CRM Virtual

Conselho Federal de Medicina

Acesse agora

Escrito por Abdon Murad*

 

 “Quando a esmola é grande, o pobre desconfia.” Este ditado popular serve perfeitamente para o atual momento da saúde pública brasileira, principalmente em relação ao custeio, que considero o maior entrave existente neste setor tão necessário. O Ministério da Saúde pediu recentemente ao Governo Federal a liberação urgente do montante de R$ 2 bilhões para o setor da saúde pública. O que pouca gente sabe é que estes R$ 2 bilhões, caso sejam destinados à saúde, não serão realmente dados. Eles estarão sendo devolvidos, porque o Governo Federal aplicou um corte de R$ 5,8 bilhões no orçamento da saúde neste ano, orçamento que era de R$ 45,8 bilhões. Ainda tem mais dinheiro a ser repassado para a saúde pública, se quiserem corrigir a perniciosa subtração efetuada.

Estranho muito a atitude passiva do Ministro da Saúde ao pedir parte de um montante orçamentário e financeiro que pertence ao Ministério por ele dirigido, dinheiro destinado à saúde do povo brasileiro. Também acho estranho que o atual Ministro, Dr. Temporão, nunca tenha reclamado do desvio da CPMF feito pelo Governo Federal, desde o tempo de FHC. Este tributo foi criado por iniciativa e estímulo do então Ministro Adib Jatene, com o fim exclusivo de melhorar os recursos financeiros da saúde pública brasileira.

Para que se tenha ideia do que o sequestro da CPMF para outras atividades representa, basta que nos lembremos que são subtraídos aproximadamente R$ 36 bilhões, quase o valor total do orçamento da saúde para este ano. Agora, que parte dos médicos do Nordeste estamos acordando para essas coisas monstruosas, o Ministro solicita ao Ministério da Fazenda R$ 2 bilhões para melhorar a miserável tabela de pagamento de médicos e hospitais que lidam com pacientes do SUS e comprar medicamentos. Não dá pra entender. O Ministro da Saúde não lutou para a CPMF voltar para a saúde, nem para que o corte de quase R$ 6 bilhões fosse revisto e, agora, pede um troco para o SUS.

O SUS, seguramente, é um Sistema de Saúde perfeito, faltando dinheiro para que seja plenamente implantado e contemple todas as pessoas que dele precisam. No nosso País, apenas 38 milhões de habitantes têm plano de saúde. O restante do nosso povo, aproximadamente 150 milhões de pessoas, só conta com o SUS como único meio para ser atendido, sem contar que procedimentos médicos muito complexos, como a maioria dos transplantes, só são realizados pelo SUS, mesmo naqueles que pagam planos de saúde.

O desprestígio com que é tratada a saúde pública começa pela péssima remuneração paga aos médicos e demais profissionais da saúde, de norte a sul. No caso específico dos médicos, a grande maioria é obrigada a ter até três empregos para juntar pouco mais de R$ 2.000,00 por mês, segundo estudo do Conselho Federal de Medicina junto a 14.000 médicos de todos os estados brasileiros.

É impressionante o fato de apenas 17% dos médicos do Brasil terem só um emprego, o que prova que o salário pago a tão importante profissional não dá para mantê-lo. É necessário que sejam elaborados Planos de Cargos, Carreira e Salários, tanto na esfera federal, como na estadual, com a participação das Entidades da classe médica e dos demais profissionais da saúde, a fim de proteger os profissionais, incentivando-os agora e no futuro de suas trajetórias.

O médico mal remunerado, corre de um lado para o outro, cumprindo uma jornada de trabalho de no mínimo 12 horas dia, para poder garantir seu sustento e de sua família. Estudo, participação em congressos de sua especialidade e compra de livros etc, costumam tornarem-se sonhos para a grande maioria de nós, seguidores de Hipócrates, o pai da Medicina. Isto tudo além das condições de trabalho nem sempre dignas que são ofertadas aos médicos no extenuante e preocupante papel de lidar com a vida de pessoas.

Com a matemática historicamente fria e cruel dos Governos Federais na lida com os recursos do SUS, o atual caos na saúde já estava anunciado há muito tempo e, não havendo uma mudança radical na maneira de conduzir a solução da catástrofe em que a saúde pública está metida, a perspectiva é de piora grave do quadro a que fomos levados, com prejuízos enormes para os médicos e seus pacientes.


*Abdon Murad é conselheiro federal e presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado do Maranhão (CRM-MA).

* As opiniões, comentários e abordagens incluidas nos artigos publicados nesta seção são de inteira responsabilidade de seus autores e não expressam, necessariamente, o entendimento do Conselho Federal de Medicina (CFM).


 * Os textos para esta seção devem ser enviados para o e-mail imprensa@portalmedico.org.br, acompanhados de uma foto em pose formal, breve currículo do autor com seus dados de contato. Os artigos devem conter de 3000 a 5000 caracteres com espaço e título com, no máximo, 60.


* Os textos para esta seção devem ser enviados para o e-mail imprensa@portalmedico.org.br, acompanhados de uma foto em pose formal, breve currículo do autor com seus dados de contato. Os artigos devem conter de 3000 a 5000 caracteres com espaço e título com, no máximo, 60.
Discover Chronic Ink, who has partnered with Artists from Brazil to showcase amazing talents. namoro no brasil Fortune Tiger Fortune Tiger Plinko Os melhores cassinos online em melhoresportugalcasinos.com! Bonus exclusivos e avaliacoes e analises de especialistas sobre os novos e melhores cassinos online no Brasil e em Portugal!
Aviso de Privacidade
Nós usamos cookies para melhorar sua experiência de navegação no portal. Ao utilizar o Portal Médico, você concorda com a política de monitoramento de cookies. Para ter mais informações sobre como isso é feito, acesse Política de cookies. Se você concorda, clique em ACEITO.