Alfredo Guarischi*

A mais prestigiosa revista médica do mundo, o New England Journal of Medicine, recusa anualmente centenas de artigos de qualidade por total falta de espaço. A dra. Flavia Machado, do Departamento de Anestesia da USP, nos deu um presente de Natal em 2016. Seu artigo sobre os dilemas do trabalho do médico de CTI retrata uma realidade mundial.

Todos os dias, em todo o mundo, os médicos intensivistas têm de fazer escolhas. Quando dilemas técnicos e éticos se associam a problemas sociais, pobreza e desigualdade, é chocante.

Já vivi esse dilema.

A quem devo dar a última vaga existente: ao João, um jovem com traumatismo craniano que acaba de chegar à emergência, vindo transferido do terceiro hospital?; ao Manuel, o vovozinho que acaba de ser submetido a uma grande cirurgia que removeu metade do seu fígado?;  à Julinha, sim, aquela menininha de olhos amendoados e grandes bochechas, que precisa ser reinternada por mais uma crise de asma; ou obedecer às duas ordens judiciais expedidas para pacientes, não menos graves, que aguardam uma chance para viver. A pobreza e a desigualdade, no Brasil, são chocantes.

Alguém, no final, conseguirá essa última vaga.

O CTI é um local no qual, em geral, um quarto a um terço dos pacientes desenvolvem infecção grave (septicemia) na admissão ou nos dias subsequentes. A taxa de mortalidade relacionada à sepse gira em torno de 30%.

A infecção hospitalar é a maior ameaça à segurança dos pacientes, em todo o mundo.

No Rio de Janeiro, um estado falido, há no Instituto de Cardiologia do Estado uma grave denúncia de que estão ocorrendo óbitos decorrentes de infecção em número além do esperado.

Há diversos aspectos a serem considerados, mas a falta de infraestrutura facilita essa decorrência.

Na sepse, à medida que o comprometimento sistêmico avança, diminui a chance de o paciente sobreviver. Diagnóstico e tratamento precoces salvam vidas. Diagnósticos e tratamento tardios tornam-se ineficazes. Na sepse, como no infarto ou no acidente vascular cerebral (ou derrame), tempo é vida.

Para diminuir o número de pessoas que morrem com sepse é importante preveni-la e, uma vez presente, que o diagnóstico e o tratamento sejam feitos o mais rápido possível. É preciso reduzir o tempo entre o início dos sintomas e o primeiro atendimento médico; e também trabalhar com equipe multiprofissional de saúde para que o atendimento seja feito de forma coordenada e rápida. A lei determina que todo hospital deve ter uma Comissão de Infecção Hospitalar, e os dados devem ser disponibilizados, para dar transparência e aprimorar o atendimento.

Os médicos têm de proteger a vida. Quem faz denúncia leviana deve ser punido.

Médicos sérios que administram buscam o melhor para proteger o maior número possível de vidas. Sem transparência na análise da causa da mortalidade hospitalar não há medicina nem seriedade.

 

*Alfredo Guarischi, médico, cirurgião geral e oncológico, especialista em Fator Humano. E-mail: alfredoguarischi@yahoo.com.

 
    

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