“A pandemia trouxe uma grande ruptura na rotina, na educação e na recreação das crianças. Até mesmo a queda da renda das famílias repercutiu na saúde mental dos pequenos, o que nos trouxe a essa importante discussão”. Assim foi aberta a primeira mesa do II Fórum Virtual de Pediatria do Conselho Federal de Medicina (CFM), pela secretária-geral da autarquia e membro da Câmara Técnica sobre o tema, Dilza Terezinha Ambrós Ribeiro.
Estima-se que 1 em cada 5 pessoas no mundo terá algum transtorno mental ao longo da vida. Além disso, 50% dos distúrbios mentais aparecem antes dos 14 anos e 75% antes dos 24 anos. As conclusões foram apresentadas pelo psiquiatra e psicólogo Rodrigo Bressan, que abordou os impactos no desenvolvimento cognitivo da criança e do adolescente pela pandemia de Covid-19.
Segundo ele, quase 80% das crianças e jovens que apresentam algum tipo de distúrbio ou problema de saúde mental não faz o devido acompanhamento. “O principal motivo, infelizmente, é o preconceito dos próprios pais, por falta de conhecimento sobre o assunto”, disse.
Outro estudo apresentado, desta vez pelo psiquiatra Guilherme Polanczyk, mostrou que estudantes de escolas de alto desempenho dos Estados Unidos apresentam taxas de depressão, ansiedade, quebra de regras e abuso de substâncias muito maiores que a de estudantes em situação de pobreza, por exemplo.
“A pandemia representa uma situação de estresse que contribui para o surgimento de transtornos mentais em crianças e adolescentes. As características da pandemia são muito propensas para que surjam a partir dela problemas emocionais”. Ele lembra que a pandemia muitas vezes trouxe ameaça à vida, luto, restrições a atividades lazer, educacionais e sociais, além de stress, ansiedade e depressão de pais.
Conectados – Outro problema decorrente da pandemia foi a chamada fobia social, conforme destacou Alexandrina Meleiro, psiquiatra e integrante da Comissão de Atenção à Saúde Mental do Médico da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP). Ao falar sobre o possível aumento da ansiedade, depressão e ideação suicida, ela destacou que, em idade escolar e universitária, foi observado aumento de tédio, desatenção, isolamento social, falta de capacidade para brincar fora e desfrutar de atividades extracurriculares.
Além disso, verificou-se ainda aumento do uso de mídias sociais e falta de serviços legais e preventivos para prevenir violência, abuso e danos em casa, entre outros reflexos. “Pudemos observar durante a pandemia um aumento do apego, medos, distúrbios do sono, falta de apetite, agitação, desatenção e distúrbios de separação”, disse.
E como cuidar da saúde mental da criança e do adolescente neste cenário? Para responder a esta questão, a pediatra e vice-presidente da Associação Médica Brasileira (AMB), Luciana Rodrigues Silva, destacou o importante papel das famílias.
“A família é indispensável para a estruturação da saúde mental da criança. Na família que se vai construir a independência e o ‘estar no mundo’ dos indivíduos. Por isso, é fundamental que os pais precisam estar preparados para dar a seus o melhor que tiverem em relação ao amor, o bom senso, a orientação e estímulos para que a criança possa desenvolver o seu pleno potencial”, ressaltou.
O II Fórum Virtual de Pediatria, realizado em 12 de agosto de 2022, está disponível no canal do CFM no YouTube.