Escrito por Marco Aurélio Smith Filgueiras*


O cérebro é o órgão mais complexo e mais poderoso do universo. É o “state of the art” de todo o processo evolutivo do planeta. Para sentirmos de maneira palpável a sua importância em relação ao Universo poderíamos dizer o seguinte:

-se alinhássemos os nossos neurônios, um após o outro, teríamos uma estrada de 180 mil Km ou seja quase uma viajem para a lua.

O impressionante também é que para realizar suas milhares de funções usa uma quantidade mínima de energia elétrica, apenas 1(um) volt.

As primeiras pesquisas dos fenômenos elétricos cerebrais foram realizadas em animais, por um pesquisador inglês, Richard Canton em 1875. Após essa descoberta os cientistas passaram a investigar nos humanos a origem dessa energia, como ela surgia e também como poderia ser captada. E descobriram que tudo era muito simples: os campos elétricos e biomagnéticos do neurônio são gerados pela despolarização, ou seja, a inversão do potencial dentro da célula que é negativo para positivo e o contrario no exterior da célula.

Quando e como isso ocorre? Isso ocorre quando a célula é ativada, ou seja, quando nosso coração bate ou quando enviamos uma ordem para mover uma parte do nosso corpo. Neste momento, a célula deixa seu estado de repouso, fazendo com que a voltagem negativa que estava no seu interior seja descarregada. A tensão provocada aproxima-se de 70 milivolts, que equivale a 5% da tensão produzida por uma pilha AAA. Origina-se então um pulso que se propaga no interior dessa célula: a isso chamamos despolarização.

Essa corrente elétrica é então levada pelo axônio até a terminação da célula e daí para as outras células. Associada a essa corrente elétrica que acaba de ser gerada há um campo magnético. Quando acionados, tanto a corrente quanto o campo magnético, “viajam” através do nosso cérebro para o sistema nervoso periférico responsável por desencadear as diferentes respostas do nosso corpo, como por exemplo, mover os dedos.

Hans Berger em 1929 encontrou uma forma de captar essa eletricidade através do escalpo diferente da que era usada até então que tinha que abrir o crânio e expor o cérebro. As pesquisas medicas sempre tiveram como corolário tornar mais fácil a vida da humanidade. A substituição de métodos dolorosos, danosos cruentos pôr métodos incruentos é um exemplo dessa tendência. Foi uma descoberta magnífica.

Não sabia ele que após descobrir a Neurofisiologia Clinica que teve inicio depois da criação da eletrencefalografia, não seria tão vilipendiado e seu método tão ultrajado, tão vulgarizado, tão violentado como nos nossos dias. A Eletrencefalografia transformou-se no nosso Brasil em comercio, com postos de vendas de material gráfico espalhados pelas milhares de cidades desse nosso imenso país. É uma vergonha.

Em alguns desses ‘postos de venda’, a pessoa que coloca os eletrodos no couro cabeludo que é chamada de técnica, realiza o exame, escolhe as folhas na tela do computador, o tipo de laudo que já está pronto (estes últimos processos é função única e exclusiva do medico), os imprime, e os envia de ônibus para o colega em outra cidade que os recebe, assina e retorna para sua origem.

Confesso que na época em que o equipamento de Eletrencefalograma (EEG) era analógico quase que cai nessa armadilha, que tinha um atenuante, o laudo era dado do próprio punho, escrevendo, e isso quem fazia era o especialista não o técnico. Com o advento do aparelho digital e com softwares até para laudos esse procedimento criminoso ficou mais fácil. O mais grave de tudo é que fabricantes de EEG com o intuito meramente lucrativo incentivam médicos a fazerem isso, se aproveitando até de alguns Congressos para realizar cursos de formação na especialidade de eletrencefalografia em ‘finais de semana’.

O medico compra o equipamento se rotula de eletrencefalografista e vai soltar laudos pelo mundo afora. Há quem pense que é o computador quem faz tudo, lê, analisa, interpreta os dados e emite o resultado da análise, só não coloca os eletrodos na cabeça do paciente que para isso tem uma técnica (mas em breve até um robô fará isso). Pura ilusão de quem assim pensa, todo o processo depende unicamente de nós, dos nossos olhos, da nossa objetividade e subjetividade, da nossa observação e principalmente do nosso cérebro.

A eletrencefalografia não pode ser tão desrespeitada, tão aviltada assim. É uma ciência, com cerca de 80 anos de existência, de estudos, pesquisas sobre o cérebro. Exige do medico um mínimo de dois anos de formação em neurologia e pelo menos um ano de treinamento em um serviço credenciado em EEG.

Finalizamos através de mais uma confissão, após 38 anos de graduado, 35 como neurologista e 34 como eletrencefalografista, ainda hoje ‘arranco meus cabelos’ diante de determinados exames, principalmente de crianças em sono. Pela razões expostas repudio aos que assim procedem, conclamo a todos que não aceitem, se oponham e denunciem os novos ‘paraquedistas da Eletrencefalografia’.

*Marco Aurélio Smith Filgueiras é conselheiro do Conselho Regional de Medicina do Estado da Paraíba (CRM-PB).


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