Escrito por Marco Antônio Becker*

O mesmo país que se considera em condições de receber uma Copa do Mundo convive com situações inusitadas, constrangedoras e perversas, como as que levam cirurgiões a recorrer a furadeira elétrica para abrir a cabeça de pacientes durante operações. O instrumento, comum na atividade de pedreiros e marceneiros, chegou a ser usado recentemente em alguns hospitais públicos do Rio de Janeiro.

À falta de equipamentos adequados nos serviços de saúde pública e também muitas vezes de medicamentos e materiais básicos como gazes e algodão, somam-se, com freqüência alarmante, instalações precárias, que dificultam o trabalho médico, deixando o profissional vulnerável, mais sujeito a erros. Ao mesmo tempo, o médico que trabalha para o SUS – a grande maioria neste país de contrastes tão grandes quanto suas dimensões -, recebe remuneração quase indecente pela nobreza de sua atividade: socorrer, curar, salvar vidas.

Como se não bastasse, o médico, o pára-choque do sistema, expressão que cunhei há alguns anos, é vítima de violência em pleno trabalho. Nos últimos tempos, as agressões físicas e verbais aos médicos peritos do INSS aumentaram assustadoramente. Em Minas Gerais, uma médica foi morta a tiros no ano passado. Aqui, no Rio Grande do Sul, os casos se sucedem de forma assustadora.

Por trás dessa obra lúgubre, marcada por pinceladas de sangue, estão gestores aboletados em gabinetes, indiferentes ao sofrimento de dezenas de milhões de pessoas, já que para eles o atendimento de saúde está assegurado com os melhores médicos e hospitais.

A União, tão ágil na liberação de verbas públicas para o Pan realizado no Rio e tão empenhada em trazer a Copa de 2014 para o Brasil, poderia resolver a crise na saúde com um gesto simples: aplicar todos os recursos da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira na saúde. Mas o atual governo, que bate sucessivos recordes de arrecadação de impostos, não dá sinais de que irá ceder, provando que a saúde pública não é sua prioridade.

Não é a do governo, mas é a nossa, a dos médicos e a de todos aqueles que trabalham na área da saúde e que realmente se preocupam em prestar um melhor atendimento à população. Por isso, a classe médica realizou o Dia de Protesto, em 21 de novembro, e vai seguir mobilizada para convencer e sensibilizar as cabeças iluminadas que detêm o poder e que estão livres, em princípio, de serem submetidas a uma cirurgia com furadeira elétrica.

 

* Marco Antônio Becker é presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio Grande do Sul (Cremers).

 

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