Herbert Marçal*

 

No Brasil, nunca as taxas de desemprego atingiram níveis tão altos, ameaçando o equilíbrio econômico, social e emocional das pessoas afetadas por ele. Grande parte da população já conhece o impacto social e econômico que o desemprego provoca. O índice de desocupação no Brasil ficou em 9,5% no trimestre fechado em janeiro de 2016, considerando os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) – seu resultado é o maior da série, iniciada em 2012. O Brasil apontou recentemente um número recorde de desempregados avaliado pela mesma pesquisa: 9,623 milhões de pessoas. A quantidade de pessoas desocupadas elevou 42,3% na comparação com o trimestre (novembro, dezembro e janeiro), e seu produto equivale a mais de 2,86 milhões de indivíduos desempregados. No mesmo período do ano passado, a taxa de desemprego medida pela PNAD contínua estava em 6,8%. A taxa no trimestre final do ano de 2015 estava em 9%.

Como produto social, o desemprego gera exclusão social. O sucateamento do indivíduo desempregado quase sempre é inevitável. Com a falta do emprego, ocorre desordem social e econômica. O indivíduo, no primeiro momento, sofre o impacto da perda e tenta resistir procurando alternativas, mas logo passa a sentir-se impotente, presumindo que perdeu o comando sobre sua vida e seu futuro, que abortou a condição de tomar suas próprias decisões. O desamparo é notório, e a fragilidade e a impotência diante desse fantasma também. Em seguida, ele se afasta do grupo em que antes se sentia estabelecido, e muitas vezes a convivência familiar se torna mais árdua. Ainda no âmbito familiar, o desemprego desorganiza a família, sendo, por conta da vulnerabilidade, as crianças as principais vítimas dessa situação. Por ser o grupo mais próximo, a família passa a ser a detentora das agressões mais diretas desse indivíduo que, nesse momento, sente-se sem perspectiva e alternativas de vida.

Devemos, no entanto, estar preparados para constatar que o desemprego tem importância para o estudo das fontes de violência, alcoolismo e criminalidade. Quanto à parte emocional e psíquica, o desemprego agrega também alterações do afeto, do humor, da memória e da atenção, com consequências às vezes graves, como episódios depressivos recorrentes que condicionam a rotina de quem sempre viveu do trabalho. Assim se vai aclarando aos nossos olhos que, mais do que um problema meramente econômico, que tem sua origem no panorama político do país, o desemprego elevado é um problema psicológico e social. Governos que elaboram discursos de ataque para a defesa, com objetivo único de mascarar o desemprego, com retóricas obscuras, dubitativas e ambíguas, com certeza sabem aonde querem chegar, têm uma malfadada consciência do assunto e lutam para formular o pensamento doutrinário segundo o qual o país é do trabalhador. No entanto, com frequência esses governantes querem esconder de si mesmos e dos outros o fato de que, na verdade, não têm nada a dizer e, tampouco, a fazer. Em outras palavras, é fundamental que a análise e a avaliação do desemprego ultrapassem a hipocrisia política e a lógica puramente econômica, envolvendo também a própria ameaça ao aparelho psíquico que dada situação acarreta sobre o desempregado.

 

* Herberth Marçal é médico perito da Justiça Federal de Belo Horizonte (MG).

 
    

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