Seg, 11 de Maio de 2020 17:43 | |
Comunidade Médica de Língua Portuguesa*
Estamos suspensos. De acordo com a Agência France-Press, seis em cada dez pessoas em todo o globo estão confinadas. Privadas de mobilidade, contato, proximidade, do dia a dia que é a vida quotidiana e da qual nunca imaginaríamos ter de abdicar. A infecção por SARS-Cov-2 levanta ainda muitas dúvidas e perguntas a especialistas ou equipes clínicas, bem como o seu resultado, a Covid-19, da qual todos nós, o mundo, começamos agora a perceber a dimensão, o impacto social e econômico, para além da doença em si mesma e dos resultados de transformação nos mais diversos sistemas de saúde. São milhões de pessoas, empresas, projetos com incerteza no amanhã, no que aí virá e nos resultados para os quais ninguém poderá fazer previsões. A saúde global, que agrega muitas áreas de estudo e interesse, sempre abordou cenários pandêmicos, de maior ou menor mortalidade, risco e magnitude, e para os diferentes impactos, teoricamente, propôs estratégias de saúde pública. Neste caso concreto, é do conhecimento geral e dos agentes de saúde que as medidas de quarentena, cordões sanitários, regras de etiqueta respiratória, o uso de máscara, distanciamento social, entre outros, são fundamentais e eficazes. Porém, por mais que possamos prever e atuar, a condição social das populações, a economia, o bem-estar físico e mental de todos os indivíduos são determinantes muitas vezes improváveis de definir. Separados por oceanos e muitos quilômetros de distância, os nossos povos partilham, para além do patrimônio da língua comum, história, traços genéticos, bens, conhecimento em vários setores e o contato permanente estabelecido por ligações marítimas e áreas que fazem circular muitos milhões de divisas, mas sobretudo garantem o bem-estar de muitos entre nós. Este é o tempo em que todos os governos estão a cuidar dos seus, envidando esforços múltiplos na aquisição de material e equipamento pelo mundo, na ativação de planos de contingência das suas instalações de saúde e no recrutamento extraordinário de profissionais, nunca tão valorizados como hoje. Este é o tempo em que não devemos esquecer a partilha secular de relações, que potenciam o nosso crescimento e progresso num mundo globalizado. É obrigação dos governos não deixar nenhum dos seus para trás, mas devem estar atentos aos demais que, não sendo nacionais, são do mundo. Neste momento de grande exigência, devemos dialogar, partilhar experiências mais do que nunca e apoiar de forma concreta as necessidades reais desta nossa comunidade lusófona, sobretudo dos mais desfavorecidos nas suas diferentes geografias. Este é o tempo em que a teia das relações externas que fomos tecendo no espaço da língua portuguesa tem que saber criar dinâmicas que contribuam para soluções diferenciadas para cada um dos nossos países e que comecem desde já a preparar projetos de futuro, que tragam esperança às nossas populações e ativem as recuperações sanitárias, econômicas e sociais que todos aguardamos.
* Artigo aprovado pelas entidades membras da Comunidade Médica de Língua Portuguesa, Gabinete de Diplomacia da Saúde da Ordem dos Médicos, Ministério dos Negócios Estrangeiros de Portugal, Ordem dos Médicos de Angola, Associação Médica de Moçambique, Ordem dos Médicos da Guiné-Bissau, Conselho Federal de Medicina, Ordem dos Médicos de Moçambique, Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares, Direção-Geral da Saúde de Portugal, Ordem dos Médicos de São Tomé e Príncipe, Ordem dos Médicos de Cabo Verde, Associação de Médicos de Língua Portuguesa de Macau e Ordem dos Médicos de Portugal.
Publicado no jornal Público, de Portugal, acessível em: www.publico.pt. |
Diálogo em tempo de incertezas
Publicado em (14/08/2020)
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