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Escrito por Flávia Oliveira*

 

Saúde no Brasil preocupa tanto os que dependem SUS quanto quem já não sabe até quando contará com planos privados

Uma semana atrás, o Conselho Federal de Medicina (CFM) tornou pública pesquisa do Instituto Datafolha na qual 2.418 brasileiros analisam a saúde no país. A consulta ratificou velhas suspeitas e apresentou nova percepção, até aqui, pouco explorada. De antiga, havia a classificação predominantemente negativa dos serviços. Seis em cada dez (60%) deram à saúde no Brasil notas de zero a quatro; o SUS foi mal avaliado por 54%. No extremo oposto, o setor público recebeu conceitos de oito a dez de 13% dos entrevistados; a saúde como um todo, de 7%. As avaliações positivas não chegam a empolgar, já que seguem muito aquém das faixas ruim e péssima. Mas impossível não notar que é a área pública, não a privada, que melhora a imagem. O SUS levou 46% de notas acima de cinco; a saúde em geral, 39%. É crise que não livra ninguém.

As seguidas punições a planos particulares pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) são evidência de que os problemas não se restringem ao SUS. De 2012 para cá, o órgão regulador já promoveu dez ciclos de monitoramento a operadoras, com suspensão de vendas de quase mil planos. A última rodada, de março a junho passados, levou em conta 13.009 queixas de usuários. Como resultado, 123 planos de 28 empresas tiveram a comercialização proibidas. Descumpriram prazos de atendimento e negaram indevidamente coberturas a clientes.

Nesse ponto, os setores público e privado se aproximam. No SUS, 47% dos pacientes aguardam de um a seis meses por serviços, como marcação de consultas e exames; 29% esperam mais de seis meses. Segundo o Datafolha, brasileiros que usam o SUS estão insatisfeitos com o acesso a cirurgias (33% classificam como muito difícil); procedimentos específicos (23%); e atendimento em casa (21%). Por outro lado, aprovam ações como distribuição de remédios (57% consideram o acesso fácil ou muito fácil); atendimento nos postos de saúde (50%); e exames de laboratório (47%).

Das reclamações de usuários privados à ANS, mais de um terço (36,2%) se referia à desobediência aos prazos máximos de assistência. Em ambos os segmentos, faltam pessoal e equipamentos, sobram gestão inadequada, planejamento mal feito e interferências indesejadas.
A pesquisa do Datafolha para o Conselho Federal de Medicina, feita no início de junho, içou a saúde ao topo dos interesses dos brasileiros. O setor é tido como o mais importante dos problemas, com 87% de citações. Educação e segurança aparecem com 84% e 79%, respectivamente. Para 57% dos entrevistados, a saúde deve ser a área prioritária para o governo federal.

O tema ocupa corações e mentes dos que dependem dos serviços públicos e de quem já não sabe se poderá contar para sempre com planos de saúde. Uma em cada cinco pessoas (22%) na fila de espera do SUS diz ter cobertura privada. A preocupar esse grupo, que beira 50 milhões de habitantes, estão o valor das mensalidades, os preços que avançam à medida que o cliente envelhece, a deficiência dos serviços.

Em 2013, a população brasileira marchou pelas ruas reivindicando quantidade e qualidade na saúde, na educação e nos transportes. Foi talvez o primeiro sinal de que até a classe média, historicamente atendida pela saúde privada, está disposta a buscar o SUS, pelo qual também paga, via impostos. Há no ar certo cansaço pela dupla cobrança. É informação para lá de relevante em ano de eleição.

 

* É colunista do jornal O Globo.

 

Publicado no veículo fluminense em 27/08/2014.

 

     

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