Luiz Roberto de Oliveira*

 

O interesse pela educação a distância (EaD), em qualquer de suas modalidades, ou pelo ensino virtual, quando o intento for referir-se mais ou apenas ao uso das tecnologias informacionais computacionais hoje viabilizadas com emprego das Tecnologias Digitais da Informação e das Comunicações (TDIC), tão diversificadas quanto ubíquas desperta curiosidade e discussões, opiniões polarizadas contra e a favor, muitas vezes fruto da pouca compreensão de aspectos fundamentais do tema.

O uso das TDIC constitui tendência universal irreversível. O efeito central dessas tecnologias, o cerne de sua influência em quase todas as áreas da sociedade atual, algo sem precedentes na história humana, decorre primariamente de seu impacto na comunicação. Atinge, além disso, as diversas maneiras de manipular o conhecimento, interferindo em todas as etapas dessa atividade. Aplica-se à coleta de dados, seu armazenamento, seu tratamento na produção de conhecimento significativo e, sem dúvida, sua disponibilização, transmissão e nas várias possibilidades de adaptação midiática. É possível obter boa qualidade de ensino sem tecnologia digital? É claro que sim. Mas com seu uso há muitas possibilidades de melhorar a educação e facilitar a aprendizagem. Basta aderir ao que já se tem como certo sobre melhores práticas em EaD. Aliás, convém lembrar que o problema básico não é tecnológico, e sim pedagógico.

O ensino virtual, enfim, funciona, mas não de qualquer modo. O contexto, portanto, não se restringe simplesmente a ser contra ou a favor. Posicionar-se contrário ao uso da EaD nas graduações da área da Saúde, tendo como maior argumento apenas a tradição do ensino à beira do leito, é ignorar todos os avanços do ensino híbrido e alimentar o mito da presencialidade, admitindo-o como única forma válida de aprender, esquecendo, negligenciando e subvertendo a verdade dos conhecimentos acerca das inteligências múltiplas, da andragogia, da heutagogia, do construcionismo, desconhecendo, portanto, aspectos elementares das teorias de aprendizagem. Tal posição é, no mínimo, ignorar ensinamentos de Paulo Freire sobre a dialogicidade humana. Equivale a atribuir, de certa forma, a qualquer instituição que a condene um status de imobilidade intelectual, ao se colocar contra algo que cresce e se renova vertiginosamente, despertando a atenção em várias partes do mundo como fator crítico de desenvolvimento. A atual produção científica avassaladora, impede os meios tradicionais de atender às demandas por mais e permanente formação. O importante é estar próximo do paciente com informação adequada para melhor atendê-lo no local e no momento certos, independente de impedimentos de tempo e localização geográfica. As TDIC, nesse caso, cumprem muito bem seu esperado papel de acelerar o primeiro deles e encurtar distâncias, redimensionando tais fatores.

A tecnologia, no entanto, pode facilmente descambar para o tecnopólio, conforme alerta Neil Postman, que o define como “a rendição da cultura à tecnologia”. Isso pode acontecer em todos os setores, não apenas no ensino e não somente no ensino na área da Saúde. É contra isso que se deve pugnar.

O melhor meio de evitar esse erro condenável é conhecer quais as melhores contribuições das TDIC para melhorar as tecnologias educacionais, inclusive na Saúde, diante de suas especificidades. O caminho, assim, não é assumir uma postura conservadora, negando o progresso, mesmo potencial, suscetível de ser obtido em qualquer área mediante emprego da tecnologia. Ela deve ser considerada, além disso, como afirma Goodman, “um ramo da filosofia moral, não da ciência”. Portanto, como também nos ensina Franco Júnior, torna-se necessário admitir “uma reflexão que discuta, problematize e interprete o significado dos valores morais”.

E se nos aproximássemos, pela vertente da ética, do eixo central da questão de aceitar ou não a EaD baseada na web como válida no ensino de graduação na área da Saúde, será inevitável enfrentar as perguntas: é ético não utilizar o ensino virtual e suas potencialidades benéficas na formação de profissionais de saúde, tendo em vista que eles adentrarão o mercado profissional sem opções que lhes permitam não utilizar as TDIC? É ético condenar a EaD deixando futuros profissionais sem melhores condições de atender à sua condição de aprendizes ao longo da vida, sabendo que será muito mais fácil fazer isso por meio on-line, desde que disponibilizada com qualidade? Seria ético não ensinar como aprender com o uso das TDIC e como utilizá-las melhor nas profissões ligadas à Saúde? A EaD on-line, considerada como processo, possui óbvia contingência como algo em mutação, em crescimento. Não é terreno para aventuras e nem diletantismo. Menos ainda para condenações em que o conservadorismo mais se aproxima do obscurantismo irrefletido. À beira do leito, cada vez mais, é hoje necessário aderir à tecnologia que humaniza e não à ignorância que deforma.

* Mestre e doutor em Medicina, prof. associado IV do Departamento de Cirurgia, Núcleo de Tecnologias e Educação a Distância em Saúde da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará e coordenador da Câmara Técnica de Informática em Saúde do Conselho Regional de Medicina do Ceará

 
    

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