Escrito por Evaldo Alves D´Assumpção, médico biotanatólogo, membro emérito da Academia Mineira de Medicina

The Economist, respeitada revista inglesa, produziu e publicou neste ano, um relatório sobre a habitabilidade (liveability) nos diversos países, sob o título: “A qualidade da morte – avaliação dos cuidados no final-da-vida em redor do mundo”. O Brasil foi classificado em penúltimo lugar.

Ainda que se multipliquem equipamentos e recursos terapêuticos para prolongar mais e mais a vida, por mais que nos iludamos com a idéia da imortalidade neste mundo de impermanência, a morte será sempre mestra e companheira, desde a nossa gestação até o seu abraço final. Todo ser vivo é destinado à morte. Não há como ignorá-la.

Por outro lado, o conceito de “qualidade de vida” inclui, em seus parâmetros, a “qualidade de morte”. Nem todos morrem subitamente e a vida persiste até que se estabeleça a morte cerebral. Consequentemente, tudo o que acontece à pessoa agonizante (qualidade de morte), é contabilizado para definir a totalidade de sua “qualidade de vida”.

Ela é avaliada pelo índice de respostas positivas às questões: Qual o grau de conforto físico, psicológico e espiritual o enfermo recebe na fase terminal de sua doença? Suas dores são aliviadas adequadamente?  Sua necessidade de mobilização lhe é proporcionada de forma satisfatória? Seus questionamentos são respondidos com veracidade, respeito e clareza? Seus medos e suas angustias são acolhidos, respeitados e trabalhados por profissionais devidamente preparados? Se em razoável estado de lucidez, seus desejos são atendidos com mínimas restrições, somente aquelas absolutamente incontornáveis? Nessa mesma condição de razoável lucidez, suas vontades são respeitadas pelos circunstantes?  Se desejar, ele recebe a assistência espiritual de um ministro ou agente religioso, estritamente dentro de sua crença? Se manifestar que já não quer receber tratamentos e procedimentos que lhe são desconfortáveis, às vezes extremamente dolorosos e, sobretudo, sabidamente ineficazes ou com remotíssima possibilidade de lhe trazer reais benefícios, seu desejo será respeitado? No Brasil, predominaram as respostas negativas.

A Tanatologia, que a partir de 2003 passamos a denominar de Biotanatologia – uma ciência da vida, vista pela ótica da morte – procura mudar este panorama sombrio. Para que todos tenham “qualidade de vida”, enquanto vida existir.

O Tratamento Paliativo e a Biotanatologia somados objetivam:

1) Aliviar as dores e outros sintomas desconfortáveis;

2) Afirmar o valor da vida, ao mesmo tempo em que aceita a morte como um processo natural. Consequentemente rejeita a distanásia: a morte com sofrimentos desnecessários;

3) Não pretende apressar nem retardar a morte. Portanto rejeita a eutanásia, mas defende a autanásia : permitir que a morte (tánatos) ocorra por si só (auto), naturalmente.  Também chamada de ortotanásia (morte correta);

4) Procura integrar os cuidados psicológicos e espirituais para o enfermo;

5) Oferece um sistema de suporte que ajude a esses enfermos a viverem ativamente conforme suas possibilidades, até o óbito;

6)Oferece um sistema de suporte aos seus familiares para melhor se relacionarem com o enfermo e para lidarem com o luto antecipado – que se inicia quando definida a inexorabilidade da evolução da doença – e com o luto após a morte;

7) Utiliza o trabalho em equipe com profissionais de diversas áreas, para melhor proporcionar os suportes necessários ao enfermo e aos seus familiares;

8) Com isso procura proporcionar qualidade de vida para todos, e como consequência, interferir para uma melhor evolução da doença;

9) É um sistema que deve ser aplicado desde o início de uma doença grave, inclusive junto com os processos propedêuticos e terapêuticos rotineiros, que estejam sendo utilizados buscando a melhoria ou a cura do enfermo;

10)  Cuidados Paliativos é o resultado da inclusão da Biotanatologia para constituírem, juntos, um sistema uniforme de suporte ao conjunto enfermo – família – profissionais envolvidos no tratamento.

 Dentro deste contexto podemos afirmar que os Tratamentos Paliativos são atos médicos, portanto da alçada desses profissionais. Já a Biotantologia, atuando essencialmente nos campos psicológico e espiritual, é um trabalho multiprofissional, aberto a profissionais das áreas de saúde e humanas, ou seja, médicos, psicólogos, enfermeiros, assistentes sociais, ministros religiosos, etc., desde que tenham formação e treinamento adequados para tal.

Evaldo Alves D´Assumpção é autor do livro Sobre o Viver e o Morrer – Ed. Vozes, Petrópolis 2010


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