Escrito por Fernando Maia*

 

Discurso proferido na cerimônia de colação de grau da 54ª Turma de Medicina da Universidade Federal de Alagoas, pelo Paraninfo, 

Prof. Fernando Luiz de Andrade Maia, em 17/02/2005

Magnífico Reitor, Prof. Dr. Eurico Barros Filho, em nome de quem saúdo os demais componentes da mesa e autoridades aqui presentes, meus caríssimos colegas professores e médicos, prezados pais e familiares,meus queridos afilhados:

Finalmente, médicos, de fato e de direito! Passar no vestibular foi moleza, comparado com o que veio depois: o choque da passagem do colégio para a Universidade, o impacto da morte no início do curso, com a inevitável anatomia; ao mesmo tempo, tantos micróbios para tirar o vosso sono, além da fisiologia, patologia geral, bioquímica etc; depois o ciclo profissionalizante, com tantas matérias e tanto assunto que chegava a dar desespero… tanta luta, tanto estudo, noites mal ou não dormidas, plantões, aulas, seminários, trabalhos individuais e em grupo,livros novos e velhos, xeroxes, apostilas, cadernos, transcrições de fitas das aulas (às vezes saíam alguns errinhos…) transparências, stress, frio na barriga na véspera das provas, cochilos na sala de aula, o desespero para copiar tudo que o professor disse… e tudo isso é só o começo!

Foi-lhes exigido o sangue, quase literalmente, porque vocês tinham e têm capacidade para tal,senão não teriam chegado até aqui. E eu estou muito feliz e orgulhoso por poder ter participado de todo esse processo, com os pais e todos os meus colegas professores, preceptores, agregados, convidados, funcionários e todos os que direta ou indiretamente contribuíram para este vosso sucesso, apesar de todas as nossas limitações, humanas e materiais.

Quando vocês escolheram fazer Medicina, foi como uma das promessas do casamento: é para toda a vida que o fazeis? Se todos nós tivéssemos a idéia exata do que nos aguardava, talvez tivéssemos desistido. Graças aDeus que não. Medicina é sacerdócio, é dedicação, é prazer, é cansaço, é ausência das festas de família, é trabalhar muito e em horários impróprios, mas é profundamente humana. Talvez não haja outra profissãona qual seja possível fazer tanto bem ao próximo, conhecer tão bem o próximo, estar tão próximo do próximo, amar o próximo. Por isso, a satisfação de ser médico supera todas as dificuldades, todas as contrariedades, todos os percalços, todos os desânimos. Ser médico é bom demais!

Seja como clínico, pediatra, ginecologista, cirurgião, ortopedista, infectologista, psiquiatra, cosmiatra, dermatologista, epidemiologista ou qualquer outra especialidade; seja em um grande hospital escola na capital ou em um posto de PSF de uma cidadezinha perdida no interior; seja como superespecialista ou como generalista; mas antes e acima de tudo, Médico, com M maiúsculo. Honrem a nossa profissão, que anda tão desacreditada, tão vilipendiada, mas que só depende do esforço cotidiano de cada um de nós para voltar a ter o respeito perdido. Acreditem nisto, que vale a pena.

Uma das virtudes humanas mais importantes é a humildade, e para o médico é fundamental. Ninguém sabe tudo, e é preciso que cada um de nós reconheça isso. Ninguém vive só no mundo, ninguém deve ter a veleidade de achar que resolve tudo sozinho. Estudem, atualizem-se sempre, perguntem, trabalhem em equipe, ajudem os colegas quando lhe pedirem ajuda. Façam sua parte. E cultivem seus amigos. Um telefone amigo quebra um galho…

A Medicina é a arte e a ciência de curar. O caminho da ciência foi ensinado pela Universidade, e é muito longo. A gente só pára de aprender quando morre, e morre sem saber. Lembram da promessa do casamento a que me referi há pouco? Pois é. E a arte? A arte da Medicina aprende-se no dia a dia, com os colegas, com os professores, com os outros médicos, com os pacientes. Aprende-se examinando, palpando, escutando,auscultando, percutindo, olhando nos olhos, conversando, sentindo, confiando e ganhando confiança. Quando o paciente confia na gente, ele melhora com o tratamento, sem o tratamento ou apesar do tratamento, só na confiança que ele deposita na gente. E isso não tem dinheiro que pague!

Por falar em dinheiro, nunca façam as coisas pensando monetariamente, porque a derrocada é certa. Escolham a especialidade e trabalhem nela com amor, dedicação, paixão e empenho, que a recompensa financeira vem naturalmente. Trabalhem pelo bem do próximo, como Cristo disse: “amai-vos uns aos outros, como Eu vos amei”. Não há melhor maneira de melhorar a minha vida que melhorar a vida do irmão, em todos os sentidos: é atendendo bem nossos pacientes, votando bem nas eleições, cumprindo nossas obrigações e exigindo nossos direitos de médicos e de cidadãos, que nós temos, por incrível que pareça!

A partir daqui, cada um de vocês vai tomar o seu rumo. Alguns vão trabalhar já por opção ou por necessidade, outros vão fazer ou já estão fazendo residência ou estágio, alguns vão integrar as fileiras das forças armadas por opção ou não, aqui perto ou bem longe de casa, outros vão assumir cargos de responsabilidade – secretarias de saúde, prefeituras, coordenações em vários níveis do serviço público, diretorias de hospitais, clínicas, postos de saúde etc. Todas estas situações somente serão possíveis porque vocês são médicos, e nunca esqueçam disto: vocês são médicos, antes de ser secretários, militares, dirigentes, prefeitos, coordenadores, diretores. Médicos!

Finalmente, ao entregá-los ao mundo, como afilhados e colegas, desejo-vos de coração, a todos e a cada um, o que São Francisco de Assis, o Poverello, um santo tão grande que ultrapassou as fronteiras dos altares e é admirado até por não cristãos, desejava aos seus irmãos, ao envia-los em missão: “O Senhor te abençoe e te guarde! Que Ele te mostre a Sua face e se compadeça de ti! Que Ele volva o Seu olhar para ti e te dê a Sua Paz.”

Muito obrigado!

* É professor e médico.

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