Escrito por Antonio Carlos Lopes*


As drogas, assim como certas substâncias químicas, produzem vítimas diariamente. Viciados sofrem, vivem momentos de dor e drama. Seus amigos e parentes também padecem. Nos consultórios médicos é comum aparecer alguém querendo informações ou recomendações para parentes ou conhecidos com suspeita de abuso de drogas.

É uma situação que exige alerta máximo de todos os envolvidos com pessoas viciadas. Afinal, nunca se sabe a que ponto o consumo de drogas pode levar. O abuso de substâncias químicas está constantemente na mídia como responsável por agressões, roubos, seqüestros e mortes. Certas campanhas e slogans são exaustivamente repetidos: “diga não às drogas” ou “droga é uma droga”. Mas, na maioria das vezes, se perdem sem produzir efeito.

Estimativas indicam que o consumo de drogas, como maconha e inalantes (cola), tem crescido entre estudantes das capitais brasileiras, além do uso indiscriminado de anfetaminas e do abuso do álcool, entre a população em geral.

Identificar os motivos que levam as pessoas a consumir drogas e outras substâncias químicas sabidamente prejudiciais à saúde é o começo do caminho para se enfrentar o problema de forma competente. Nossa experiência indica que uns dos fatores desencadeantes são a depressão, a culpa, a ansiedade exagerada e a baixa auto-estima. Como explicar que em uma família bem constituída, com razoável nível sócio-econômico, apenas um de seus membros se torne usuário de substâncias químicas com fins abusivos? A resposta mais provável vem da necessidade de inclusão social, de ser aceito e valorizado por seus pares.

Esta é a explicação para comportamentos comuns e rotineiros como a adolescente anoréxica que acredita que, se ficar muito magra, poderá ser modelo. Ou do contrário, do garoto que passa a consumir suplementos alimentares e a fazer musculação para ser o mais forte da turma. É natural, e faz parte do espírito de sobrevivência, que as pessoas busquem incessantemente mudar a percepção da realidade nem que por alguns minutos ou horas. Portanto, nesses momentos, compreensão e o aconselhamento de um especialista podem levar a resultados muito mais satisfatórios do que o enfrentamento e a repressão.

É comum e equivocada a crença de que drogas são apenas a maconha, a cocaína, o crack e o ecstasy. Este engano faz com que passem desapercebidos pelos familiares e até pelo médico comportamentos compulsivos e o abuso de outras substâncias.

Didaticamente classificamos as drogas de abuso ou substâncias psicotrópicas por sua atividade no sistema nervoso central. Assim temos três grandes grupos: inibidores, estimuladores e perturbadores do sistema nervoso central. Por exemplo, a cocaína e as anfetaminas (ecstasy) atuam estimulando o sistema nervoso enquanto que álcool, barbitúricos e benzodiazepínicos (calmantes e ansiolíticos) inibem sua atividade. Já as substâncias como a maconha e o LSD produzem perturbação no sistema nervoso central. De maneira geral todas atuam sobre vários neurotransmissores, que são substâncias liberadas no sistema nervoso fazendo com que o estímulo possa se propagar de uma célula nervosa para outra. Um destes neurotransmissores é a dopamina. A dopamina está associada à coordenação motora, à motivação sexual e às sensações de euforia e prazer. Algumas substâncias têm o potencial de aumentar sua liberação ou de diminuir sua recaptação, fazendo com que ela esteja mais disponível no sistema nervoso e, portanto, produza um efeito mais pronunciado.

Alguns autores sugerem a existencia de um gene em certos indivíduos, que seria responsável pela menor disponibilidade deste neurotransmissor. Isso o levaria a procurar substâncias exógenas que aumentassem sua liberação ou diminuissem sua destruição, fazendo com que níveis mais elevados fossem mantidos por um tempo maior. Após a utilização da droga, determinadas substâncias presentes no sistema nervoso central apresentam níveis muito baixos (“fissura” ou “craving”) e o indivíduo sente-se tentado a utilizá-la novamente para voltar a sentir as sensações de bem-estar e prazer.

Atitudes como aceitar que um filho utilize anabolizantes para ficar mais forte, solicitar ao médico a receita de uma fórmula para emagrecer ou consumir álcool de forma rotineira são comportamentos permissivos que podem gerar futura dependência química e a idéia errônea de que as drogas chamadas lícitas são inócuas e podem ser consumidas sem consequências.

O problema é grave, pois este paradigma fatalmente influenciará futuras decisões quanto ao abuso de substâncias químicas. A participação dos pais, demonstrando que é possível solicitar ajuda a profissionais especializados e cientes de que a utilização de substâncias químicas pode trazer euforia momentânea ou alterar a percepção da realidade. Porém, os efeitos de seu consumo não são duradouros, mas suas conseqüências sim são definitivas.

O importante é evitar que haja o início do problema, isto é, garantir que a pessoa não sinta o menor interesse por uso destas drogas. Este interesse ocorre quase sempre por frustrações profissionais ou escolares sem a devida compreensão dos pais. É fundamental que haja muita conversa entre pais e filhos, sem discriminação, que haja conversa entre irmãos e que todos sejam entendidos dentro de suas limitações e virtudes, evitando-se comparações. Vale a pena salientar que apenas 30% dos que usam estas drogas conseguem livrar-se delas, mesmo com tratamento médico adequado.


* É presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica.

* As opiniões, comentários e abordagens incluidas nos artigos publicados nesta seção são de inteira responsabilidade de seus autores e não expressam, necessariamente, o entendimento do Conselho Federal de Medicina (CFM).


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