Luiz Roberto de Oliveira*

 

A implantação bem-sucedida e a sustentabilidade das práticas de saúde digital dependem da adequada formação de sua força de trabalho, nos seus três contingentes, integrados, segundo Sabbatini, por (1) pessoas do segmento de tecnologia; (2) profissionais clínicos (da área da saúde); e (3) profissionais não clínicos, ligados às tecnologias operacionais (planejamento, gestão, logística, governança). Todos produzem e consomem informações, o que torna crucial atitudes de compartilhamento, convergência, cooperação e colaboração.

Em todo o mundo detecta-se a carência de pessoal habilitado para suprir as demandas decorrentes do uso das tecnologias digitais da informação e das comunicações (TDIC) na saúde, cujo maior incentivo advém do reconhecimento de seus efeitos benéficos, comprovados com evidências suficientes. Nos países desenvolvidos, frente a esse consenso, denota-se esforço crescente para instituir o ensino da informática em saúde (IS) ou da informática biomédica (IB) – mencionando dois dos termos mais conhecidos – em diversos níveis. Para propiciar desenvolvimento sustentável é importante, além disso, estimular a pesquisa.

A Organização Mundial de Saúde (OMS), atenta às dificuldades causadas pela existência de diversas denominações para o mesmo assunto, e respaldada em estudos de experts internacionais que já há algum tempo discutem o problema, emitiu resolução propondo a designação “saúde digital” como a melhor possível para unificar as demais existentes. Seu intento é instituir terminologia mais coerente e convergente, uma vez que as abordagens sobre o tema impactam em contexto global. Busca-se vencer, assim, uma das primeiras barreiras: a de ordem semântica.

No contexto internacional, inclusive em muitos países em desenvolvimento, com lamentável exceção da maioria dos países latinoamericanos, já existe concordância sobre ser oportuno iniciar ainda na graduação a oferta de formação em IS/IB, visando preparar todos os profissionais de saúde para a realidade irreversível da saúde digital. Os estudos na área, além disso, devem continuar em diversos níveis de pós-graduação, incluindo residências médicas, especializações, mestrados e doutorados. No Brasil não houve ainda a percepção dessa realidade indiscutível.

O panorama nacional, na atualidade, de modo resumido, exibe contraste preocupante quanto à realidade da saúde digital. No âmbito da Comissão Intergestores Tripartite, em 2017, foi aprovado importante documento denominado Estratégia de e-Saúde para o Brasil, sendo destaque o reconhecimento da carência de profissionais com formação para trabalhar no setor, afirmando-se ser importante incentivar oportunidades de melhorar o preparo para atuar na área. Isso corrobora a realidade mundial. A iniciativa de introduzir o uso de prontuário eletrônico do paciente (PEP) no Sistema Único de Saúde (SUS), com o Plano de Informatização das Unidades Básicas de Saúde (PIUBS), por sua vez, demonstra claramente interesse oficial pela adesão do País à modernidade da saúde digital e seus inúmeros benefícios. O tema da IS/IG, entretanto, independentemente da denominação utilizada, não é reconhecido como área de conhecimento pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), dificultando enormemente a criação de cursos de pós-graduação stricto sensu. Isso atinge diretamente o esforço da pesquisa, o que cumpre corrigir com grande urgência. Outro hiato relevante: o assunto também não consta em nenhuma das diretrizes curriculares dos cursos de graduação da área da saúde. Resulta daí, por sua vez, o pouco incentivo para seu ensino nessas graduações, aliado à completa falta de estímulo à formação de docentes aptos ao desenvolvimento das necessárias ações educacionais. O desenvolvimento de consciência ética quanto ao uso das TDIC pelos profissionais de saúde, consequentemente, torna-se irrelevante, com prejuízos inimagináveis.

O esforço na preparação de profissionais de saúde para trabalhar na área da IS/IB no Brasil, além de exíguo, encontra-se direcionado quase que com exclusividade aos profissionais da área tecnológica. Não há, por outro lado, qualquer participação de entidades de classe ligadas à educação, à saúde ou à profissão médica, vez que o tema também não é considerado área de atuação do profissional dessa área. Tem-se enfatizado, no território nacional, a certificação profissional, terminologia claramente ligada a profissionais do segmento tecnológico, mas não identificado com a formação de profissionais de saúde. Falta, portanto, se realmente houver interesse em ver progredir e consolidar a prática da saúde digital no País, corrigir diversas lacunas, a começar por se considerar indispensável o ensino da saúde digital nas graduações da área da saúde.

 

*Mestre e doutor em Medicina, professor associado do Departamento de Cirurgia e coordenador do Núcleo de Tecnologias e Educação a Distância em Saúde da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC). É coordenador da Câmara Técnica de Informática em Saúde do Conselho Regional de Medicina do Ceará (Cremec).

  

* As opiniões, comentários e abordagens incluidas nos artigos publicados nesta seção são de inteira responsabilidade de seus autores e não expressam, necessariamente, o entendimento do Conselho Federal de Medicina (CFM).

 

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