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Escrito por Alfredo Castro Neto* 

No conto dos irmãos Grimm, Chapeuzinho Vermelho encanta a todos porque, embora virtuosa, sofre a tentação: e porque sua sorte nos diz que confiar nas boas intenções de todos que nos parecem tão bons, na realidade deixa-nos sujeitos a armadilhas.

O lobo é a exteriorização da maldade que a criança sente quando vai contra os conselhos dos pais e permite-se tentar, ou ser tentada. Quando se desvia do caminho que os pais lhe traçaram encontra “maldade”. No conto, nem a mãe, nem a avó podem fazer nada – nem ameaçam, nem protegem. Ela fica a mercê da maldade.

Embora o caçador seja da maior importância para o final de estória, não sabemos de onde ele veio, e nem se ele conversa com Chapeuzinho – salva-a, e é tudo.

Em “Chapeuzinho Vermelho”, tanto no título como no nome da menina enfatiza-se a cor vermelha que ela usa declaradamente. O vermelho é a cor que significa as emoções violentas, inclusive as sexuais.

A grande verdade é que esse conto dos irmãos Grimm encaixa-se perfeitamente à vida de uma criança do século vinte e um. Assim, quando analisamos a pedofilia na internet vemos a “Chapeuzinho Vermelho” navegando na telinha do computador e o pedófilo “lobo mau” bem perto dela, procurando de todas as formas seduzi-la.

Em outubro de 2008, das 5.589 denuncias de pornografia infantil feitas à SAFERNET, 4.678 era sobre o site de relacionamentos ORKUT,do Google, o mais freqüentado por brasileiros de todas as idades. Em relação a 2007, as denuncias cresceram em média 26%, somando mais de 24 mil reclamações sobre páginas com imagens de nudez e sexo com crianças.

Dados da organização não-governamental italiana TELEFONO ARCOBALENO, empenhado na defesa da infância mostram, que o Brasil ocupa o 4º lugar – por sinal, nada honroso – no ranking mundial de países com números de sites voltados para a pornografia infantil (atrás da Rússia, Coréia do Sul e Estados Unidos).

A preocupação com a pornografia infantil na internet não é nova. Quando lançada na Inglaterra, a OPERAÇÃO CATEDRAL, uma ação policial internacional em 12 países possibilitou uma impressionante prisão coletiva de pedófilos. Policiais que fizeram parte da OPERAÇÃO CATEDRAL disseram que, para freqüentar um clube de pedófilos na internet (o WINDERLAND) era preciso ceder 10 mil fotografias pornográficas de crianças para colocar na rede. Se as pessoas não dispusesse destas fotografias, deveriam oferecer seus filhos para que sofressem abusos sexuais e, ainda, fossem fotografados. As vítimas eram crianças de ambos os sexos, muitas delas eram menores de dois anos. A escalada das denúncias também revela uma realidade amarga – as meninas que sofrem exploração sexual estão cada vez mais novas.

Evitar e controlar o acesso a esse tipo de material na internet só é possível até agora, com progressos desenvolvidos por empresas especializadas em segurança de informação. Enquanto a maioria dos provedores não faz um controle do conteúdo veiculado em suas páginas, a liberdade de expressão da rede favorece a criação de páginas e mais páginas de conteúdo ilícito.

O anonimato é o que motiva muito gente a utilizar a internet como veículo de perversões. Além disso, ainda existe o fato de a internet ser uma rede global. Um cidadão brasileiro pode sediar sua página em qualquer lugar dos Estados Unidos ou em qualquer país da Europa. A instância correta para resolver esse tipo de situação é a justiça comum. A ela, cabe investigar qualquer publicação agressiva aos bons costumes. Enquanto o governo não consegue inventar um mecanismo de censura na internet, a própria cibercultura se mobiliza para evitar os excessos da liberdade de expressão.

A pornografia não é condenada pela etiqueta da internet, mas é preciso entender que a divulgação de material com pornografia infantil não é liberdade, é crime.

* É médico psiquiatra e psicoterapeuta da Infância e da Adolescência.

* As opiniões, comentários e abordagens incluidas nos artigos publicados nesta seção são de inteira responsabilidade de seus autores e não expressam, necessariamente, o entendimento do Conselho Federal de Medicina (CFM).


 * Os textos para esta seção devem ser enviados para o e-mail imprensa@portalmedico.org.br, acompanhados de uma foto em pose formal, breve currículo do autor com seus dados de contato. Os artigos devem conter de 3000 a 5000 caracteres com espaço e título com, no máximo, 60.


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