Escrito por João Hélio Rocha*

 

Em 08/12/2014, o Governo Dilma criou uma faculdade de medicina em Lavras- MG e mais outra em 11/12/2014, em Vitória da Conquista- BA, completando 66 nos seus 4 anos de mandato revela o site “www.escolasmedicas.com.br”. Agora são 246 escolas médicas, (a China tem 150; Estados Unidos 141).

Sem professores suficientes, quem vai ensinar medicina para esta multidão de alunos? O governo vai importar professores de medicina de Cuba? Quantos hospitais-escola precisarão ser construídos para treinar os futuros médicos? Não se pode ficar abrindo faculdades de medicina por aí como se abrem botequins em cada esquina penalizando os estudantes, inocentes, com formação precária e a população com assistência sem credibilidade.

Falta ao governo uma visão estratégica para o futuro da assistência médica e da Medicina porque teremos médicos insuficientemente preparados. É previsível a decadência da medicina e um grande atraso no aprendizado da ciência médica nas próximas décadas.
Médicos recém-formados, naturalmente sem adestramento técnico após a graduação, não terão coragem de ir para o interior solitários, onde terão que enfrentar situações diversificadas de patologias múltiplas sem contar com apoio. Vão preferir ficar nas grandes cidades onde o anonimato os protegerá, mesmo mal remunerados, até conseguir eficiência profissional; esta migração vai aumentar ainda mais a concentração de médicos nos grandes centros.

No Brasil, logo depois de receber o diploma, os médicos podem automaticamente exercer a profissão. Sem treinamento, assumem plantão em prontos-socorros onde trabalham muitas vezes isolados como único médico no dia e se veem à frente de casos complicados que exigem um certo grau de experiência para bem conduzi-los. Em vez de criar atabalhoadamente numerosas escolas médicas sem estrutura adequada visando apenas uma quantidade maior de formandos e deixando em segundo plano a qualidade do ensino, o governo precisa se espelhar no exemplo dos Estados Unidos quando resolveram uma situação absolutamente caótica na formação de médicos.

Em 1906, há mais de cem anos, os Estados Unidos, então com 87 milhões de habitantes e o Canadá (um domínio britânico até 1931 quando se tornou um país independente) com população de 6 milhões, tinham 160 faculdades de medicina com ensino precário, mal equipadas e com deficiências qualitativas e quantitativas no corpo docente (notem a similaridade com a situação atual em nosso país). Houve uma tomada de posição para mudar radicalmente aquela situação. A Fundação Carnegie contratou o educador Abraham Flexner com a incumbência de fazer um estudo sobre as escolas médicas.

Durante quatro anos, de 1906 a 1910, Flexner visitou cada uma das 160 escolas (todas, sem exceção) e elaborou minucioso relatório. Quase uma centena de escolas médicas — precisamente 94 — foram fechadas no período de 1910 a 1933.
Para as 66 remanescentes foram estipuladas normas de funcionamento com obrigatoriedade de serem vinculadas a uma universidade ou a hospitais de ensino previamente qualificados. Foi também estabelecido um processo de aferição da capacidade técnica do aluno após a graduação, conhecido pela designação “State Board”.

A licença para a prática médica passou a ser concedida somente após a aprovação do médico no exame de suficiência. Os Estados Unidos e o Canadá demoraram 4 anos para fazer um diagnóstico de situação. Consumiram vinte e três anos (1910 a 1933) para cumprir as metas estabelecidas. Foi operação difícil, delicada e de longa duração.

No caso brasileiro todas as deficiências no ensino médico já são conhecidas, mas não se pode fazer uma generalização tão ampla porque muitas escolas médicas são de bom padrão. Os norte-americanos agiram com coragem, decisão política, firmeza e continuidade e conseguiram transformar o seu ensino médico num modelo de reconhecida excelência. A desenfreada proliferação de faculdades de medicina vai desencadear um processo de desconstrução da Medicina brasileira que poderá levar a assistência médica a um nivelamento por baixo.

 

* É médico em Nova Friburgo há 52 anos. É também pesquisador na área da Saúde desde 1969 e autor de 8 livros sobre assistência médica no Brasil.

Referências:
1) O relatório: FLEXNER, Abraham (1910), Medical Education in the United States and Canada: A Report to the Carnegie Foundation for the Advancement of Teaching, Bulletin No. 4, New York City: The Carnegie Foundation for the Advancement of Teaching, 346 páginas
2) A autobiografia: FLEXNER, Abraham (1940), I Remember: An Autobiography (Simon & Schuster Edit., Nova York, NY)
3) NASSIF, A. C. N., Escolas médicas do Brasil – www.escolasmedicas.com.br
4) ROCHA, J. H., Fortalecimento do SUS com a participação popular, 2013 – livro editado pelo autor.
5) ROCHA, J. H., Memórias de um médico visionário, 2014 – livro editado pelo autor.
Os livros 4 & 5 podem ser solicitados pelo e-mail joaoheliorocha@gmail.com

 

     

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