Escrito por José Hiran da Silva Gallo*

A participação de médicos nas atividades político-partidárias é freqüente. Quer seja como candidatos a cargos eletivos ou como apoiadores de campanhas de outros postulantes, médicos ou não, aos poderes Legislativo e Executivo.

Os motivos que fazem com que o médico, assim como qualquer outro cidadão, se engaje ao processo político certamente são tão diversificados e pessoais que precisá-los impõe uma análise arguta de cada caso. Em se tratando de campanha política, cujo propósito é o convencimento do eleitorado, não é demais separar o que diz o discurso de candidato, cujo objetivo é vender uma boa imagem aos eleitores, com a verdade sobre o mesmo. Há muita raposa maquiada de simpático coelhinho. Lamentavelmente, a história política de nosso país (e não só dele) é um exemplo incontestável de tal assertiva.

O médico que se decide por uma atuação ativa na política partidária, ao ponto de candidatar-se a um cargo eletivo, se efetivamente for vocacionado para a medicina e para a política, não tomará essa decisão sem antes vivenciar momentos angustiantes. Isto porque a medicina, se praticada como deve ser, cobra exclusividade. Permite ao médico atuante, quando muito, sutis incursões por outras atividades. Abandonar a medicina é um passo bastante arriscado. Todos os sacrifícios impostos ao médico para sua formação e ascensão profissionais serão trocados, como numa mesa de jogo, por fichas cujo destino é incerto. Na carreira profissional, cada um é, em tese, o timoneiro de seu destino; já na política os fatores condicionantes do sucesso não dependem tão-somente do esforço pessoal para alcançá-lo.

O artigo 10 do Código de Ética Médica veda ao médico se deixar “explorar por terceiros com objetivos de lucro, finalidade política ou religiosa”. Quando esse profissional se decide a candidatar-se, se expõe à condição de se deixar explorar como profissional e de explorar usando a medicina – é uma conclusão dura, comprometedora, mas real. Ele se deixa explorar e explora através da medicina que pratica quando vira massa de manobra dos eleitores que pretende conquistar ou dos candidatos que apóia pondo seu trabalho a serviço de um assistencialismo que pretende trocar votos por consultas e procedimentos médicos. Serviços de qualidade duvidosa, porque o que conta em eleição é quantidade – se as vence pelo número de eleitores, e não pelo tipo deles. O que se pretende com isso, em essência, é se beneficiar de um ato nobre, como é o ato médico, em troca de benesses pessoais e/ou de terceiros, que não são honorários (o que é recebido com honra). E mais: uma investigação apurada das ações do médico durante sua campanha ou mandato poderá flagrá-lo cometendo ainda mais pecados contra a ciência médica, a ética e a moral.

Por mais equilíbrio e virtudes que alguém tenha, não atravessará uma eleição, do tipo da que estamos tratando, impunemente. No final, os perdedores precisam estar preparados para a dura realidade que se segue à derrota. Precisam, mas raramente estão. Quem busca mais poder corre o risco de sair da contenda mais debilitado. Porque perdeu tempo, bens materiais, morais e afetivos e pode passar a sofrer de uma síndrome de rejeição, de inferioridade, de baixa estima que nem sempre as terapias, ainda ajudadas pelo tempo, podem curar. Destaque-se que convém que o médico se recomponha desse trauma para voltar às suas atividades profissionais isento dessas malévolas repercussões.

E os vencedores? No âmbito pessoal, no primeiro momento, a euforia própria de quem ganha. Quando na realidade do exercício no cargo, só o tempo dará a resposta se valeu ou não a pena optar por uma carreira política.

A consciência de que a cada quatro anos um novo “vestibular” precisará ser enfrentado para que se mantenha na nova atividade dá o toque da insegurança do estar e não ser que acompanha, tal como maldição, os dias dos políticos. Aos vencedores cabe ainda uma questão: até que ponto a presença de médicos no Executivo e Legislativo trouxe benefícios à saúde da população ou à prática da medicina? Até o momento, a despeito do significativo número de médicos em quase todas as instâncias do poder, mormente no Legislativo, a contribuição desses profissionais nos contextos citados tem deixado muito a desejar. Muito mesmo.

* É presidente do Conselho Regional de Medicina de Rondônia e conselheiro do Conselho Federal de Medicina pelo Estado de Rondônia.

* As opiniões, comentários e abordagens incluidas nos artigos publicados nesta seção são de inteira responsabilidade de seus autores e não expressam, necessariamente, o entendimento do Conselho Federal de Medicina (CFM).


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