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Escrito por Luiz Antonio Negrão Dias*
 
 
Nunca é demais trocar informação sobre o câncer, uma doença que impacta fortemente nossa sociedade. Trata-se de uma doença bastante complexa, até porque ela foi ligada, durante muito tempo, à morte. E não é por menos: há 50 anos, a taxa de mortalidade era de aproximadamente 75%, tornando a doença bastante estigmatizada. No entanto, hoje, as taxas de cura ultrapassam os 55%. Precisamos transformar o estigma e focar a questão de prevenção e cura, visto que o câncer deve se tornar a principal causa de morte no Brasil e no mundo em 2025. Panorama muito diferente daquele de 1970, por exemplo, quando a doença era a quinta causa de morte na população.
 
Atualmente, a estimativa é de 8 milhões de pessoas com diagnóstico de câncer no mundo, sendo que 45% delas vão morrer, gerando um impacto econômico que beira US$ 1 trilhão. Imaginem os números daqui 11 anos, quando serão 24 milhões de pessoas com a doença. Tudo é reflexo da forma como a população está vivendo. Se olharmos a zona rural, a taxa de incidência de câncer é de aproximadamente 80 casos para cada 100 mil pessoas. Já na zona urbana, esse índice chega a 500 casos por 100 mil. Essa migração para as cidades, que ocorreu fortemente nos últimos 70 anos no Brasil, mudou o estilo de vida e refletiu nas estatísticas das doenças, assim como na mortalidade da população.
 
Considerando o fator genético responsável por até 30% dos casos de câncer, são as questões ambientais que mais influenciam o surgimento e o crescimento dos índices da doença. O tabagismo está no topo da lista dos males, desencadeando 35% dos casos de câncer. O dado positivo nesse contexto é que, no Brasil, os índices de fumantes caíram de 35% para 14% – o que trará certa redução nos casos de câncer no grupo de ex-fumantes.
 
A alimentação é outro fator preocupante. O prato de arroz, feijão, bife e salada deu lugar ao fast food, aos alimentos repletos de gordura animal e elementos carcinogênicos, que favorecem o surgimento do câncer. São corantes, aromatizantes, hormônios e agrotóxicos – substâncias cada vez mais presentes em tudo que ingerimos. Estamos vivendo uma epidemia de câncer de próstata em homem e de câncer de intestino e mama em mulheres, tumores intrinsecamente relacionados à questão hormonal, o que nos faz pensar de onde vem a carne que consumimos.
 
Se por um lado o contato com agentes causadores de câncer aumentou, por outro, os tratamentos evoluíram, com menor toxicidade e agressão ao corpo do paciente. Tivemos uma evolução espetacular em todas as modalidades de tratamentos para câncer nos últimos 15 anos, que são cirurgia, radioterapia e quimioterapia. Um exemplo é a cirurgia minimamente invasiva, que permite a remoção apenas dos tumores em si, com preservação dos tecidos normais ao redor, o que resulta menor mutilação.
 
A própria quimioterapia evoluiu muito na questão de drogas. Nos últimos dez anos, observamos uma avalanche de quase 80 novas drogas para serem utilizadas, combinadas entre si, em forma de coquetéis, no tratamento dos pacientes. Dessas, chamam atenção as terapias-alvo moleculares, direcionadas para atuar dentro do tumor e não nas células normais. Isso fez com que a quimioterapia deixasse de ser um tabu. O mesmo acontece com a radioterapia. Hoje, há exames que identificam o tumor de maneira muito mais precisa, possibilitando a realização de uma radioterapia mais focada, menos agressiva.
 
Mas, acima disso tudo, o que é preciso deixar claro é que as chances de cura são grandes quando o câncer é diagnosticado precocemente. Daí a necessidade de investir na prevenção. Um exemplo: quando uma mulher detecta um nódulo de mama cancerígeno pequeno, entre 5 e 6 milímetros, a chance de cura chega a 90%; no entanto, se esse nódulo tem entre 4 e 6 centímetros, ela provavelmente vai perder a mama e fazer quimio e radioterapia, com taxa de cura inferior a 40%. A estratégia para tentar minimizar o cenário futuro é prevenir.
 
 
* É oncologista e presidente do Conselho de Administração do Hospital Erasto Gaertner, de Curitiba.

 
    

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