Carlos Vital Tavares Corrêa Lima*
O Programa Internacional de Avaliação de Alunos (em inglês, Programme for International Student Assessment – Pisa) é uma rede mundial de avaliação de desempenho escolar cuja primeira edição aconteceu em 2000.
Considerado um dos maiores referencias internacionais para o ensino, é coordenado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) para estimular o aperfeiçoamento de processos e de políticas educacionais entre os países participantes.
A metodologia empregada prevê que, a cada três anos, alunos de 70 países participem de exames de leitura, matemática e ciências. A intenção é mensurar a qualidade do ensino oferecido a partir dos resultados obtidos, e com isso orientar a adoção de melhorias na gestão da área. Apesar de avanços registrados, o Brasil continua distante dos países que estão nos primeiros lugares desse ranking. Em 2000, quando o Pisa começou a ser aplicado, o País ficou em último lugar. Na edição mais recente, cujo resultado foi divulgado em fevereiro, ficou na 63a posição, mantendo-se no grupo com desempenhos menos consistentes.
Para o Pisa, o resultado confirma a necessidade de o País repensar, urgentemente, suas propostas para a educação. Conforme apontam os analistas, é importante alinhar metas claras de ação para permitir uma escalada rumo a uma melhor classificação.
Como contribuição, o relatório do Pisa traz aos governantes brasileiros exemplos a seguir com base no êxito alcançado por experiências internacionais. Como o Programa alerta, não se trata de fazer uma cópia do que deu certo, mas de se inspirar nas soluções adotadas para o Brasil encontrar seu próprio caminho.
Da América Latina vem a primeira referência. Mesmo despedaçada pela guerra e com grandes disparidades sociais, no último Pisa a Colômbia ultrapassou o desempenho do Brasil, assumindo o 58o lugar. Seu sucesso decorreu de duas decisões governamentais.
Por um lado, procurou-se assegurar que recursos para educação chegassem às regiões menos desenvolvidas, corrigindo-se desmandos administrativos e evitando-se a corrupção. De forma complementar, os professores passaram a contar com remuneração mais atraente e um sistema de recompensa na carreira baseado em objetivos mensuráveis.
No Canadá, enquadrado pelo Pisa entre os dez melhores classificados, o reconhecimento e a valorização dos recursos humanos se tornaram políticas de Estado. Para manter a qualidade do seu ensino, o governo canadense garante aos educadores acesso regular a cursos de aprimoramento e uma política de salários justos, que hoje ficam, em média, em R$ 20 mil por mês para os que atuam na rede pública.
Por sua vez, o Japão demonstra o impacto positivo das avaliações regulares e sistemáticas, cujos resultados ajudam a fazer um diagnóstico da situação e a redefinir políticas específicas.
Após o Pisa de 2006, quando os japoneses caíram no ranking, comparando-se sua posição na edição anterior do exame, o governo local anunciou um pacote de medidas para enfrentar as deficiências encontradas. Três anos mais tarde, a performance ideal voltou.
Em síntese: valorização profissional, mais investimentos, melhor gestão, criação de carreiras de Estado e implementação de avaliações de desempenho. Com isso, seria possível melhorar a educação brasileira, com consequentes resultados na área da saúde.
Assim, com medidas simples, o mundo mostra ao Brasil que as transformações capazes de trazer cidadania e influenciar o futuro de uma nação dependem apenas de vontade política para se tornarem realidade.
Palavra do Presidente publicada na edição nº 288 do jornal Medicina. Acesse aqui a publicação.