Antônio Marcio Junqueira Lisboa*

A maioria das sociedades apresenta pluralismos de sistemas e crenças, sem uma nítida separação entre eles, que se preocupam com a arte de curar. Alguns milenares, como as medicinas chinesa, indiana, egípcia, persa e grega; outros mais atuais, como alopatia, homeopatia, fitoterapia e naturopatia. Existem ainda modelos de cura de cunho popular, como o curandeirismo e os praticados por seitas religiosas.

As formas de curar mais antigas são as praticadas pelos curandeiros, cujo conhecimento deriva da sabedoria popular tradicional. Consideram as pessoas como uma unidade mente-corpo, focando em suas relações com o meio em que vivem e com as divindades. As cerimônias envolvem um grande relacionamento com os pacientes e são utilizadas pelos curandeiros para diminuir a ansiedade e o medo que cercam os processos mórbidos, liberando energias que serão canalizadas para ajudar a natureza em seu processo natural de cura. Dentro dessa categoria, atualmente estão a imposição de mãos e procedimentos utilizados por algumas igrejas e cultos, que exorcizam o demônio e solicitam o auxílio divino.

A medicina chinesa tradicional vem sendo divulgada cada vez mais em nosso país, e o número de centros que a pratica vem aumentando vertiginosamente, conservando seu sentido holístico, em que o paciente é visto em sua integralidade. Recomendam exercícios físicos e mentais (meditação e ioga) e medidas dietéticas para a promoção da saúde. A base da terapêutica está no uso de plantas medicinais, massagens e acupuntura, que apresentam bons resultados. A acupuntura, por exemplo, é utilizada largamente em tratamentos clínicos ou como anestésico nas cirurgias.

A medicina chinesa tradicional é eficiente e de baixo custo. Tive oportunidade de conhecê-la ao visitar a China, em 1976, a convite da Academia de Ciências de Pequim. Visitei comunidades onde pessoas com problemas de baixa complexidade eram atendidas pelos médicos denominados “pés-descalços”, que usavam basicamente a fitoterapia e produziam a maioria dos seus medicamentos. Tive ainda a oportunidade de visitar hospitais universitários em Cantão, Shangai e Pequim, onde assisti operações de grande porte, como cirurgias cardíacas e histerectomias com a utilização da acupuntura. Confesso que, como médico e professor, fiquei tão impressionado com o que vi na área da saúde e da educação, em 1976, que ousei prever que a China se tornaria, em breve, um dos países mais desenvolvidos do mundo. E minhas previsões se confirmaram.

A fitoterapia utiliza o efeito curativo das plantas e já é um tratamento com grande tradição popular.  Embora boa parte da academia médica ainda desconheça ou não aceite seu emprego, seu valor não pode ser negado. Quem ainda não receitou, ou usou, chá de camomila, erva doce, boldo, hortelã e tantos outros, com feitos surpreendentes? Quem ignora que um grande número de medicamentos alopáticos e homeopáticos tem princípios ativos retirados das plantas?

A homeopatia, cujo valor é até hoje negado por inúmeros médicos, foi reconhecida pela Associação Médica Brasileira como uma de suas especialidades. Isso aconteceu com razão, pois seu verdadeiro precursor foi Hipócrates, o pai da medicina, que em aproximadamente 500 a.C. foi o primeiro a enunciar a lei dos semelhantes: “A aplicação de semelhantes faz passar da doença à saúde”, base de todo tratamento homeopático. Tenho orgulho de ser o autor do parecer que levou a esse reconhecimento. A homeopatia se baseia na chamada “cura pelos semelhantes” e pela dinamização de substâncias de origem vegetal, mineral ou animal. Sua eficácia é incontestável, principalmente nos processos crônicos e nas alergias. A aceitação do conceito holístico das pessoas obriga o médico que a pratica a fazer uma anamnese detalhada, em que são levados em consideração aspectos físicos, psíquicos, emocionais, sociais, hábitos de vida e situações que agravam ou melhoram os sintomas. O grande risco da homeopatia, a meu ver, é o radicalismo de alguns de seus seguidores – o que felizmente vem diminuindo –, que tentam utilizá-la em condições de extrema gravidade, inclusive cirúrgicas. Atualmente, boa parte dos homeopatas prescreve alguns medicamentos alopáticos, como os antibióticos.

A alopatia é o método terapêutico mais utilizado na atualidade. Pouca gente sabe, mas o termo “alopatia” foi empregado pela primeira vez por Hahnemann, pai da homeopatia, para distinguir o método terapêutico que havia criado da medicina praticada à época. O modelo atual biomédico, ensinado nas escolas médicas e que advoga o uso dos medicamentos alopáticos, tem suas origens na concepção mecanicista de Descartes e Newton e peca por dividir o ser humano em corpo e mente, assim como por considerá-lo como uma máquina que permite que “suas peças” possam ser estudadas e cuidadas de forma independente. Perde-se, assim, o conceito holístico, ecológico e social da saúde. Embora sejam inegáveis os avanços conseguidos na assistência à saúde, principalmente os relacionados com a tecnologia, a população vem questionando cada vez mais esse modelo. Os descontentamentos são atribuídos a dificuldades no atendimento – filas intermináveis, espera para marcação de consulta, sobrecarga dos médicos que os obriga a reduzir o tempo da consulta, mas também por falhas ligadas ao próprio ensino médico, que não valoriza devidamente o relacionamento entre médico e paciente. Infelizmente, a medicina alopática praticada é de alto custo e coloca em plano secundário a promoção e a proteção da saúde.

Todos os métodos utilizados na arte de curar têm suas vantagens e desvantagens. Caberá ao médico indicar ou não algum tratamento e, posteriormente, avaliar o “risco do medicamento versus benefício para o paciente” na escolha do método e do medicamento a ser utilizado. A natureza é a maior mestra na arte de curar – natura medicatrix –, pois acaba com a maioria das doenças. Entretanto, as pessoas não aceitam bem quando dizemos que não há necessidade de medicamentos, ainda mais quando mandamos suspendê-los por estarem impedindo a cura.

A frustração é ainda maior quando a consulta é paga e o paciente recebe somente orientações, sem nenhuma receita. Muitos se sentem lesados por não receberem a folhinha com as prescrições. As pessoas se acostumam a receber algum remédio, ou a receita de um, sempre que vão ao médico, sendo que o médico o receita porque o paciente assim deseja e espera, e a pessoa toma o remédio porque o médico mandou. Esse círculo vicioso e a automedicação são os grandes responsáveis pelo uso abusivo de medicamentos. Já perdi inúmeros clientes por haver sido honesto, dizendo: “Não faça nada. Isso cura sozinho, se você não atrapalhar”. O medicamento é para o clínico o que o bisturi é para o cirurgião. Nenhum deles terá bons resultados se não conhecerem e gostarem das pessoas e da profissão que exercem. A confiança no médico é fundamental para o tratamento e ela nunca poderá ser subestimada.

 

* É pediatra, membro da Academia de Medicina de Brasília e da Sociedade Brasileira de Pediatria.

      

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