Escrito por Antonio Carlos Lopes*

 

Cuidar com dignidade dos pacientes vitimados por doenças graves e sem chances de sobrevivência; dar a eles todo o suporte psicológico, espiritual e emocional, assim como a seus familiares; e oferecer-lhes assistência médica e nutricional de excelência, para que desfrutem de uma sobrevida de digna e de qualidade. É assim que deve ser a medicina hoje e sempre. Claro que os recursos tecnológicos são grandes aliados na assistência à saúde. Porém, é mister colocar em primeiro plano, em toda e qualquer hipótese, a visão humanística.

Temos de irradiar a cultura de que é essencial tratar o doente e não apenas a doença que o acomete, pois sempre há algo para se fazer pelo doente, independentemente de não ter mais chances de sobrevivência. O problema é que hoje, no Brasil, as pessoas com doenças graves, sem perspectiva de sobrevivência, estão duplamente castigadas. Primeiro não têm o que fazer contra a doença. Depois, são praticamente condenadas a ter um triste fim, já que o interesse em tratá-las com dignidade é pouco.

Infelizmente, há planos de saúde que adotam um comportamento antiético e as tiram dos hospitais. Para eles, representam custos. Fala-se muito em home care, mas não se não leva em consideração os familiares, o fato, por exemplo, de que crianças conviverão com aquele doente e precisariam ter uma preparação psicológica, ter um apoio emocional. Outro problema grave é que muitas instituições públicas simplesmente não têm interesse nesses pacientes. Enfim, é a total falta de respeito e humanidade.

Sou um defensor entusiasta da expansão da medicina paliativa. Faz pouco tempo criamos na Sociedade Brasileira de Clínica Médica uma Diretoria de Cuidados Paliativos. Seu intuito é, igualmente, o de difundir esse conceito humanístico para os médicos e suas sociedades de especialidades, o meio acadêmico, instituições de saúde públicas e particulares, como ainda para os gestores do sistema de saúde em âmbitos municipal, estadual e federal.

É urgente uma política de governo para o atendimento humanizado a esse grupo de pacientes. O estado precisa criar centros regionalizados de cuidados paliativos que funcionem também como hospital-dia. Assim garantiremos que aquele que não necessita de internação seja atendido em suas demandas, inclusive liberando leitos para outros. Ele poderá fazer exames, curativos, receber cuidados gerais, ou seja, um tratamento adequado e competente.

É isso, aliás, o que estamos fazendo na Disciplina de Clínica Médica da Unifesp, da qual sou professor titular. Inauguramos um ambulatório de cuidados paliativos, no qual, além do atendimento de excelência, promoveremos palestras a familiares, para debater questões como tratamento, prevenção, entre tantas outras ações. Compreendo que uma política pública com características semelhantes é inadiável.

O médico que é bom médico tem de acompanhar o paciente sempre, e não largá-lo quando chega ao fim e não possui mais possibilidade de vencer uma determinada doença. Vivemos tempos de grande avanço tecnológico, mas, como já disse, nada substitui o tratamento humanizado, nada é mais importante do que o médico que tem nome e rosto e que conhece o nome e o rosto do paciente. Não podemos aceitar que pessoas sejam tratadas como o doente do quarto 32, 48, 112. Esse é um dos motivos pelo qual desejamos fazer com que as instituições de ensino contemplem em seus currículos temas de cuidados paliativos. Afinal, oferecer uma assistência humanizada também passa pelo processo de aprendizado.

Podemos, tenha certeza, promover uma reviravolta muito positiva na relação médico-paciente. E, todos sabemos, a humanização da prática da medicina passa obrigatoriamente pela assistência digna e pela garantia de sobrevida de qualidade às vítimas de doenças graves sem esperança de cura.


* É professor titular da disciplina de Clínica Médica do Departamento de Medicina da Unifesp e presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica.

 

* As opiniões, comentários e abordagens incluidas nos artigos publicados nesta seção são de inteira responsabilidade de seus autores e não expressam, necessariamente, o entendimento do Conselho Federal de Medicina (CFM).


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