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Conselho Federal de Medicina

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Vinicius dos Santos*

 

Ingressar em uma instituição pública de ensino superior que seja referência na formação de ícones da assistência à saúde da nossa população é a maior aspiração de qualquer estudante da área. Entretanto, enquanto acadêmico de Medicina da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), o sonho movido pelo sentimento altruísta de um futuro exercício profissional por amor e dedicação, com o objetivo de construção de uma sociedade melhor, encontra-se abalado; no mínimo, fragmentado. Eu e os demais discentes vivenciamos problemas tão graves no ensino-aprendizagem que problematizamos: a nossa instituição está formando ou deformando médicos?

É inegável a atual conjuntura de precariedade do ensino médico no Brasil, mas somos testemunhas de que a UNEB tem se destacado na gravidade dos problemas de gestão e amarras relacionadas a instâncias estaduais das quais depende para a melhora da qualidade do seu tripé, negligenciado por motivos óbvios, de ensino/pesquisa/extensão na seara médica:

– INEXISTÊNCIA DE UM HOSPITAL UNIVERSITÁRIO (hospital ensino/escola). Para agravar, não se tem notícia de vínculos firmados com as próprias instituições estaduais de assistência para as práticas dos alunos de Medicina. A primeira turma da universidade está no 8º semestre, e até o momento a UNEB segue sem instrumentos vinculatórios com unidades de saúde capazes de garantir o campo de prática para o Internato (dois últimos anos do curso de Medicina).

– FALTA DE PROFESSORES. Eis outra triste realidade do quadro acadêmico de Medicina da UNEB. Infelizmente, todo semestre que se inicia nos provoca ansiedade e medo porque é comum turmas ficarem sem professores. Acabamos torcendo para que nossas disciplinas sejam as de menor déficit. Faltam professores, por exemplo, de Semiologia Médica, Patologia Médica, Medicina Legal, Clínica Médica, Clínica Cirúrgica, Obstetrícia, entre outras, por ausência de concursos públicos para docentes efetivos e raríssimas autorizações de seleção via Regime Especial de Direito Administrativo (REDA, ou seja, vagas para professores substitutos que, em verdade, não geram real interesse nos bons pesquisadores por sua vinculação temporária e natureza precária);

– INSUFICIÊNCIA DE SALAS DE AULA. Esse problema vergonhoso e inadmissível leva-nos, por vezes, a participar de aulas em espaços inadequados e até em corredores da universidade por falta de salas;
– AUSÊNCIA DE EQUIPAMENTOS NOS LABORATÓRIOS de Anatomia, Fisiologia, Histologia e Bioquímica, o que compromete a compreensão e o preparo dessas disciplinas básicas, alicerces da formação de todo profissional de saúde;

– FALTA DE LABORATÓRIO DE HABILIDADES MÉDICAS, indispensável ao aprimoramento e à realização de práticas de conhecimento médicos, pelas quais o acadêmico de Medicina deveria iniciar a sua aprendizagem do exercício profissional;

– DEFICIÊNCIA NO ACERVO BIBLIOGRÁFICO ESPECIALIZADO, o que, em virtude do grande número de alunos da área da saúde, envergonha e põe em cheque a construção do próprio conhecimento fomentado na academia.

Mesmo que o art. 205 da Constituição Federal determine que a educação é um direito de todos e dever do Estado (recentemente alcunhado “pátria educadora”), tal conquista ser vilipendiada em instituições públicas de ensino superior é ainda mais preocupante. Questiono-me por que é tão difícil entrar em universidades e ter garantido um quadro satisfatório de professores, salas de aula, livros, campos de práticas, laboratórios (infraestrutura básica que instrumentaliza os discentes à formação de excelência e à aquisição de competências para uma atuação profissional digna), esquecendo-me de que a quantidade vem, infelizmente, suplantando a qualidade no investimento nos futuros profissionais da saúde no atual panorama de inversão de valores do país sem a mínima ponderação.

Ainda que mercantilizar a Medicina seja mais fácil e rentável do que garantir condições de excelência às universidades, sempre haverá quem se posicione de forma contrária, alertando e reivindicando melhores condições de assistência à saúde universalizada de qualidade neste país, no qual só não faltam recursos aos corruptos e corruptores.

Diante dos lamentáveis indicativos de precarização da saúde e educação públicas no Brasil, em cujo contexto o ensino médico baiano se insere, esperamos que este meu fundamentado manifesto não seja apenas mais um dos diversos emanados pela sociedade. Exigimos, em prol do respeito aos futuros profissionais médicos egressos da UNEB, que as instâncias resolutivas do Poder Executivo estadual (governadoria, Secretarias de Administração, Saúde e Educação do Estado da Bahia  e UNEB, em especial) adotem as providências necessárias que regularizem esse quadro vergonhoso aqui apresentado, do qual somos testemunhas.

 

*Acadêmico de Medicina da Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Membro da Liga Acadêmica de Fisiopatologia da UNEB. Ativista social no combate à epidemia HIV/Aids – Jovem Liderança – MS/UNAIDS.

 

    

* As opiniões, comentários e abordagens incluidas nos artigos publicados nesta seção são de inteira responsabilidade de seus autores e não expressam, necessariamente, o entendimento do Conselho Federal de Medicina (CFM).

 

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