Escrito por Bernardo Assis Filho*
Ilmo Sr Dr Alexandre Padilha
M.D. Ministro da Saúde
M.D. Ministro da Saúde
Sr Ministro.
Após 40 anos de atuação na área de Saúde Mental, estou requerendo minha aposentadoria do serviço público.
Nesta área, Sr Ministro, desempenhei varias funções que um psiquiatra pode exercer: dirigi serviços, coordenei área técnica e exerci a prática clinica. Confesso-lhe que saiu esgotado, como creio estão os meus colegas da ativa, e aqueles que recentemente se aposentaram, alguns com síndrome de Burnout.
Nós, estatutários da saúde (que eu cunhei como sobreviventes) assistimos ao longo destes anos uma política de Recursos Humanos no mínimo equivocada, sendo que a falta de médicos psiquiatras, entre outras coisas, está levando a nossa população a armadilha de uma narcosociedade.
Com a falta do especialista, muitos pacientes estão sendo atendidos por clínicos gerais e colegas de outras especialidades – que devem estar aptos a dar os primeiros atendimentos, mas não têm condições de fazer o acompanhamento – existindo já um equívoco desmesurado, e que já esta fora de controle, com a dispensação e comercialização dos benzodiazepínicos da forma criteriosa como vem sendo feita no país, sendo que estamos mantendo, nos nossos ambulatórios, uma massa já residual de farmacodependentes.
Na área dos neurolépticos atípicos e de depósito, deveria ser restrito ao especialista sua prescrição e acompanhamento dos casos eletivos para este tipo de medicação.
A aposentadoria, morte, afastamento de qualquer ordem de um médico do serviço público, imporia automaticamente a sua substituição, e não a distribuição da demanda com os remanescentes, que têm que reduzir as consultas, como em alguns casos, a exíguos 5 a 6 minutos.
Estes são alguns pontos elencados, dentre outros que compõem a atual situação de desassistência no atendimento psiquiátrico público no país.
Acreditamos que se este Ministério dotar a área de Saúde Mental de diretrizes técnicas que tendam a reverter esta situação –e condições existem para isto – o modelo poderá ser replicado nos estados e municípios. Só assim eu poderei ouvir o governo tecer loas ao SUS, sem me incomodar.
Com as minhas despedidas, desejo a V.Sa. um bom trabalho a frente desta pasta.
Atenciosamente,
Bernardo Assis Filho Ssa,março 2013
* É graduado pela Escola Baiana de Medicina (1975), especialista em Psiquiatria pelo Conselho Federal de Medicina, ex-diretor do Centro de Saúde Mental Arestides Novis e do Hospital Juliano Moreira, prestou serviço ao PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) assessorando, dirigindo e exercendo clínica na área de saúde mental na República de Cabo Verde (África Ocidental) ex-presidente da Associação Psiquiátrica da Bahia (2006/2008), psiquiatra do quadro efetivo da Sesab, membro da Câmara Técnica de Psiquiatria do Cremeb.
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