Escrito por José Hiran da Silva Gallo*

Li, com surpresa, o artigo intitulado “Burrice em Verde e Amarelo”, publicado no jornal O Globo, de 12 de novembro último, do cirurgião chefe da Rede Sarah de Hospitais de Reabilitação, Dr. Aloysio Campos da Paz Junior.

De uma agressividade incompreensível, chegando às raias da irracionalidade, o deselegante Dr. Campos da Paz generalizou a burrice, assinou-a e a endereçou a todos os seus colegas que, neste momento, defendem o projeto de regulamentação do Ato Médico.

Nasci e cresci em Rondônia. Fiz dezenas de viagens de barco que duravam vários dias, até Belém, para me tornar médico. Em algumas ocasiões, cruzávamos a selva nos aviões da FAB, catalinas que faziam pousos no solo e na água. Depois de dois anos de residência médica no Rio de Janeiro, retornei a Porto Velho (RO), minha terra natal – onde permaneço há quase três décadas.

Não me foi dada a oportunidade ou o privilégio de trabalhar em um serviço de referência, adequadamente organizado, com os princípios e as características dos hospitais da Rede Sarah. Eu, talvez, tivesse gostado muito de trabalhar no ambiente climatizado da Rede Sarah, ao invés de cumprir minha missão na calorenta e chuvosa Rondônia.

A despeito das diferenças abissais que separam as realidades de Rondônia e da Rede Sarah, existe um ponto convergente entre ambas que é o orçamento destinado para a assistência a Saúde. O orçamento anual da Saúde para o todo o Estado de Rondônia e seus 53 municípios é equivalente ao orçamento dos seis hospitais da Rede Sarah.

Em Rondônia, além dos distúrbios do aparelho locomotor, atendemos às doenças do sistema nervoso, circulatório, respiratório, digestivo, endócrino, dores de cabeça e garganta e assistimos todos os nascimentos e mortes, além da malária (que é endêmica) e dos acidentes ofídicos (que não são raros).

Assim como na Rede Sarah, aqui também atuamos em equipe. Trabalhamos na companhia de competentes enfermeiras, psicólogas, fonoaudiólogas, fisioterapeutas, nutricionistas, técnicos de enfermagem, motoristas, serventes de cozinha e de limpeza, etc. Enfim, todos em conjunto, procuramos, cada qual em seu papel, cumprir a missão de assistir a uma população que é, em sua vasta maioria, carente de tudo.

A saúde em Rondônia, claro, ainda carece de muita organização. Mas, aos poucos, bem aos pouquinhos mesmo, vai melhorando, na medida em que cada habitante desta terra adquire consciência de que é um cidadão com direitos e deveres.

Em relação ao projeto de Lei do Ato Médico tenho uma opinião um tanto diferente daquela subscrita pelo Dr. Campos da Paz.

Concordo plenamente com o Dr. Edson Andrade, presidente do CFM, em particular quando dispõe que “a proposta é apenas uma expressão da cidadania profissional médica”. Como esclarece o dirigente, “não se trata, como infelizmente se tenta incutir no sentimento da juventude de outras honradas profissões, de um ato de arrogância profissional”. Para concluir, de forma inequívoca, Dr. Edson afirma que “não submetemos e não queremos submeter qualquer outro profissional ao domínio médico”.

Aliás, quem somos nós para subordinar os outros profissionais ao nosso mando?

Se o Dr. Campos da Paz pensa dessa maneira, equivocou-se. Ou deixou-se influenciar cegamente por alguns fisioterapeutas corporativistas, possivelmente frustrados e seguramente raivosos. A Lei do Ato Médico não é a Lei da Arrogância Médica.

O Ato Médico precisa e deve ser regulamentado. É necessário definir claramente o papel de cada profissional e quais os limites de sua atuação e de suas responsabilidades. Isto não impedirá que todos continuem a trabalhar em harmonia, tanto na organizada Rede Sarah quanto nos improvisados pontos de atendimento do interior de Rondônia.

Quanto à desconcertante burrice citada pelo Dr. Campos da Paz, há que se fazer certa reflexão. Por vezes o pedantismo do raciocínio se apóia apenas na ignorância dos fundamentos do assunto. Eu, por educação e respeito, não chamaria o Dr. Campos da Paz de burro. Jamais. Nem a ele e nem a ninguém.

* É conselheiro federal pelo estado de Rondônia.

* As opiniões, comentários e abordagens incluidas nos artigos publicados nesta seção são de inteira responsabilidade de seus autores e não expressam, necessariamente, o entendimento do Conselho Federal de Medicina (CFM).


 * Os textos para esta seção devem ser enviados para o e-mail imprensa@portalmedico.org.br, acompanhados de uma foto em pose formal, breve currículo do autor com seus dados de contato. Os artigos devem conter de 3000 a 5000 caracteres com espaço e título com, no máximo, 60.


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