Escrito por Dóra Chor*

Nas últimas décadas, houve forte revigoramento, em nível internacional, da pesquisa epidemiológica voltada para a elucidação de determinantes sociais que afetam a saúde e o bem-estar. As primeiras pesquisas sobre estresse com seres humanos envolveram soldados após a Segunda Guerra Mundial, vítimas de catástrofes naturais e também indivíduos que experimentaram situações críticas no âmbito pessoal como, por exemplo, doença grave, morte de um ente querido, falência, desemprego e separação. Nessas diferentes situações, a experiência do estresse ocorreu de forma repentina, originando reação igualmente aguda do organismo.

Recentemente, a pesquisa a respeito dos efeitos do estresse sobre a saúde tem se concentrado prioritariamente nas situações em que o estresse é vivenciado em pequenas doses, cotidianas, como é o caso do ambiente do trabalho. Diante dessa exposição duradoura, outras reações de adaptação do organismo são necessárias.

Nos Estados Unidos, queixas relativas à saúde têm sido mais freqüentemente associadas a problemas no trabalho do que a qualquer outro aspecto da vida, como problemas financeiros ou familiares. Naquele país, um quarto dos trabalhadores percebe sua ocupação como o primeiro agente causador de estresse em suas vidas.

A percepção do estresse no ambiente de trabalho é uma das principais linhas de investigação do Estudo Pró-Saúde, que acompanha cerca de três mil trabalhadores de uma universidade do Rio de Janeiro, desde 1999 (com duas fases de coleta de dados: em 1999 e 2001). Seu objetivo principal é avaliar os mecanismos pelos quais os determinantes sociais da saúde – nível de escolaridade e renda, por exemplo – afetam a saúde física e mental. Especificamente, temos investigado a influência desses fatores na hipertensão arterial, obesidade, transtornos mentais comuns e também nos acidentes de trabalho.

Para avaliar os efeitos do estresse no trabalho sobre a saúde, os pesquisadores envolvidos no Estudo Pró-Saúde procederam à adaptação da escala de medida elaborada por Robert Karasek e Töres Theorell para o português. O produto dessa adaptação, publicado em 2004 (Alves, MGM et al. Revista de Saúde Pública 38(2):164-71), tem sido utilizado por numerosos pesquisadores brasileiros, envolvidos em diversos outros estudos.

De acordo com nossos resultados, o estresse no trabalho não é percebido uniformemente pelos participantes. Por exemplo, as atividades de trabalho de 19% daqueles que têm apenas o ensino fundamental foram classificadas como de “alto desgaste” (maior nível de estresse) comparados a 10% daqueles com grau universitário. A proporção de participantes cujas atividades foram classificadas nessa categoria também foi diferente de acordo com os setores de trabalho, variando entre 4% em institutos de ensino e 25% em departamentos do hospital universitário.

Quanto à associação com desfechos de saúde, os resultados obtidos até o momento sugerem que o estresse no trabalho contribui para a ocorrência dos transtornos mentais comuns definidos como possíveis quadros de depressão e/ou ansiedade que podem ser confirmados ou não por diagnóstico clínico. Participantes do estudo que desempenham atividades de trabalho classificadas como de alto desgaste apresentaram chance 50% maior desse tipo de transtorno do que os participantes classificados nas categorias com menor grau de estresse.

Em relação à prevalência de hipertensão arterial, os resultados sugerem outra conclusão. Não parece existir relação com o grau percebido de estresse no trabalho. Essa conclusão se baseia não somente na análise das respostas dos participantes considerados individualmente, mas está de acordo também com seu agrupamento nos respectivos setores de trabalho.

A coordenação do Estudo Pró-Saúde é composta pela pesquisadora da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp) Dóra Chor e três pesquisadores do Instituto de Medicina Social (IMS) da Uerj (Eduardo Faerstein, Claudia S. Lopes e Guilherme L. Werneck). Cerca de 30 alunos dos programas de pós-graduação das duas instituições desenvolveram ou estão desenvolvendo suas teses no âmbito do estudo. A terceira fase de coleta de dados, na qual análises a respeito do estresse no trabalho terão continuidade, está prevista para 2006.

* É médica e doutora do Departamento de Epidemiologia da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca.

* As opiniões, comentários e abordagens incluidas nos artigos publicados nesta seção são de inteira responsabilidade de seus autores e não expressam, necessariamente, o entendimento do Conselho Federal de Medicina (CFM).


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