Rogério Wolf de Aguiar*
Quando somos atendidos por um médico, sabemos quem ele é – mesmo que, hoje em dia, com o atendimento de massa, muitas vezes não saibamos nem seu nome. Mas o que ele é?
Às vezes, projetamos no médico alguns papéis irreais. Vulneráveis, enfraquecidos por nossos sintomas, sofridos pelas nossas dores, ameaçados pelos nossos temores, quando nos sentimos doentes atribuímos a ele o poder de resolver tudo isso. É nosso desejo e de nossos familiares.
É natural que seja assim. Gostaríamos que a cura acontecesse por mágica, milagre ou qualquer coisa que atendesse a nossa vontade. O médico, com seu saber, deve assumir a incumbência para a qual foi formado, com diligência, perícia e prudência. Deve ter competência técnica. Mas não é mágico nem deus para fazer milagres. Compreendendo e aceitando suas capacidades e limites, poderá agir melhor para ajudar aqueles a quem atende, por mais que a realidade contrarie suas expectativas.
Esse é o campo da relação médico-paciente por excelência, tão importante quanto o da competência tecnológica: saber lidar com o paciente em seu momento de esperança-desesperança, biológica e psicologicamente, em seu contexto social. Esse é o médico em seu máximo potencial humano. Não há exagero algum em afirmar que sua atividade é de maior relevância social. Uma sociedade que preza a si mesma deve se empenhar fortemente para que a formação completa dos médicos seja sempre primorosa, ética e tecnicamente, e para que aqueles assim formados possam exercer suas atividades com dignidade e devidamente valorizados.
Em nosso país, os médicos muitas vezes trabalham em precárias condições, em lugares deficientes e sem acesso aos progressos da medicina. Cumprem verdadeiros atos heroicos. Mas a sociedade deve compreender que seria muito melhor atendida se precisasse menos de heróis e mais de seres humanos com boas condições de trabalho. No momento em que se celebra o Dia do Médico, é bom lembrar disso.
*É presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio Grande do Sul (Cremers).
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