Escrito por Aguinaldo Nardi* e Antonio Carlos Lima Pompeo**
A autoria desta alarmante declaração foi de uma associação médica americana – US Preventive Task Force, argumentando que a elevação dos níveis do PSA no sangue, pode sugerir câncer e orientar a realização de biópsias cujos resultados são negativos em mais de 70% dos casos. Afirma ainda que as biópsias podem apresentar complicações (ex: infecção local) e que os resultados positivos podem significar câncer de baixo risco cujo tratamento cirúrgico ou radioterápico (os mais efetivos) seriam dispensáveis, evitando desta forma custos e eventuais efeitos colaterais (impotência e, raramente, incontinência urinaria). Por último, defende a realização do exame urológico que inclui o exame digital retal (toque) e dosagens do PSA apenas em pacientes sintomáticos, ou seja, com alterações urinárias, queda do estado geral, dores ósseas, etc. Este último argumento recebe crítica contundente da coletividade médica, pois já está bem estabelecido que o diagnóstico, nesta fase com sintomas, em geral já caracteriza doença neoplásica avançada e com menores chances de cura e/ou controle.
A orientação da US Preventive Task Force recebeu imediata reação mundial por parte das mais importantes sociedades urológicas, entre as quais a Associação Americana de Urologia (AUA) e a Associação Europeia de Urologia (EAU), que consideraram esta que esta orientação prestou um enorme “desserviço”, inapropriado e irresponsável para com a população masculina após os 50 anos, principalmente aqueles com maior risco para desenvolver este câncer, ou seja, com antecedentes familiares de câncer de próstata e descendência da raça negra. Destaque-se, ainda, que um contingente significativo de homens adquire neoplasias, por inúmeras razões sem pertencer a qualquer dos grupos de risco citados.
As argumentações mais consistentes para realização sistemática do teste do PSA e avaliação urológica em homens com boas perspectivas de vida incluem:
– a existência de claras evidências de que o diagnóstico precoce do câncer da próstata, principalmente na fase sem sintomas, permite a cura do câncer, ou seja, …. “salva vidas”.
– estudo recente realizado pela European Randomized Study for Screening of Prostate Cancer (ERSPC) que incluiu milhares de homens para seguimento por período maior que 10 anos, dividindo-os em dois grupos: os que realizaram o teste sistemático do PSA versus aqueles nos quais foi realizada apenas “observação” e exame do PSA quando surgiram sintomas. No primeiro grupo os resultados mostraram diminuição de mortes relacionadas diretamente ao câncer em 21%! Para que se tenha uma dimensão do problema deve-se destacar que esse tumor é o mais comum entre os homens após os 50 anos em várias regiões da América e da Europa, sendo a 2a causa de morte por câncer.
É fato bem conhecido que os tumores da próstata não têm agressividade semelhante, porém existem indícios claros que sugerem a necessidade de tratamento adequado, sem grande demora, para os casos de tumores que tenham algumas características, por exemplo, células com diferenças acentuadas em relação à célula normal, tumores grandes, invasivos local e/ou regionalmente, etc. Assim, de posse destas informações, cabe ao urologista, de comum acordo com o paciente, optar pela melhor conduta – cirúrgica, radioterápica, tratamentos alternativos ou apenas regime de observação continua, nos casos considerados de baixa agressividade ou cujo tratamento invasivo possa ser inadequado para aquele paciente.
A Sociedade Brasileira de Urologia se associa a esta reação mundial contra aquelas orientações da US Task Force e recomenda a avaliação periódica de homens, mesmo assintomáticos após os 45-50 anos, buscando identificar tumores em fase inicial, cuja possibilidade de cura é muito grande.
Alertamos que a elevação do PSA não significa necessariamente câncer de próstata. Outras situações clínicas podem alterar seus valores, entre elas a hiperplasia benigna da próstata, prostatite, traumas, etc. O urologista, baseando-se nas informações relacionadas às queixas, ao exame físico (toque) e laboratoriais tem plenas condições de esclarecer o diagnóstico, decidir pela realização de biópsia e oferecer a orientação mais adequada.
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Nos últimos dias, o mundo todo foi surpreendido pela notícia veiculada na imprensa leiga e médica sobre a validade da realização do exame PSA para detecção do câncer da próstata em fase inicial em homens após a 5ª década de vida e que não apresentem sintomas associados ao tumor.