Escrito por Lauro Grein Filho*

Venturosos os médicos de outrora que no exercício de uma profissão liberal, generosa e humana criavam com seus doentes um convívio fraterno, sincero e amigo.  Difícil imaginar que um trabalho nascido sob os auspícios de uma razão imperativa entre pessoas levadas pelo bem próprio e comum, viesse a ser assaltado por uma legião de intermediários, a intervir num processo reservado, com regras, normas e

imposições a constranger o médico, humilhar o cliente e confundir a sociedade.

Sessenta anos de erros, corrupção e incompetência ao estigma da pobreza como pano de fundo, eis o tempo dessa rota para o abismo, compondo uma história difícil de ser contada ao curso de seu enredo intrincado e cruel.  Quando o ministro Adib Jatene criou o IPMF, imposto do cheque, provisório e dedicado à saúde, ao acaso de uma entrevista na TV Educativa com os jornalistas Enéas Faria e Sílvio Sebastiani fui perguntado se acreditava no sucesso da medida. Respondi que nada podia adiantar uma vez que ignorava o trajeto da salutar idéia.

Infelizmente, a dúvida se confirmou. O imposto de provisório tornou-se definitivo sem que nenhum centavo chegasse a seu legítimo dono, desde o início desviado para outras ações administrativas. É fácil no aceso das campanhas eleitorais a menção demagógica da saúde no bojo das promessas que se fazem. Mais habitual ainda, seu descumprimento em favor de outras realizações mais visíveis ao domínio público, com direito à solenidade oficial, banda de música, autoridades placas e pessoas gradas. Ou para as viagens de Lula num avião de 56 milhões de dólares atrás de promissores acordos em países nunca dantes visitados onde fala pelos cotovelos e esbanja a garganta dando o que não tem. 

Melhor do que a construção de um hospital, fonte de gastos em equipamentos, manutenção, farmácia, atos cirúrgicos, corpo clínico e patologias crônicas que eternizam os leitos ocupados. Daí o encerramento de atividades de vários deles inviáveis, inadimplentes, impossíveis. O país não tem condições econômicas de atender à própria saúde, o que torna imprescindível o concurso de seus filhos.

 Nesse sentido, é que ambos têm errado e errado feio. O enredo começou nos meados do século passado com uma parceria entre o Ministério de Saúde e os Iaps, IAPB, IAPC, IAPI, unificados em 1967, no INPS, depois Inamps que, além de assistir os trabalhadores, albergou os não-contribuintes, os rurais e os indigentes.  Na escalada rotineira de mudanças, a Constituição de 1988 criou o Sistema Único de Saúde, o SUS, item utópico destinado ao milagre de uma cobertura universal de toda a população.

Meta do irrealizável, desde logo começaram a faltar os meios para o afã de uma medicina decente e digna, uma vez que os recursos foram para outros “segmentos”, deixando a instituição sem pai e sem mãe para o cumprimento de seus objetivos. Hoje, o SUS atende os mais pobres, após uma burocracia geradora de filas intermináveis.

As classe média e alta passaram a utilizar os planos de saúde, “sistemas privados de medicina supletiva” que proliferam aos montes atendendo mais de 35 milhões de associados com uma série de planos consideradas a idade do paciente e a qualidade dos serviços a que têm direito. Aos ricos é facultado o modelo particular com médico de livre escolha e primeira linha ao preço de 200 a 300 reais a consulta, tranqüila e civilizada, com 45 minutos de duração.

Assim vivemos, assim nos cuidamos. Na condição de assalariado, o médico é muito mal pago. Obriga-se a vários empregos, trabalhando em torno de 48 horas por dia, para as agruras de uma vida modesta e sem amanhã. Ingressei nesse cenário em 12 de janeiro de l967, quando as instâncias do ministro Aramis Athayde, fui eleito presidente da Cruz Vermelha e diretor do Hospital. Assumi o trabalho com a decisão firme de engrandecê-lo, lutando por sua normalidade. Tudo bem, tudo em ordem, quando a Direção Nacional, que já havia fechado, o do Rio, Salvador, Recife, São Luiz, e o Infantil de São Paulo, apareceu por aqui com a mesma intenção.

Ponderei que o Hospital era um patrimônio da cidade, e uma vez em minhas mãos integrei no espírito o dever de conservá-lo e desenvolvê-lo para mais e melhor servir o povo de Curitiba. Teimei c que podia, até me fazerem a vontade. Tive então o ânimo de sentir um estabelecimento cada vez mais importante, modernamente equipado, centro cirúrgico e UTI impecáveis, ordenado numa paz e harmonia perfeitas.

Mas, quiseram os fados que meus anseios não parassem. E aqui estamos numa simbiose com a Unicenp do professor Oriovisto Guimarães, entusiasta, inteligente e objetivo, irmanados e imbuídos na idealização do grande hospital universitário da cidade.

Jamais fugi da realidade imaginando fantasias. Os meus presságios acontecem, muitas vezes para minha própria surpresa. Neste caso o otimismo é impositivo. Uma comunhão de idéias e ideais entre pessoas que já provaram o que são, o que podem e o que farão sob as bênçãos de Deus. Uma dádiva ver as dependências do Hospital pleno de acadêmicos ávidos de saber no trato ameno com os doentes, lembrando nas suas figuras nós mesmos transitando pelas enfermarias da Santa Casa com medo do Mário Abreu.

Haja saudades! Um régio presente para Curitiba e o Paraná, que cada vez mais se afirmam nos avançados centros científicos.

* É médico e escritor.


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