasião tão significativa, de citar a quem sempre me ajudou, tolerando as minhas intolerâncias, me ensinando as tarefas das quais participei, desculpando as minhas falhas, me ofertando sorrisos nos cumprimentos; testemunhei, em algumas dessas pessoas, momentos de tristeza e muitas vezes não pude ajudar mais do que ouvindo, e espero que alguma palavra ou gesto meu, possa em alguma ocasião, ter servido de lenitivo e nunca de agravamento; por outro lado e, felizmente, em muito maior escala, assisti e até participei de alegrias vividas por integrantes desta casa – os funcionários do Conselho Federal de Medicina. Vocês são para mim, tão queridos como se meus parentes fossem, e assim me permito conceder a mim mesmo a honra de fazer a sua chamada nominal, pronunciando prazerosamente o nome de cada um e associando um pedido de desculpas por qualquer mágoa que eu tenha provocado; tenham certeza do bem que lhes devoto,….

Registro o meu sincero e reconhecido agradecimento a colegas que, quando adoeci, me assistiram examinando, orientando e encaminhando a busca da minha recuperação, da qual sempre queriam saber, em verdadeira demonstração de fraternidade; quero personificá-los na figura ímpar de José Hiran da Silva Gallo, cuja solidariedade se soma a outras qualidades que o fazem enriquecer o acervo humano do Conselho Federal de Medicina.

 Neste lapso de vinte anos em que me abanquei no Conselho Federal de Medicina, vivenciei também fora deste ambiente momentos de emoções, sempre intensamente, de acordo com o meu jeito de ser e estar no mundo; acompanhei os últimos momentos de vida da minha mãe e tive a excelsa honra de fechar os olhos do meu pai; ganhei stents e um marca-passo, mas aqui estou, no meio de vocês, pessoas com as quais convivi e que dizem tanto para a minha existência e que contribuíram para eu chegar ao que sou, como médico e como pessoa – um homem feliz!

 O que sinto e penso neste momento, ao concluir o mandato e me despedir dos quadros desta instituição, não tenho condições de expressar em palavras; a minha simples oração, fruto da limitação intelectual que carrego e da emoção que me envolve é, certamente, contrastante com a magnitude desta reunião e com a importância desta casa, de quem me afasto fisicamente, mas que a levarei aonde eu for. Que as minhas palavras, simples e sinceras, agora confiadas aos seus ouvidos e às suas almas, queridos amigos, possam ultrapassar os nossos muros e que venham a frutificar naquilo que for bom. Ao chamá-los repetidamente de amigos, o faço com a intenção de lembrar-lhes que a amizade nos foi dada pela natureza para auxiliar as nossa virtudes e não como cúmplice de nossos vícios. Saio desta casa com a convicção de que fui útil, de que laborei para produzir sempre o que fosse bom e o melhor para a classe médica e para a sociedade brasileiras, e daqui recebi de volta riquezas humanas inestimáveis para a construção da pessoa que hoje sou. Mas há um tempo, como disse Fernando Pessoa, “ em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já têm a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares; é o tempo da travessia que, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado para sempre à margem de nós mesmos.” E assim, dou por terminada a minha jornada, ousando parafrasear São Paulo: “Combati o bom combate, terminei a minha carreira, guardei a fé”.

 Aqui termino o meu discurso, no qual falei o que me pareceu adequado. Prefiro que se esqueçam de mim, do que se lembrarem e ficarem tristes, pois a saudade já se instala no meu peito e, certamente me acompanhará em outras jornadas que tenciono trilhar.

 E para que a saudade não se torne fugaz e pesada para nós, mas permanente e fonte de alegria, cito-lhes os versos de Antonio Pereira: “Saudade é um parafuso/ que na rosca quando cai/ só entra se for torcendo/ porque batendo não vai/ e quando enferruja dentro/ pode quebrar, que não sai; e quem quiser plantar saudade/primeiro escalde a semente/ depois plante em lugar seco/ onde bata o sol mais quente; pois se plantar no molhado, quando nascer mata a gente”.

 Caso eu tenha desempenhado bem o papel que me foi atribuído, então que saia eu daqui aplaudido. Obrigado.

 

Brasília-DF, 30 de setembro de 2014

 

 

 

Discurso proferido em encontro de ex-conselheiros federais da gestão 2009/14.

 

* Rubens dos Santos Silva é médico psiquiatra, exerceu os cargos de conselheiro federal representante do Estado do Rio Grande do Norte, membro titular da Associação Brasileira de Psiquiatria e presidente da Academia de Medicina do Rio Grande do Norte. Rubens dos Santos Silva exerceu ainda os cargos de presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado (Cremern), secretário geral e vice-presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM), além de secretário-adjunto de Saúde do Rio Grande do Norte. Ocupa atualmente a Presidência do Memorial da Medicina do Estado.

     

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