A equiparação numérica entre mulheres e homens na medicina é um fenômeno que vem se desenhando ao longo das décadas, e a participação feminina até mesmo ultrapassa a masculina em determinadas idades. Apesar disso, a desigualdade salarial não segue o mesmo ritmo.
Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) mostram que, em 2018, médicas com idades entre 25 e 49 anos recebiam 71,8% do rendimento médio dos médicos no Brasil, mesmo superando numericamente os homens naquela faixa etária, segundo o estudo Demografia Médica do mesmo ano.
“O rendimento de mulheres não é maior que o rendimento de homens em nenhuma área de conhecimento, em nenhum país com dados disponíveis no relatório [da OCDE]. Isso indica que outros fatores, como progressão de carreira, a natureza do trabalho (ainda que dentro de um mesmo setor), tipos de contrato e vida familiar, podem ter uma influência maior na disparidade de gênero”, afirma Camila de Moraes, analista da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE).
O relatório Education at a glance reúne informações estatísticas de mais de 40 países e afirma que, apesar de as mulheres terem mais possibilidade de concluir o ensino superior, no Brasil elas têm menos chances de conseguir emprego. “Como em tudo na vida, devemos ter foco e saber para onde queremos ir. Desde os 16 anos, eu sabia que queria ser pediatra e consegui. Sou gaúcha, trabalhei em Brasília e me mudei para o Acre, que hoje é meu lugar. Desenvolvi o perfil de administradora, ocupei várias funções, implementei e chefiei serviços médicos. Mas, para conseguir atender a todas as demandas, é necessário saber delegar. Este é o segredo, delegar”, afirma a conselheira federal e diretora do Conselho Federal de Medicina (CFM), Dilza Ribeiro.
As mulheres são maioria em áreas como dermatologia, pediatria, endocrinologia, genética médica e infectologia, por exemplo, apesar de ocuparem menos cargos de liderança. Nos Conselhos de Medicina, no entanto, esse fato vem sendo redesenhado ao longo dos anos com o crescimento da presença feminina nos colegiados.
Atualmente, cerca de um quarto do sistema é composto por mulheres. E das 265 conselheiras federais e regionais, 25% ocupam cargos de diretoria e presidência. No CFM, há 15 conselheiras efetivas e suplentes eleitas para a atual gestão, sendo que três são diretoras – número superior a todas as gestões anteriores.
“É preciso ter foco e seguir o caminho traçado sem se importar com as barreiras. No CFM, somos todos iguais. Nos momentos em que concorri a cargos, seja no Conselho Regional de Medicina do Acre ou no CFM, concorri com homens em posição de igualdade”, conclui Dilza Ribeiro.