Carlos Vital Tavares Corrêa Lima

A ética das virtudes, ao longo da evolução histórica e filosófica da humanidade, recebeu diversas e importantes contribuições, como a do pastor alemão Fritz Jahr que, em 1927, construiu um pensamento com características imperativas: “respeite todos os seres vivos como um fim em si mesmo e trate-os como tal, se possível”.

Em 1970, o bioquímico norte-americano Van Rensselaer Potter utilizou o neologismo “bioética” pela primeira vez. Decorridos 47 anos, a bioética se apresenta, na atualidade, como a fronteira de um novo pensamento científico. Esse maior status epistemológico vem de sua transversalidade por temas específicos e limites entre os extremos, como nascer/não nascer (aborto), morrer/não morrer (eutanásia), saúde/ doença (ética biomédica) e bem-estar/mal-estar (ética biopsicológica).

Nos tempos contemporâneos, a bioética se insere em diferentes perspectivas de análise, nos campos de dilemas provocados pelo avanço do conhecimento e pelas mudanças ocorridas nas relações sociais de um novo mundo, de extrema racionalidade, técnico e científico.

São exemplos a clonagem (ética genética), os confrontos entre jovens e velhos (ética de gerações) e as agressões ao meio ambiente (ecoética).

A bioética passou a tratar das relações humanas, da prevenção e solução de conflitos, da atenção à saúde e à vida, com ênfase à dignidade do ser humano e à sua autonomia, em um contexto de convivência das liberdades.

No âmbito da medicina, a bioética clínica – uma das áreas de aplicação desse método científico – proporciona, hoje, a oportunidade de reflexão e avaliação do melhor percurso profissional, na busca do resgate de um caráter humanista e humanitário, do crédito e respeito entre o médico e o paciente, submersos em um caldo de insumos materialistas.

Bernard Lown, um dos mais destacados cardiologistas do século XX, com base em sua experiência de ensino e assistência profissional, observou que o conceito do médico como conhecedor do homem passou ao do médico como conhecedor de uma técnica operativa sobre um órgão ou uma patologia.

De fato, a prática médica se tornou uma atividade onde o volume dos conhecimentos e a pluralidade das técnicas impuseram, com maior vigor, a exigência da especialização. Sem dúvida, a ânsia pelo saber radical pôs em risco uma acurada visão de conjunto do organismo humano e o sentido do próprio saber. Professor emérito de Harvard, em seu livro A arte perdida de curar, Lown chama a atenção para o foco desproporcional das escolas médicas no tecnicismo em detrimento da arte de ser médico. Para ele, a verdadeira “sabedoria médica” é adquirida pela capacidade de compreender um problema clínico a partir da integralidade do indivíduo.

Na procura desse elo perdido, no mister de cuidar do ser humano, de um ser em constante renovação nas relações consigo mesmo e com o meio que o cerca, de um ser em permanente vir a ser, o Conselho Federal de Medicina (CFM), com as suas normas e particularmente com o Código de Ética Médica, tenta estimular uma prática orientada por princípios fundamentais que preservem a medicina como profissão a serviço da saúde do indivíduo, da coletividade e exercida sem discriminação de nenhuma natureza.

O compartilhamento de esforços do CFM com a Sociedade Brasileira de Bioética (SBB) nas realizações, em setembro de 2015 e de 2017, respectivamente, do XI e XII Congressos Brasileiros de Bioética, bem como dos III e IV Congressos Brasileiros de Bioética Clinica, é relevante ao futuro, que precisa ser planejado e construído para ser justo.

Eventos dessa envergadura são oportunidades para o fortalecimento dos compromissos hipocráticos, em um paradigma benigno-humanitário.

Temas como justiça sanitária, mistanásia, desigualdades sociais, doenças raras e negligenciadas, entre outros trabalhos produzidos por alguns dos mais renomados bioeticistas nacionais e internacionais, foram apresentados com maturidade, sapiência e humildade, indispensáveis às melhores reflexões.

Por fim, renovaram-se as esperanças de autonomia, justiça, beneficência e equidade, princípios de base nos quais a bioética fixa residência como patrimônio universal e público da humanidade. 

Palavra do Presidente publicada na edição nº 270 do Jornal Medicina. Acesse aqui a publicação.

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