Escrito por Rogério Wolf de Aguiar*
Nove em cada dez brasileiros consideram os serviços de saúde oferecidos à população péssimos, ruins ou regulares. Este é um dos dados revelados pela pesquisa Datafolha, encomendada pelo CFM, apontando ainda que a saúde, segundo os entrevistados, deveria ser a prioridade, superando de longe educação e segurança.
Realizado em agosto, o levantamento sinaliza claramente que o programa Mais Médicos nada acrescentou para melhorar a avaliação da população. Fica comprovado que “mais não é melhor”, conforme destacamos no painel colocado junto à sede do Conselho Regional de Medicina do Estado do reio Grande do Sul (Cremers) para enfatizar que nossa luta é principalmente por mais qualidade nos serviços de saúde, não apenas pela quantidade.
E qualidade é um conceito amplo. Não contempla unicamente o atendimento a pacientes, desde a primeira consulta com um médico legalmente registrado nos Conselhos de Medicina. São muito importantes o acesso fácil a um especialista e também agilidade nos processos que levam a exames e cirurgias. É fundamental que os médicos estejam amparados por esse guarda-chuva de “mais qualidade na saúde” – e isso pressupõe valorização profissional e condições dignas de trabalho.
O que os médicos gostariam de encontrar nos serviços públicos de saúde é um mínimo de estrutura, com instalações adequadas, equipe de enfermagem, equipamentos e materiais suficientes.
Acrescente-se a essa lista básica um novo componente: segurança para exercer o ofício, o que não tem havido, em consequência do crescimento vertiginoso da violência. É uma violência que não poupa nem locais em que há pessoas enfermas e gente trabalhando – muitas vezes sobrecarregadas e em condições precárias – para salvar vidas, curar e atenuar sofrimento.
Os incidentes registrados no Pronto Atendimento Cruzeiro do Sul (PACS), em Porto Alegre, recentemente, com tiroteio e ônibus incendiado próximo à unidade, levaram pânico aos pacientes e aos trabalhadores do local (no final do ano passado, ocorreu até um assassinato). É impossível trabalhar num ambiente de medo e insegurança. Por isso, o Cremers, depois de longa reunião com o corpo clínico e de nova vistoria, encaminhou aos órgãos competentes sugestões para melhorar o sistema de segurança interno e externo do PACS.
Estaremos atentos, monitorando a situação no PACS para conferir se as providências propostas foram efetuadas. As ações de fiscalização do Cremers se estenderão também aos demais postos de emergência e pronto atendimentos, já que a insegurança também os atinge.
Nas questões da saúde e do trabalho médico tem sido assim: as entidades médicas sempre vigilantes, trabalhando duro, de forma insistente, mas sem o poder dos gestores públicos para tomar decisões que venham ao encontro dos interesses maiores da sociedade. Por essa razão, protestamos e nos rebelamos diante de ações que afetam a saúde pública, como esse corte de R$ 3,8 bilhões proposto pelo governo federal para o orçamento de 2016. O financiamento, que já é insuficiente, causando fechamento de hospitais e redução de leitos, tornará a situação ainda mais crítica, penalizando a população, em especial a mais carente.
O fato é que os Conselhos de Medicina e as demais entidades médicas estão mobilizados e atentos em defesa da melhor prática médica e da preservação de conquistas históricas, como o diploma com a inscrição “médico”, não o esdrúxulo e inexplicável termo “bacharel em medicina”, uma agressão inaceitável aos médicos. Felizmente, isso está sendo varrido pelo Congresso graças à união da categoria médica e aos estudantes de medicina.
Outra luta que demanda muita mobilização e atuação política é a implantação de uma carreira de Estado para os médicos em âmbito federal. Estamos conseguindo avanços com o apoio de lideranças políticas realmente interessadas em interiorizar e qualificar a assistência no país, para que um dia as pesquisas apresentem um resultado oposto a esse que escancara a insatisfação da população com a saúde pública brasileira.
* É presidente do Cremers.
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