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Escrito por Kaique Antônio Moreno Leão de Azevedo*

 

Lançada oficialmente em 2009, a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem (PNAISH) representou um passo importante, visto que os homens sempre foram compreendidos com certa singularidade na saúde pública. A PNAISH determinou diversos eixos nos quais a ação conjunta do Estado e dos profissionais de saúde possibilitasse o entendimento integral do homem dentro da atenção básica, tornando-o foco de uma política ampliadora de caráter psicossocial. A estratégia foi incorporar esse grupo a uma discussão em que se pudesse compreender suas fragilidades dentro de um contexto no qual somente crianças, mulheres e idosos tinham atenção do sistema de saúde. Os homens se habituaram a se restringir às unidades de saúde por considerarem dispensáveis os exames de rotina, o rastreio das doenças que poderiam os acometer e até procedimentos que, de alguma forma, possam insultar sua masculinidade. Os tempos mudaram e as mulheres estão cada vez mais empoderadas; os homens já não são mais os responsáveis pelo sustento financeiro da família como antes e isso torna a realidade bem diferente de alguns anos atrás.

Essas discussões sobre gênero chegaram até a saúde pública por meio de grandes movimentos sociais e políticos e, nesse contexto, permitiram que políticas fossem ampliadas e modificadas para se adequarem a essa nova realidade. No entanto, os homens passaram a também fazer parte de um foco social no qual suas questões biológicas seriam levantadas a uma discussão de ordem nacional. A PNAISH teve como principais objetivos atraí-los aos espaços de saúde, analisar suas questões particulares, convidá-los a fazer parte do planejamento familiar e garantir um acolhimento digno, tendo seus direitos sexual e reprodutivo discutidos dentro do campo da saúde.

Na teoria, a PNAISH é uma ótima ferramenta para melhorar ainda mais o acolhimento na atenção básica, visando universalidade, equidade e integralidade, mas sua implantação dentro do sistema público falhou e caminha a passos curtos. Hoje não há qualquer investimento no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS) para preparar as unidades básicas sobre as questões dessa política. Muitos profissionais e gestores sequer a conhecem, com suas diretrizes e seus objetivos. Não há a divulgação de cartilhas nem o conhecimento da existência dela por parte dos homens. As unidades básicas não oferecem estrutura, muitas vezes, para o acolhimento correto de manejo desse público e para sua compreensão integral, e os profissionais acabam não zelando por suas preocupações, pois geralmente os homens são vistos apenas como acompanhantes dentro das unidades.

Embora haja compreensão de sua importância, a PNAISH peca quando não deixa claros os meios corretos para sua implantação. Oferece, sim, uma gama de objetivos, mas falha na instrução dos profissionais e gestores e, muitas vezes, não há sequer um material didático para distribuição à população.

Enquanto não há essa implantação coerente, os homens ficam restritos a problemas urológicos, deixando de lado os outros agravos. Há também a falta de dados sobre a quantidade de indivíduos que realizam consultas e exames, o que não facilita um melhor planejamento para tornar a política uma prioridade de saúde.

É preciso maior incentivo aos profissionais, aos gestores e aos homens. Necessita-se de investimento na adequação para as realidades locais, preparação e habilitação para o exercício das diretrizes e, principalmente, enxergar as dificuldades que fazem com que os homens deixem de ir às unidades de saúde. É preciso uma maior resolubilidade sobre os fatores que acometem a saúde masculina, deixando de lado a pretensão de tratar os homens como um grupo homogêneo que apresenta os mesmos agravos e as mesmas queixas.

 

* É graduando em medicina pela Faculdade Governador Ozanam Coelho (Fagoc) em Minas Gerais.

 

* As opiniões, comentários e abordagens incluidas nos artigos publicados nesta seção são de inteira responsabilidade de seus autores e não expressam, necessariamente, o entendimento do Conselho Federal de Medicina (CFM).

 

 * Os textos para esta seção devem ser enviados para o e-mail imprensa@portalmedico.org.br, acompanhados de uma foto em pose formal, breve currículo do autor com seus dados de contato. Os artigos devem conter de 3000 a 5000 caracteres com espaço e título com, no máximo, 60.

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